Hoje na História, 1925 nascia Mãe Stella de Oxóssi

Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, Odé Kayodê, nasceu no dia 2 de maio de 1925, em Salvador,Bahia. É a quarta filha de Esmeraldo Antigno dos Santos e Thomázia de Azevedo Santos. Seus irmãos, por ordem de nascimento são: Coryntha de Azevedo Santos (falecida), Bellanizia de Azevedo Santos (falecida), José de Azevedo Santos, Milta de Azevedo Santos e Adriano de Azevedo Santos.

Sua avó materna foi Theodora Cruz Fernandes, filha de Maria Konigbagbe, africana de etnia egbá[2]. Aos nove anos de idade, Maria Konigbagbe estava na aldeia quando mandaram que ela entregasse uma encomenda em um navio, assim que chegou foi presa e trazida para o Brasil.

Sua tia, Dona Arcanja, também conhecida como Dona Menininha, tinha o posto de arobá no Gantois e de Sobalojú[3] no Opô Afonjá nos tempos de Mãe Aninha, de quem era afilhada. Por volta dos treze anos de idade, Mãe Stella apresentou um comportamento não esperado, o que fez com que Dona Arcanja procura-se ajuda do oluô Pai Cosme de Oxum, o qual declarou que ela deveria ser iniciada e que seu caminho era de iyalorixá. Com isso Dona Arcanja decidiu procurar Mãe Menininha do Gantois. Dona Joaninha, que era governanta da casa, foi que acompanhou Mãe Stella na consulta. Depois de esperar muito para ser atendida, uma filha do Gantois apareceu na sala e avisou que ninguém mais seria atendido naquele dia.[4] Aborrecida, Dona Joaninha seguiu para casa, e relatou o ocorrido à Dona Arcanja, que resolveu levar Mãe Stella ao Ilê Axé Opô Afonjá no dia 25 de Dezembro de 1937, quando foi apresentada à Mãe Aninha. Esta entregou Mãe Stella aos cuidados de Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora.

Mãe Stella a conta:

“Voltei para casa com a imagem de tia Aninha, imponente e misteriosa, que com um gesto meio mágico tirou uma fruta – uma maçã vermelha – de uma grande gamela que estava no altar de Xangô, e me entregou. Achei ótimo, esnobei meus irmãos, ainda mais quando me disseram: – Só você ganhou a fruta do pé do santo… Não me saía da cabeça a imagem da ossi dagã. Só falava nela e, então, fui informada de que ossi dagã era o cargo que ela ocupava no axé. Um ano depois, voltei com minha tia Arcanja, a Sobalojú do Opô Afonjá, e Joaninha, companheira de todas as horas. Tia Aninha já tinha falecido e a ossi dagã reinava como iyalorixá do Axé Opô Afonjá.”

Em 12 de setembro de 1939, aos quatorze anos, Mãe Stella foi iniciada por Mãe Senhora e recebeu orukó (nome) de Odé Kayodê. Mãe Stella conta que quando foi realizada sua iniciação, ela “não pensava em nada”, “não tinha noção” do que estava acontecendo:

“É interessante o desígnio, a força dos orixás. Meu caminho era ser iyalorixá. Se tivesse ficado no Gantois, casa que guarda os santos de minha avó e meus tios, não poderia realizar meu caminho. Só em 1976, quando fui escolhida lá, entendi isso… é engraçado a força do odu, do destino. Era uma guerra de orixás. Minha herança era de Iansã – minha avó Theodora –, mas Odé me queria.”

Lizete Fernandes Copque, prima, companheira de infância de Mãe Stella e iniciada no Gantois para Iansã, relembra:

“Vi Stella voltar para casa de cabeça raspada, com 14 anos. De vez em quando ela caçava; mandava que eu e meus irmãos sentássemos e caçava, dançando; era igual ao que se vê hoje no barracão.”

Mãe Stella estudou no colégio Nossa Senhora Auxiliadora, dirigido pela professora D. Anfrísia Santiago. Formou-se pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública, exercendo a função de Visitadora Sanitária por mais de trinta anos.

Em 29 de junho de 1964, foi designada ‘ Kolabá[5] por Mãe Senhora. Filha dileta de sua mãe-de-santo, pouco a pouco foi aprendendo os grandes mistérios e segredos do candomblé. Ainda em vida de Mãe Senhora fizera exercer a função de mãe de uma iaô – Celenita – que era filha de Ogum.

Em 19 de março de 1976, foi escolhida para ser a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, conforme consta no livro de atas do conselho religioso do próprio terreiro, a seguir:

Transcrição da ata registrada no dia 19 de março de 1976 do livro de Atas do Conselho Religioso:

