Cantor, compositor, escritor, instrumentista, ator, produtor, artista. Itamar Assumpção foi tudo isso e mais um pouco. E, para reunir e revisitar o seu legado na música brasileira e mundial, em 20 de novembro, dia da Consciência Negra, será inaugurado um museu virtual com sua obra, vida e trajetória.
Considerado um dos principais nomes da música independente e da chamada “Vanguarda Paulista”, Itamar, ao lado de Arrigo Barnabé, Premê (Premeditando o Breque), Grupo Rumo e Pracianos, lideraram o movimento que, entre os anos de 1979 e 1985, dominou a capita paulista e foi referência para a cultura popular brasileira.
Não é um site
Concebido a partir do Edital Petrobras Cultural Chamada Música em Movimento 2018, o Museu Itamar Assumpção – MU.ITA -, que neste primeiro momento será totalmente virtual, tem direção geral de sua filha Anelis Assumpção.
O MU.ITA vai contar com uma exposição permanente sobre Itamar, um acervo com mais de 2.000 itens, exposições de curta duração que contemplam artistas contemporâneos e/ou que tenham convergência de linguagem, a Sala Serena, espaço dedicado à memória de uma de sua filhas e à interseccionalidade entre pessoas que se dedicaram a produzir obras acerca das religiões de matriz africana, além de uma loja com produtos exclusivos do museu. O artista plástico Dalton Paula fará a primeira exposição de curta duração.
Com curadoria coletiva de Anelis Assumpção, Frederico Teixeira, Rosa Couto e Ana Maria Gonçalves (autora do livro Um defeito de cor) o museu fará um passeio pela memória preta de um dos maiores artistas do Brasil, intervencionada com outras memórias pretas da diáspora. O MU.ITA pretende ser a principal fonte de pesquisa sobre o Itamar e abrigará um vasto acervo com fotos, vídeos, músicas, textos, figurinos e acessórios originais, histórias, teses acadêmicas sobre sua obra, depoimentos e apresentações.
Pensa que a vida é cinema
Que passa da câmera lenta
Antes dos trinta é problema
Bom só depois dos setenta
O Museu Itamar será o primeiro do Brasil com tradução em Iorubá. “A notícia sobre o Museu Virtual Itamar Assumpção é, sem dúvida, uma das coisas mais belas a acontecer nesses tempos. Viva!!! E a ideia das traduções em língua Iorubá é fundamental e potente”, pontua o músico e pesquisador Tiganá Santana.
Aproximar a obra e vida do Itamar de sua ancestralidade africana, além de abrir essa possibilidade de diálogo com os irmãos e irmãs de África, é um dos pontos fundamentais nesta realização. Além da língua-mater nigero-congolesa, o museu também será traduzido para o alemão e o inglês.
Extra! Extra! Extraordinário!
Itamar produziu uma obra valiosa: mais de 300 músicas, 9 discos lançados em vida, centenas de poesias, além de um legado imagético incalculável. Os emblemáticos óculos, as performances teatrais, a postura independente que lhe rendeu a alcunha de ‘maldito’, os figurinos, tudo isso representou uma grande ruptura naquela época e que hoje pode se compreender como uma vertente de afrofuturismo brasileiro.
Postumamente, mais 3 discos foram lançados, um livro de textos e poesias inéditas, dois songbooks, um documentário (“Daquele Instante em Diante”) e a Caixa Preta (com toda a obra remasterizada – Selo SESC). Anelis Assumpção conta que ainda tem material inédito: “Itamar deixou alguns livros infantis escritos e gravações nunca divulgadas”. Recentemente, sua obra foi integralmente disponibilizada nas plataformas digitais.
Soma-se a esse imenso acervo, todos os registros da efeméride dos seus 70 anos, que teria completado em 2019: um palco especial na Virada Cultural 2019 de São Paulo, reprensagem de seus 2 primeiros LPs (‘Beleleu, Leleu, Eu’ e ‘Às Próprias Custas S.A.’), uma festa de aniversário no quilombo urbano Aparelha Luzia e o espetáculo cênico musical ‘Pretoperitamar – O caminho que vai dar aqui’, que ficou em cartaz no SESC Pompéia durante 5 finais de semana. Em 2020, toda a obra de Itamar é disponibilizada oficialmente em todas as plataformas digitais.
Deu bandeira dançou na poeira, dançou de bobeira, dançou na maior deu canseira sambou na poeira, tossiu na fileira dançou pra danar.
Consciência negra
A data de 20 de novembro foi escolhida para o lançamento do museu pela importância histórica deste dia dedicado à reflexão sobre a inserção da população negra na sociedade brasileira, através da simbólica data de morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros do Brasil, que lutou pela libertação do povo contra o sistema escravagista.
Neste dia do ano de 2020, amalgamando efemérides, com textos de apresentação de Alice Ruiz, Tiganá Santana, Djamila Ribeiro, Mano Brown, Gilberto Gil e Monica Ventura, o Museu Itamar Assumpção entra oficialmente no ar para deleite e pesquisa de fãs, curiosos e historiadores. “O Museu Virtual Itamar Assumpção nada mais é que o reconhecimento da grandiosidade da vida e da obra de um dos mais profundos artistas surgidos entre nós ao longo dessa história de sofrimento, luta e superação do negro na formação do Brasil. Não me toquem nessa dor. Sofrer vai ser a minha última obra, ressoam as palavras de Paulo Leminski na voz da melodia audaz de Itamar a escandir seus versos comoventes. Memória preta. Possibilidade negra de existir. Fonte cristalina de fluidos ancestrais”, enfatiza o mestre Gilberto Gil.
