‘Inocente foi morto para vingar a morte de um PM’, diz irmã de vítima

Após execução de policial militar, sete foram assassinados na Grande SP.
Ela alega que adolescente de 16 anos foi morto injustamente por PMs.

Por: Kleber Tomaz

A assistente de compras Tamires Oliveira, de 23 anos, disse nesta terça-feira (9) que o irmão André Felipe Oliveira Lima, de 16 anos, morreu sem ter cometido qualquer crime. Ele foi morto na noite desta segunda-feira (8) por policiais militares que procuraram suspeitos pelo assassinato do soldado Helio Miguel Gomes de Barros, de 36 anos. “Um inocente foi morto para vingar a morte de um policial militar”, disse Tamires em entrevista ao G1.

O adolescente foi baleado por uma equipe da Polícia Militar em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Horas antes, o soldado tinha sido morto por disparos num posto de gasolina em Taboão da Serra. Outras seis pessoas foram executadas nas duas cidades após a morte de Barros e a polícia investiga se há ligação entre os casos.

Na versão da PM, André e um colega, que também foi morto a tiros pelos policiais, eram suspeitos de roubos na região e estavam numa moto idêntica a usada na execução de Hélio Barros. O adolescente e o amigo, que guiava a motocicleta, não teriam obedecido a ordem de parar dos policiais e atiraram neles que teriam revidado.

A irmã de André contesta essa versão da PM. “É mentira. Os PMS assassinaram o meu irmão sem ele dever. Meu irmão não matava nem uma barata. Meu irmão não trabalhava e não fazia nada. Um amigo dele veio chamá-lo aqui às 22h30 de segunda. Ele saiu de chinelo e sem documento. Quem vai roubar alguém assim? Ele não estava armado ou com revólver. Os PMs mataram meu irmão porque estavam atrás do bandido que matou o policial. Eles queriam matar quem matou o policial, mas mataram um pobre inocente”, disse a assistente.

Tamires contou que André morava com ela e mais seis irmãos numa casa com os pais em Embu das Artes. “Ele tinha parado os estudos, mas sempre foi um bom menino e nunca roubou nada. Mataram dois inocentes. O outro menino também não estava armado. Esse outro menino não lembro o nome, conhecia só de vista”, disse Tamires.

Segundo a assistente, a sua família pretende procurar um advogado para orientá-la em como pedir Justiça em relação a morte de seu irmão. “Ele foi executado pelos policiais. Pretendemos procurar Justiça porque meu irmão foi morto injustamente. Mesmo que tivesse roubando ele não tinha que ser morto. PM não tem direito de tirar vida de ninguém.”

Ela contou como a família soube da morte. “Uma menina passando lá avisou para os amigos do meu irmão e soubemos que ele havia sofrido um acidente de moto. Quando chegamos lá, ele estava morto”, lembrou. O corpo de André deverá ser sepultado no Cemitério Jesuíta, em Embu.

Sete mortes

O G1 apurou que os cinco locais onde sete pessoas foram mortas e outras seis ficaram feridas são conhecidos como pontos de tráfico de drogas. Quatro desses casos ocorreram em Taboão, e um em Embu, todos próximos um ao outro. Quatro vítimas tinham passagem pela polícia. Uma delas, José Francisco Gomes Miguel, tinha passagem por tráfico de drogas.

“Estamos investigando se existe ligação entre os seis casos. Há indícios de que pode ter havido execução em todos eles. A única coisa que sabemos é que essas sete mortes ocorreram após o assassinato do policial militar no posto. As ações foram rápidas após a morte do policial. Por isso, não descartamos nenhuma hipótese. A polícia está investigando se policiais militares teriam participado dessas outras mortes e outras possibilidades”, disse o delegado Gilson Leite Campinas, titular do 1° DP de Taboão.

A investigação requisitou as imagens das câmeras do circuito de segurança do posto onde o soldado Helio Barras foi morto para saber se elas gravaram a ação dos criminosos. Ele foi morto por cerca de seis tiros dados por dois homens não identificados numa moto. O crime ocorreu na Estrada Kizaemon Takeuti, por volta das 21h50 desta segunda.

Após a morte do policial militar no posto, policiais militares mataram os dois jovens em uma moto parecida com a que foi usada no assassinato de Barras. De acordo com a versão da Polícia Militar, a dupla não atendeu ao pedido de parada dos agentes e atirou neles. No revide, o adolescente André Lima e outro homem não identificado foram mortos pelos policiais, por volta das 22h30 desta segunda, em Embu, na Rua Babilônia.

O caso do policial morto no posto em Taboão e dos dois suspeitos mortos por policiais militares em Embu será investigado pelo DHPP por envolver agentes de segurança. Desde 2011, casos que tenham a presença de policiais que resultem em morte ou morte de suspeitos em situações de resistência são apurados pelo departamento especializado da Polícia Civil.

Já no início da madrugada desta quarta, à 0h10, duas pessoas foram atacadas quando estavam conversando em frente à casa de uma delas, na Rua Sati Nakamura, no bairro São Judas, em Taboão.
Um ajudante geral de 32 anos foi baleado sem gravidade no pé e um outro ajudante, de 47, se machucou ao tentar se proteger. Eles contaram em seus depoimentos que viram um carro Fiat Stillo cinza, com vidros escuros, se aproximar com pessoas dentro atirando sem dizer nada e depois fugiram.
Perto da 1h31 desta quarta, duas pessoas foram mortas e outras duas ficaram feridas na Rua Nicolau Gentile, em Taboão. O desempregado Fábio Julião Santos, 32, que seria irmão de um policial militar, e José Francisco Gomes Miguel, 31, foram baleados após um carro passar pelo local e atirar. Os dois sobreviventes, uma mulher de 30 anos e um homem de 27, foram feridos e estão internados. O estado de saúde deles não foi divulgado.

Depois, às 2h20, um vendedor foi morto a tiros e três pessoas ficaram feridas num ataque cometido por homens dentro de um carro, na Rua Tereza Montez Sanches, no Jardim Mitusi, também em Taboão. A vítima fatal Fernando Pereira de Melo tinha 23 anos. Neste local, a perícia da Polícia Técnico Científica apreendeu seis cápsulas de pistola .40, mesmo calibre usado por policiais militares.
Mais dois corpos foram encontrados pela PM, por volta das 2h26, na Rua João Antonio da Fonseca, no Parque Pinheiros, em Taboão. Foram identificados como sendo de Alex Sandro Pereira Meneguesso, 29, e do ajudante Ricardo Evangelista Pereira, 31.

 

 

Fonte: G1 

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