Composto exclusivamente por mulheres e desde 2005 desfilando pelas ruas de São Paulo, bloco afro-brasileiro homenageia o centenário da escritora Maria Carolina de Jesus
Por Guilherme Franco Do Spresso Sp
Desde 2004 um grupo de arte e cultura negra vem se estabelecendo no meio cultural paulistano. Sob a coordenação de Beth Beli, pesquisadora de manifestações das culturas de matrizes africanas e afro-brasileiras, o Ilú Obá De Min é um coletivo de tambores e corpo de baile com a participação exclusiva de mulheres, que hoje já conta com várias participantes.
O coletivo não nasceu dentro de um terreiro (como os afoxés) porém trabalha com fundamento nas questões do povo de santo e no culto aos orixás, deuses africanos. São trazidos para região urbana a dança e os cantos dos terreiros do candomblé e de diversas manifestações da cultura negra como o maracatu, batuque, coco, jongo, entre outras. Todos esses elementos são celebrados no período carnavalesco, quando o bloco sai às ruas celebrando a cultura afro-brasileira e destacando a participação das mulheres no mundo.
Confira o guia do Carnaval de rua 2015, com o calendário, agenda, personagens e muitas histórias dos blocos paulistanos que fazem parte da festa mais popular do Brasil!
Em 2014, o Ilú Obá De Min realizou o seu 10º cortejo pelas ruas do centro da cidade de São Paulo com o tema é “Nega Duda e o samba de Roda do Recôncavo Baiano – Patrimônio Imaterial da Humanidade.” Neste ano, a homenageada será a escritora Carolina Maria de Jesus.
“A partir do momento que eu li o livro ‘Quarto de despejo: diário de uma favelada’, tive a obrigação de contar a história dessa mulher. Queremos engrandecer o significado da Carolina Maria de Jesus”, conta a diretora e uma das fundadoras do bloco, Beth Beli.
De acordo com Beth, o objetivo do bloco é enaltecer a consciência política de Carolina. “Queremos evidenciá-la como escritora, não como catadora e moradora de favela. A ideia é destacar o papel marcante desta mulher negra na literatura brasileira. Sabemos da responsabilidade e estamos muito honradas em ter escolhido este tema”, completa a diretoria do Ilú, que também é percussionista, cantora, regente e mestra de bateria e arte educadora.
Carolina completaria cem anos em 2014. Apesar de ter estudado apenas até o segundo ano do primário, descrevia como ninguém o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo. Sua obra mais importante foi Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, livro lançado em 1960 com mais de 80 mil exemplares e traduzido para 13 línguas.
São esperadas mais de 20 mil pessoas no desfile deste ano e para atender melhor aos foliões o Ilú Obá De Min providenciou um trio elétrico três vezes maior, com maior potência de som. Com base no investimento, o bloco pede contribuição dos amigos e admiradores para arcar com os custos dos trios elétricos. Para ajudar, clique aqui.
A mulher como protagonista
O bloco Ilú Obá De Min é apenas um dos projetos da entidade feminina sem fins lucrativos “Ilú Obá de Mim – Educação Cultura e Arte Negra”. O objetivo da entidade é preservar e divulgar a cultura negra no Brasil mantendo diálogo cultural constante com o continente africano, além de abrir novos espaços de maneira lúdica visando o fortalecimento individual e coletivo das mulheres na sociedade.
“É um orgulho muito grande ver o crescimento do coletivo. A quantidade de mulheres que trabalha conosco dá a dimensão do reconhecimento. Estamos atingindo um público muito grande, com pessoas que moram em todas as regiões do estado e realizam ações nos bairros onde moram”, conclui.
Serviço
Nome do Bloco: Bloco Afro Ilú Obá De Min
Data: 13/02/2015 (Sexta)
Horário do percurso: Das 19:30h às 23h
Percurso: Concentração embaixo do Viaduto do Chá > São João > Libero Badaro > Viaduto do Chá > Praça Ramos > Martiniano de Carvalho > São João > Largo Paissandu