Longe do “padrão FIFA”, jovens da periferia de 20 países se encontram no Mundial de Futebol de Rua

Longe do "padrão FIFA", jovens da periferia de 20 países se encontram no Mundial de Futebol de Rua

Dodô Calixto

Evento em SP propôs diálogo e solidariedade de atletas que vivem em situação de risco em seus países

Fim de jogo. Mas, diferente do futebol tradicional, não há apito final do juiz. É assim: no Mundial de Futebol de Rua, disputado durante o mês de julho em SP, são os atletas que decidem tempo e duração da partida.

“Para jogar o futebol de rua são três regras básicas. Primeiro, homem e mulheres jogam juntos. Segundo, não tem juiz. Terceiro – e mais importante-, são os atletas que decidem as regras e o resultado do jogo, com base na solidariedade e cooperação entre equipes”, explica o secretário mundial do evento, Fábian Ferraro.

Assista ao encontro e ao depoimento dos jovens no Largo do Batata, em Pinheiros

A partida também é dividida em três tempos. Na primeira parte, acontece uma conversa para decidir as regras. O segundo tempo é a partida em si. No último tempo a chamada “mediação”, quando os atletas discutem o que foi bom ou ruim no jogo, decidindo o resultado final da partida.

Essa maneira de jogar futebol é conhecida como “Futbol Callejero” e trabalha com jovens de periferia que vivem em situações de risco ou violência. O objetivo é incentivar o futebol como mediador de conflitos, enaltecendo o valor comunitário e social do esporte.

Por isso, o resultado poucas vezes importa.

“O fundamental é o encontro das culturas,  de religiões e idiomas. Estes jovens compartilham experiências e retornam transformados às suas comunidades. Muitas vezes, eles assumem o papel de líderes”, explica Fábian Ferraro.

A rede latino-americana Movimiento de Futbol Callejero envolve 12 países e mobiliza cerca de 100 mil crianças, adolescentes e jovens. No Brasil, a ONG Ação Educativa foi a principal colaboradora do evento.

No total, foram 20 países representados por mais de 300 jogadores. Todos ficaram hospedados em CEU’s da Prefeitura de São Paulo, onde também disputaram partidas amistosas contra times das comunidades de Paraisópolis, Heliópolis, zona sul da capital paulista, e São Mateus, na zona leste.

“Eu vim da África para jogar aqui no Brasil. E vejo que aqui como lá o futebol ajuda as pessoas a se sentirem juntas, como se fosse um único mundo, sem distinções. Não importa de onde você vem, quem você é ou o que você faz. É como se fossemos um só”, afirma Issac Donkor, atacante da delegação de Gana.

Fora FIFA

O Mundial de Rua em SP é o terceiro da história, porém, o primeiro sem o envolvimento da principal entidade do futebol mundial, a FIFA.

O caráter popular e comunitário fez com que o Mundial de Rua rompesse com a entidade em 2012. Segundo a organização do evento, os valores empregados no futebol de rua não dialogam com o “padrão FIFA”.

“A FIFA não está de acordo com a nossa proposta”, diz Rodrigo Medeiros, coordenador de mobilização do Mundial de Futebol de Rua.

Longe do "padrão FIFA", jovens da periferia de 20 países se encontram no Mundial de Futebol de Rua
Longe do “padrão FIFA”, jovens da periferia de 20 países se encontram no Mundial de Futebol de Rua

O desligamento, no entanto, fez com que dezenas de delegações não pudessem vir para SP, pois dependiam do apoio financeiro da FIFA para chegar ao Brasil. Algumas delegações, como no caso da Bolívia, tiveram dificuldades para comparecer ao evento, chegando a viajar horas e horas de ônibus.

Oito curiosidades da Copa do Mundo de Futebol de Rua

1. A equipe da Colômbia foi a campeã do torneio após enfrentar Israel na grande final.

2. Mais de 10 mil pessoas acompanharam o evento.

3. A equipe de Israel foi um dos principais destaques do torneio. Além de goleadas espetaculares, chamou atenção por uma dupla de ataque formada por duas irmãs gêmeas. Juntas, aplicaram dribles desconcertantes nos rivais.

4. A força e as seguidas goleadas da equipe de Israel causaram um certo desconforto no Mundial de Rua. Como o objetivo do torneio é a solidariedade e o diálogo entre diferentes culturas, alguns atletas chegaram a reclamar que a delegação israelense estava sendo “pouco solidária”.

Longe do “padrão FIFA”, jovens da periferia de 20 países se encontram no Mundial de Futebol de Rua

5. Assim como os profissionais da Copa do Mundo da FIFA, os colombianos dançavam a cada gol marcado.

6. Alguns países tiveram mais de uma equipe na competição. Brasil e Argentina, por exemplo, contaram com três times cada.

7. África do Sul, Alemanha, Bolívia, Brasil, Catalunha, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, EUA, Filipinas, Gana, Guatemala, Israel, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai, Argentina e Serra Leoa participaram do torneio.

8. “Para a delegação de Serra Leoa, não foi fácil a viagem para o Mundial de Futebol de Rua. Os integrantes da equipe precisaram ir até Guiné, país vizinho, para conseguirem o visto. Por isso, desembarcaram no Brasil só no dia 5, quatro dias depois das outras delegações. “Foi ruim porque perdemos muitas atividades legais de integração”, lamenta Ajara Bomah, coordenadora do programa Sierra Leone Youth Advocacy, de onde todos da equipe fazem parte”, noticiou o portal oficial do evento.

 

Fonte: Ópera Mundi

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