Legislativo paulista instala comissão para investigar violências na USP

Após a retirada de três comissões parlamentares de inquérito (CPIs), propostas por partidos da base do governo de São Paulo, foi instalada hoje (2) a CPI, proposta pela oposição, que vai apurar as violações a direitos humanos e abusos cometidos dentro das universidades paulistas. A CPI da Universidade de São Paulo (USP), como ficou conhecida, foi protocolada e espera pela publicação, no Diário Oficial do Estado,que informa sobre a retirada das CPIs e indicação dos nove membros da nova comissão.

Por Elaine Patrícia Cruz, do Agência Brasil

Para o deputado estadual Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo e propositor da CPI, o acordo costurado pelos partidos para que as demais CPIs fossem retiradas da pauta e dessem lugar à CPI da USP foi inédito na Casa. “É uma tremenda responsabilidade. Tem que instalar a CPI, logo em seguida vem o recesso, mas acho que vai dar”, disse ele, e informou que os trabalhos da nova CPI devem durar até março.

Segundo ele, além das denúncias de violações na Faculdade de Medicina da USP, a CPI também vai investigar violações cometidas nas demais universidades públicas estaduais de São Paulo, podendo englobar também as particulares e federais.

“Até que enfim a Assembleia se posiciona em um caso grave no estado de São Paulo e cumpre sua prerrogativa natural de fiscalizar os atos de abusos neste caso de violações de direitos humanos, que nascem na principal universidade do país, ligada ao governo de São Paulo”, disse o deputado João Paulo Rillo, líder da bancada do PT. Segundo Rillo, a expectativa é que a CPI seja instalada rapidamente, possivelmente até quinta-feira (4). “Ela já foi protocolada. Tem que ser publicada, e aí cada partido indicará seus membros, de acordo com a proporcionalidade, e o deputado mais velho, indicado, tem a prerrogativa de convocar a primeira reunião para eleger o presidente e o vice da CPI. Depois será discutido o relator e o método de trabalho”, disse ele.

O deputado do PSDB Barros Munhoz, líder do governo na Assembleia, que fez o anúncio da retirada das três CPIs, justificou a decisão, dizendo que o assunto que será investigado por essa CPI da USP é grave. “Para desafogar os trabalhos da Casa, em um clima de cordialidade, que tem imperado na Assembleia nesses oito anos, apesar das divergências as vezes acirradas, achamos que era bom tomarmos essa medida”, disse ele.

Barros Munhoz disse ter conversado ontem (1º) com o diretor da Faculdade de Medicina e ter dito a ele que a CPI seria boa até mesmo para a faculdade. “Isso não é assunto mais que se resolva com comissões internas. É um assunto grave, que precisa de satisfação para a opinião pública, que está inconformada com isso. Vai ser bom para a própria instituição”, falou.

Convidado mais uma vez para participar de uma audiência pública que apura violações ocorridas na USP, o diretor da Faculdade de Medicina da USP, Jose Otavio Costa Auler Junior, ausentou-se novamente do evento. Por meio de ofício, enviado ao presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Adriano Diogo, o diretor justificou a ausência, alegando “compromisso inadiável, inerente ao cargo”. Mas informou que a faculdade está apurando as denúncias, proibiu o consumo e comercialização de bebidas alcoólicas na faculdade e criou um Centro de Defesa dos Direitos Humanos para os estudantes da Faculdade de Medicina.

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos realizou na tarde de hoje uma terceira audiência pública para investigar denúncias de violações ocorridas na Faculdade de Medicina da USP, que englobam estupro, racismo e homofobia, entre outros crimes. Durante a audiência, a advogada Marina Ganzarolli, que ajudou a fundar o Coletivo Feminista Dandara, da Faculdade de Direito da USP, disse que os casos de violações continuam ocorrendo nas universidades de São Paulo, e um caso mais recente, ocorrido há duas semanas, de estupro na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chegou a seu conhecimento ontem.

“Aconteceu há duas semanas, nos jogos da Unifesp. Estamos trabalhando com ela [a vítima, uma estudante do curso de Relações Internacionais da unidade de Guarulhos] para que ela faça um boletim de ocorrência e busque reparação penal para o ocorrido”, disse a advogada. Segundo ela, o abusador também é estudante da Unifesp. “Estamos trabalhando para que ele sofra algum tipo de sanção administrativa”, falou.

+ sobre o tema

Sudão criminaliza mutilação genital feminina

O Conselho Soberano, máxima autoridade do governo do Sudão,...

Não comemore que uma Globeleza foi trocada por uma mulher negra que a Globo acha bonita

1- Mulheres negras só tem visibilidade em programações como...

Nina da Hora hackeia o racismo e transforma a computação

Ainda criança, Ana Carolina da Hora pulava da cama...

O feminismo negro como perspectiva

  O movimento de mulheres negras no Brasil tem início...

para lembrar

Plataforma UNA é criada para incentivar políticas contra desigualdade de gênero

A plataforma UNA já conta com 417 iniciativas, em...

Drag queen é agredida com golpes de foice em São Gonçalo

Jovem de 19 anos estava em uma lanchonete no...

‘Nem hetero, nem homo’: como se identificam as pessoas não monossexuais?

O criador de conteúdo Nick Nagari se identifica com...

Alunos denunciam professores da FGV por declarações racistas e machistas

Diretório estudantil disse ter informado à coordenadoria sobre denúncias....
spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=