Livre e do universo

Houve um tempo em que Tradição, Família e Propriedade eram defendidos até na bala se preciso fosse. Organizações como a TFP e Liga das Senhoras Católicas impunham seu estilo de vida, onde o padrão idealizado de mulher era ser bela [branca], recatada [submissa], do lar [de casa] e burguesa.

Por Maurício Pestana via Guest Post para o Portal Geledés

Estes modelos reproduzem ideologias de dominação de gênero, raça e classe. Remonta, por exemplo, aquela mulher do século 19 que não era a negra escravizada, nem era a trabalhadora. Era a mulher [posse] do Senhor [escravocrata]. No século 20 pós- escravidão, a mulher negra trabalhadora continuou servindo como posse nas casas para serviços domésticos e, não muito raro, para iniciação ou realização de fetiches sexuais, em um novo modelo de escravização.

Esse padrão de família colonial ultrapassou o século 20 e estendeu-se por lei até bem pouco tempo atrás. É só lembrar que as últimas leis que mantinham empregadas domésticas quase como propriedades de famílias foram removidas recentemente. Ser bela, recatada e do lar é o padrão que os idealizadores e defensores da nova classe política, aquela do “voto sim pela minha família, pelo meu cachorro e pela minha amante” estão propondo retornar.

A escolha ideológica temática ajuda na manutenção de uma padronização do ser humano feminino a partir do corpo, no qual a beleza e a suavidade estão na estética, no corpo silenciado e domesticado. Um retrocesso diante das lutas pelo empoderamento e emancipação das mulheres. Lugar de mulher é em todo lugar!  Sabemos o quanto a ausência de mulheres nos níveis hierárquicos mais altos de grandes empresas e nas representações políticas tem sido prejudicial ao alargamento da democracia.

A ideia de beleza não pode ser restrita ao corpo como objeto de consumo e posse. Não pode ser a indiscrição, o recato, o silêncio. O limite não existe para um corpo e uma voz vibrante, emancipada e livre. O limite do espaço não pode ser o lar, só o universo.

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