Seja afro-descendente ou não, qualquer brasileiro que goste de quadrinhos tem interesse em saber sobre as HQs africanas. Falar sobre os quadrinhos do continente negro como um todo seria impossível pela sua extensão geográfica e as culturas multifacetadas que existem. Mas é preciso começar por um ponto de partida.
Na Namíbia, uma história em quadrinhos que ajuda alunos e professores a descobrirem o mundo digital e suas várias possibilidades profissionais Suka Epoque: Revista Congolesa mostra histórias de conflitos familiares
Todos nós conhecemos as HQs que tem como cenário a África, mas não sabemos quase nada do que se publica por lá. O continente é composto por 52 países – de etnias, culturas e religiões diversas -, e na maioria das vezes, as informações e imagens dos quadrinhos nos chegam através do exótico, da informação estereotipada e preconceituosa, seja do ponto de vista europeu, americano, asiático e até mesmo brasileiro. Nas histórias de aventuras de HQ, a África é mostrada como um lugar misterioso, sem fronteiras definidas, onírico, mítico, legendário, romântico, mas também paupérrimo, primitivo e sem cultura.
O uso de imagens sequenciais gravadas também está presente na antiguidade africana através do registro feito pelos caçadores que expunham os seus feitos nos muros de suas casas com desenhos de animais abatidos. Em algumas culturas negras, o trono dos reis, os templos e locais sagrados eram decorados com figuras e desenhos que contavam em imagens as sucessivas façanhas e histórias de sua gente. Sem falar do Egito, com uma história de 3200 anos e a Tunísia, cuja antiga capital Cartago, foi fundada pelos fenícios em 814 a.C. Ambos o berço das imagens sequenciais.
Produção em alta, custo baixo
Os quadrinhos africanos vão muito bem! Há desenhistas ativos em todo o continente, muitos Festivais de Histórias em Quadrinhos, revistas e álbuns sendo publicados
No Senegal, por exemplo, há um seriado de televisão muito popular baseado em um personagem de quadrinhos: Goorgoorlu; a vida de Nelson Mandela foi retratada em quadrinhos na África do Sul; muitas revistas estão usando as HQs para alertar os soldados sobre os perigos da AIDS na Etiópia. É surpreendente notar como a produção africana reflete a realidade (política) do continente.
Para se falar de coisas mais leves e alegres é preciso recorrer a subterfúgios. A famosa série Aya de Ypougon, de Marguerite Abouet, da Costa do Marfim, é uma novela gráfica, tendo como foco o amor, brigas e adultério. Mas este quadrinho tem como cenário os tranquilos anos 1970 do país, quando a guerra civil ainda estava muito longe de acontecer.
E na África, as HQs podem ser produzidas por um baixo custo, não é necessário ter diploma universitário e elas são facilmente acessíveis sob o ponto de vista de comunicação. Estes três fatores são favoráveis para um continente com uma infra-estrutura artística limitada. Existe, no entanto, um problema: os quadrinhos precisam ser distribuídos para serem lidos e, muitas vezes, não existem canais para fazer essa distribuição de forma de forma correta e, mesmo com uma melhora nesse sentido, os quadrinhos – apesar de ser um produto barato – ainda pesa no bolso dos leitores africanos.
Goorgoorlou, de T.T Fons: muitos habitantes dos lugares mais pobres do Senegal se identificam com o personagem
Novela da Costa do Marfim com foco nas relações amorosas que ainda cultiva o clima de paz dos anos 1970, antes da guerra civil no país
Quadrinhos que visam prevenir a população sobre a AIDS também são constantes nos trabalhos africanos
Fonte: Revista Raça
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