Mae-Stella-31

Aos dezenove dias do mês de março de 1976 (hum mil novecentos e setenta e seis), presentes 136 pessoas, todas com suas assinaturas gravadas no livro de Atas do Conselho Religioso deste Axé, às 10 horas e 45 minutos, no Barracão, eu, Fernando José Pacheco Vasquez, Secretário da Sociedade Civil (Obá Xorun), dirigi-me a todos os presentes, solicitando que se aproximassem da mesa onde seria realizado o jogo para a escolha da futura Iyalorixá, uma vez que antes do jogo ser iniciado, o professor Agenor Miranda, Babalaô, considerado o único Oluô no Brasil, filho espiritual da falecida Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), irmão da também falecida Ondina Valéria Pimentel, vindo do Rio de Janeiro exclusivamente para esta cerimônia, irá fazer uma dissertação do que acontecerá em seguida. Com a segurança que lhe é peculiar, e a franqueza de sempre, ele se dirigiu aos presentes nos seguintes termos: “Não estou aqui para ser agradável a quem quer que seja, sei que muitos dos presentes já fizeram sua escolha, porém eu estou aqui para cumprir a determinação de Xangô, e advirto a todos os filhos e filhas, Obás e Ogãs, e a todos vinculados a este Axé, que vontade de Xangô é Lei, é sagrada, e sua escolha, sobre quem quer que caia, terá de ser por todos acatada e respeitada, e a filha deste Axé que for por ele escolhida não deverá se deixar levar pelo coração, e deverá, sim, agir com justiça e sabedoria, promovendo a união de todos, e acima de tudo ter pulso forte para manter a hierarquia, doa em quem doer”. A hierarquia, ele repetia que tinha de ser mantida acima de tudo. Sentou-se em seguida para dar início ao jogo. Ao seu lado direito estava sentada Eutrópia de Castro (Iyakêkêrê), aos eu lado esquerdo o Assobá Deoscóredes dos Santos, e em volta destes, representações do Engenho Velho, Gantois, Bate-Folha, e de diversas outras Casas da Bahia e do Rio de Janeiro, e ainda os membros do Conselho Religioso. O Professor Agenor Miranda segurou os búzios e concentrou-se. Todos os presentes conservaram um silêncio absoluto, atentos ao professor. Ele deu início à leitura, e falou EJIONILÊ, recolheu os búzios e, após uma pausa, jogou-os novamente e falou ODI, e novamente usados os búzios falou OXÉ, em seguida OSSÁ, após nova concentração usou novamente os búzios e falou EJILASEBORÁ, apresentando Oxossi, em seguida falou ÔFUN trazendo ORUKÓ de ODÉ KAIODÊ; novamente o professor usou os búzios e voltaram OSSÁ e OXÊ, os Odus de Odé Kayodê, filha do Axé a quem Xangô escolhia e determinava ser a nova Iyalorixá. O professor Agenor se dirigiu aos presentes, dizendo que se ali, naquele momento, houvesse algum Oluô, ou pessoa que sabe ler nos búzios, que se aproximasse e viesse ler e constatar o que ali estava determinado por Xangô. Em seguida, como é de praxe, o Assobá partiu um OROBÔ e pediu a Xangô confirmação do que disseram os búzios, e por duas vezes seguidas a palavra foi confirmada com ALAFIÁ. O Professor Agenor procurou saber quem atendia pelo nome de Odé Kayodê, e Stela Azevedo se apresentou e foi notificada pelo Professor Agenor ser ela a escolhida por Xangô para dirigir os destinos do Axé. Dirigindo-se a mim, solicitou que eu notificasse em voz alta o que Xangô acabara de determinar. Comuniquei aos presentes que, por determinação e vontade de Xangô, fora escolhida a filha do Axé de nome Stela Azevedo – Odé Kayodê – Kolabá, para ser a Iyalorixá a partir daquele instante. Todos os presentes acolheram minhas palavras de pé e com uma salva de palmas. Em seguida, um a um, os filhos deste Axé de Opô Afonjá, os representantes das diversas casas ali presentes, os visitantes, todos, enfim, foram cumprimentar a nova Iyalaxé, que se curvava à vontade de Xangô, e como mais nada atinente ao assunto tivesse de ser registrado, encerrei a ata feita no livro de Atas do Conselho Religioso, assinando a mesma, em Salvador, 19 de março de 1976, eu, Fernando José Pacheco Vasquez, Secretário (Obá Xorun), o Presidente Carybé, senhor Hector Bernabó (Otun Obá Onasokun) e os diretores presentes, Mario M. Bastos, Deoscóredes Maximiliano dos Santos.

Quando Mãe Stella foi escolhida iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Dona Milta explicou que não conseguia aceitar o peso da responsabilidade que caía sobre os ombros da irmã:

“Corri para dona Menininha do Gantois, implorando que ela desse um jeito, mas ela, Mãe Menininha, disse: ‘Isso não é comigo, isso é com os orixás, eles sabem que Stella tem força, eles a conhecem. Vi que era um poder maior e lembrei de Camões, ‘Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta…’ Vi que não podia fazer nada.”

Em 1981, Mãe Stella visitou templos e casas de orixás em Oshogbo na Nigéria. Ela cumprimentava as pessoas, era recebida por todos e, uma vez, ao entoar um canto para Oxum, à sua voz incorporaram-se outras. Houve total entendimento e todos se emocionaram. O mesmo se deu nas cidades de Ile-Ifé e Ede. Apesar das barreiras linguísticas, fez amigos e foi homenageada. Em 1983 o professor Wande Abimbola, à época reitor da Universidade de Ile-Ifé, fez questão de realizar em Salvador, na Bahia, a II Conferência da Tradição dos Orixá e Cultura, porque sabia haver em Salvador raízes profundas da cultura yoruba.

O primeiro pronunciamento público de Mãe Stella foi na II Conferência Mundial de Tradição dos Orixá e Cultura, de 17 a 23 de Julho de 1983, em Salvador, quando lançou ideias originais sobre o sincretismo. Ela também participou da III Conferência Mundial de Tradição dos Orixás e Cultura, em 1986, em Nova Iorque, EUA.

Em 1987, Mãe Stella integrou a comitiva organizada por Pierre Verger para a comemoração da Semana Brasileira na República do Benin, na África. Sua presença mereceu destaque e ela foi recebida com honras de líder religiosa.

Em 1999, Mãe Stella conseguiu o tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão ligado ao Ministério da Cultura.

 

 

Fonte: Wikipédia

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