Haiti – Por Maurício Pestana

O Haiti é mais uma vez vítima da natureza. Se em 2010 um terremoto destruiu grande parte da capital Porto Príncipe e deixou mais de 200 mil mortos, na última quarta-feira o furacão Matthew passou pelo país e o resultado é um cenário de devastação: casas destruídas e sem teto, árvores derrubadas, cidades ilhadas por alagamentos e lama dos rios tomando as ruas.

O número de mortos já ultrapassa mil pessoas e a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que existem mais 1,4 milhão com necessidade de ajuda humanitária. Com os efeitos do desastre cada vez mais evidentes, vários países do mundo estão enviando ajuda aos afetados, inclusive a Venezuela, que doou cargas de alimentos mesmo enfrentando uma crise interna de desabastecimento.

O Brasil atua no Haiti desde 2004, comandando a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti – MINUSTAH, e deslocou mais de 600 militares para o sul do país, a zona mais afetada pelo furacão. Apesar das críticas que recebe por não ter um plano de saída do país, a missão de paz atraiu a atenção dos haitianos para o Brasil. Ao olharem a liderança brasileira na ação militar, os haitianos também enxergaram a possibilidade de reconstruir seu futuro em outro lugar.

Só no ano passado, o governo federal concedeu o visto de residência permanente a mais de 43 mil haitianos, oferecendo a esses imigrantes a chance de serem inseridos no mercado formal de trabalho e acesso a serviços públicos, como saúde e educação. Mas não é fácil para eles estarem aqui, pois além das barreiras culturais e do idioma, ainda enfrentam os obstáculos impostos pelo racismo e pela xenofobia.

Após a passagem do furacão Matthew, 80% das colheitas do sul do Haiti foram perdidas, o que deve gerar uma nova onda de emigração. Por isso, antes da crueldade tomar conta e fatores como cor da pele e local de origem se tornarem motivo de ódio, devemos nos preparar para acolher aqueles em busca de um novo lar.

 

 

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