A revista, que se define como “o semanário da direita que se assume”, publicou na quinta-feira um texto de sete páginas. Nele, deputada negra “experimenta a responsabilidade dos africanos nos horrores da escravidão” do século 18, segundo a publicação. Imagens do perfil de Obono, com colar de ferro no pescoço, acompanha a “ficção”.
O advogado Avi Bitton acredita que o fato de o texto ser qualificado de ficção pode dificultar um processo. “Imaginem se todos os escritores que usassem o estereótipo de um personagem de determinada etnia ou religião pudessem ser processados”, declarou o jurista à RFI. “Não haveria mais arte, nem literatura. O problema é que esse texto utiliza uma realidade, uma personagem viva e que é citada com seu nome verdadeiro”, acrescentou.
Inaceitável apologia ao racismo
A classe política francesa condenou de forma unânime no sábado (29) a publicação, qualificando o artigo como “inaceitável” e com “apologia ao racismo”. O presidente francês, Emmanuel Macron, ligou para a deputada, Danièle Obono, neste sábado para expressar sua “clara reprovação a qualquer forma de racismo”, comunicou o Palácio presidencial do Eliseu à AFP.
Pouco antes, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, condenou uma “postagem infâme” no Twitter e expressou o apoio do governo à deputada Obono. A deputada denunciou um “insulto a seus ancestrais, a sua família e à república”, além de “perseguição da mídia”. Desde sexta-feira, Obono já fazia alusão a uma “merda racista em um jornaleco” no Twitter. “A extrema direita, odiosa, estúpida e cruel: enfim, um retrato de si mesma”, acrescentou a deputada.
Jean-Luc Mélenchon, líder do LFI, criticou o “assédio odioso” ao qual a parlamentar foi submetida. Segundo a revista, trata-se de “uma ficção que encenou os horrores da escravidão organizada pelos africanos no século 18”.
Tugdual Denis, editor-chefe adjunto da Valeurs actuelles, se desculpou em declarações ao canal de TV BFMTV: “Eu entendo, com a carga simbólica extremamente violenta desta imagem, que Danièle Obono tenha se comovido. Pedimos desculpas a ela a título pessoal”, disse ele, negando que a publicação fosse “racista”.
Wallerand de Saint-Just, chefe do partido da extrema-direita, o Agrupamento Nacional, condenou a publicação no Twitter, chamando-a de “absoluto mau gosto”.”O combate político não justifica esse tipo de representação humilhante e dolorosa de uma deputada eleita da República”, acrescenta.