‘Há extermíno’, diz secretário sobre mortes de moradores de rua em GO

Força-tarefa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos vem a Goiânia.
Capital registrou 27 assassinatos de moradores de rua em oito meses.

Por: Gabriela Lima

Uma força-tarefa da Secretaria Nacional de Direitos Humanos esteve em Goiânia no sábado (6) para verificar a escalada de violência envolvendo moradores de rua. Nos últimos oito meses, 27 pessoas em situação de rua foram assassinadas na Região Metropolitana. Para o secretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Gabriel Rocha, “há um movimento de extermínio dessa população” na capital de Goiás.

“Se há grupo de extermínio, nós vamos averiguar. O que temos até agora são indícios de um movimento, organizado e seletivo, direcionado a essa população. É inadmissível isso continuar acontecendo em Goiânia”, disse Biel Rocha, como prefere ser chamado, em entrevista ao G1.

Além do secretário, mais cinco coordenadores de ações de Direitos Humanos viajaram de Brasília para Goiâniax na manhã de sábado (6), por determinação da ministra Maria do Rosário Nunes, após o duplo homicídio ocorrido na madrugada do mesmo dia. Um homem e um garoto de 11 anos foram espancados a pauladas até morte, sob uma marquise no Setor Rodoviário.

Para a Polícia Civil, a onda de assassinatos está ligada principalmente às brigas entre os próprios moradores de rua e à questão das drogas. Mas o secretário faz uma avaliação divergente. Segundo ele, um censo feito pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) com 600 moradores de rua na cidade aponta que apenas 30% deles relataram o uso de entorpecentes.

“O problema de fundo não é a questão da droga, e sim a situação de vulnerabilidade desse cidadão que o estado deveria proteger com políticas públicas”, alega.

Alerta
Entre os integrantes da comitiva que veio a Goiânia está a coordenadora geral do Conselho de Defesa dos Direitos Humanos, Tássia Rabelo. Ela tem visto de perto a onda de violência em Goiás desde agosto do ano passado, quando foi acionada para acompanhar dois homicídios de grande comoção entre os goianienses: do advogado David Sebba e o cronista esportivo Valério Luiz. Em ambos os casos há policiais militares apontados como suspeitos de envolvimento no crime.

Tássia falou ao G1 após deixar a Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH), onde verificou que mais de 50% dos inquéritos foram remetidos à Justiça, ou seja, tiveram o autor do crime identificado. Mas apesar da relativa satisfação com as apurações das mortes de moradores de rua, a coordenadora saiu de lá com outra preocupação.

“O aumento do número de homicídios em geral é histórico. Neste ano são basicamente dois assassinatos por dia. É um fato muito preocupante e que demanda ações mais efetivas”, alertou. O G1 tentou contato com o delegado de Homicídios, mas ele não se encontrava na especializada.

Segundo a coordenadora, as entidades envolvidas na questão dos moradores de rua vão marcar uma audiência pública para debater a escalada de violência. O objetivo é traçar uma estratégia para mudar a situação na capital.

Centro de referência
Durante todo o dia, a comitiva se reuniu com representantes de entidades da sociedade civil, do Ministério Público Estadual, da Prefeitura de Goiânia e da Polícia Civil. Entre as medidas emergenciais a serem adotadas está a inauguração do Centro de Referência de Direitos Humanos, marcada para o próximo dia 15, que vai funcionar junto à Casa da Juventude (Caju), no Setor Universitário. Segundo Biel Rocha, o local prestará atendimento jurídico, psicológico e de acolhimento a pessoas em situação de vulnerabilidade.

A médio prazo, a força-tarefa estudará a implantação de serviço de proteção às testemunhas em situação de rua e aos militantes dos direitos humanos que se sentirem ameaçados no estado.

À noite, o grupo se dividiu em dois e, apoiados por equipes especializada em abordagem social da Semas, saiu pelas ruas da cidade para colher depoimentos dos sem-teto. A imprensa não foi autorizada a acompanhar o trabalho.

Parte da missão voltou para Brasília por volta das 22h30. Segundo o secretário, alguns integrantes vão permanecer na cidade para acompanhar o andamento dos casos mais recentes.

Série de mortes
A sequência de mortes envolvendo moradores de rua em Goiânia começou no dia 12 de agosto do ano passando, quando um jovem de 22 anos foi morto com três tiros, na esquina da Avenida Independência com a Rua 68, no Centro. Usuário de drogas, ele teria sido morto por um soldado da Polícia Militar, que foi preso.

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Com o caso deste sábado, a capital soma 26 pessoas sem-teto mortas mortas. Há ainda um registro em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana.

Desde o início da escalada de violência, a Polícia Civil descarta a possibilidade dos crimes estarem relacionados. No entanto, em duas execussões, câmeras de segurança filmaram o momento em que um homem, aparentemente o mesmo, atira e mata pessoas que dormiam em calçadas da capital. O suspeito ainda não foi identificado.

Quando o elevado número de mortes de pessoas em situação de rua chamou a atenção da população, a polícia prometeu intensificar as ações para coibir os assassinatos. Entre as medidas adotadas estavam uma força-tarefa para a resolução dos crimes, o mapeamento dos locais onde eles ocorreram e o monitoramento das áreas com maior incidência. No entanto, o número de assassintos aumenta continua aumentando.

 

 Fonte: G1 

 

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