Para um museu virtual, lançado em tempos pandêmicos, será realizado um show ao vivo e transmitido online e gratuitamente. Anelis Assumpção está preparando uma apresentação especial para o momento. A direção do show ficará por conta de Ava Rocha, filha de outro grande ícone das artes e cultura brasileira – Glauber Rocha.
Aqui elas se encontram como filhas de malditos ao contrário, ressignificando suas próprias existências – “Itamar é um corpo vivo que habita o sangue de muitos e muitos. Cada gota, cada rio, é Itamar cantando nas montanhas e ruas. Nos alicerces de todos. De uma África de onde tudo nasceu, tudo parte e se repartiu. É a travessia. A luta. O amor. A construção. A saudade. A separação. A dor. A beleza. A resistência. A invenção. O parto. A luz. A África. O Brasil. E por fim, o mundo”, destaca Ava Rocha.
Você vai notar, olhando ao redor, que sou dos males o menor.
Eterna vanguarda
Nascido em 13 de setembro de 1949, na cidade de Tietê, interior de São Paulo, Itamar de Assumpção cresceu em Santos e migrou para Arapongas, no Paraná, num ambiente musical e candomblecista. Lá, junto com os irmãos Narciso Assumpção (falecido em 2002) e Denise Assumpção, atriz e cantora, teve contato com o teatro. Sonhou em ser jogador de futebol, chegou treinar pela Associação Portuguesa de Desportos, concluiu os estudos através da madureza do científico em 1972, com 23 anos. Estudou contabilidade, mas a arte falou mais alto. Em 1973, Itamar retornou à São Paulo para dedicar-se à música que, até hoje, é das que melhor representam o espírito livre da paulicéia.
Considerado um dos principais nomes da música independente e da chamada “Vanguarda paulista”, Itamar, ao lado de Arrigo Barnabé, Premê (Premeditando o breque), Grupo Rumo e Pracianos, lideraram o movimento que, entre os anos de 1979 e 1985, dominou a capital paulista e foi referência para a cultura popular brasileira.
Em 1975 se casou com Elizena com quem teve duas filhas: Serena e Anelis. Itamar faleceu em 2003, após anos lutando contra um câncer. Serena e Anelis seguiram a carreira do pai. Primogênita, Serena concluiu seu único disco, Ascensão, poucas semanas antes de falecer, em 2016, e seu lançamento foi feito postumamente com vários artistas participantes das obras.
Anelis, iniciou carreira cantando com pai em 1997 e o acompanhou até sua morte em 2003. Lançou com sua primeira banda Donazica dois álbuns: Composição (2001) e Filme Brasileiro (2005). E seguiu carreira solo com os discos Sou Suspeita Estou Sujeita Não sou Santa (2011), Amigos Imaginários (2014) e Taurina (2018).
SERVIÇO:
www.itamarassumpcao.com.br (vai entrar no ar no dia 20 de novembro)
Museu Virtual Itamar Assumpção: pesquisa, catalogação e acesso gratuito ao acervo
de Itamar Assumpção.
Show de lançamento: Anelis Assumpção canta Itamar, com direção de Ava Rocha.
Acesso: gratuito, pela internet no link do MU.ITA a partir das 21h no dia 20 de
novembro
Contato:
Raika Julie (21 97261-6026)
Silvana Bahia (21 98320-0287)
Email: [email protected]
Ficha técnica do Museu Itamar Assumpção
DIREÇÃO GERAL
Anelis Assumpção
CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO
Anelis Assumpção
Frederico Teixeira
JUNO
EQUIPE CURATORIAL
Anelis Assumpção
Frederico Teixeira
Ana Maria Gonçalves
Rosa Couto
TEXTO
Alice Ruiz
Djamila Ribeiro
Gilberto Gil
Mano Brown
Monica Ventura
Tiganá Santana
PESQUISA, DIGITALIZAÇÃO E TRATAMENTO DE IMAGENS
Pesquisa e Catalogação
Vanessa Costa Ribeiro
Flávia Nascimento
Ana Paula Melo
Fabio Santana Silva
Catalogação da discografia
Marina Deeh
Flavio de Abreu
Rubi Assumpção
Partituras e cifras
Maria Clara bastos
Digitalização do Acervo Itamar Assumpção
Fabio Santana
Flávia Nascimento
Ana Paula Melo
Fotografias do Acervo pessoal de Itamar Assumpção
Edouard Fraipont
CONSERVAÇÃO PREVENTIVA E ACONDICIONAMENTO
Fabio Santana Silva
Vanessa Costa Ribeiro
PROJETO GRÁFICO
JUNO
Frederico Teixeira
ilustrações e assistente gráfico
Lucas Candido
COMUNICAÇÃO
Taís Reis
Silvana Bahia
Raika Julie Moisés
Morena Mariah
TRADUÇÕES
Félix Ayoh’OMIDIRE (Iorubá)
Gil Henrique Lima Cotrim (Inglês)
Ute Hermanns (alemão)
TRADUÇÕES LIBRAS
Anne Magalhães
DESENVOLVIMENTO WEB
Daniel Coronel
INDEXAÇÃO DE DADOS
Fábio Santana
Flavia Nascimento
Ana Paula Melo
Vanessa Ribeiro
ASSESSORIA JURÍDICA
Daniela Diniz
Beth Pereira
PRODUÇÃO
Produção executiva
Priscila Melo
Produção
Fernando Sato
Rafael Ferro
Tais Reis
Marina Deeh
Allyson Amaral
Lara Fernandes
Assistente de produção
Rubi Assumpção
PATROCÍNIO
Petrobras
APOIO
Itaú Cultural
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