Lucy Ramos: “Podemos fazer personagens sem estereótipos”

Realizada com a personagem Vanda de ‘O Tempo Não Para’, atriz lembra como lidou com transformação no visual para a novela: “Precisava de uma mudança”

 POR BEATRIZ BOURROUL, da Revista Quem 

Marcello Sa Barreto/ Brazil News

Lucy Ramos, 36 anos, está na reta final das gravações de O Tempo Não Para, em que interpreta a advogada Vânia, personagem que lhe trouxe satisfação profissional e social. “Uma mulher negra no cargo de chefia jurídica de uma empresa, que tradicionalmente era ocupado por homens, mostra que independentemente da cor, do sexo, o trabalho é realizado. Interpretar a Vanda mostrou que, sim, podemos fazer personagens sem estereótipos”, afirma.

Para o papel, a atriz passou por uma transfomação no visual. “Nunca tive um cabelo curto deste jeito. Tive um estranhamento ao me olhar no espelho. Cheguei do salão e lavei em casa. O cabelo estava todo para cima. Só fui mexer 24 horas depois, mas não tive tempo para drama. Confesso que ele exigIu um processo de adaptação”, diz ela.

QUEM: O Tempo Não Para está na reta final. O que esta personagem teve de diferente para você?
LUCY RAMOS: Vanda é um presente. Todos os personagens são presentes. Desta vez, consegui fazer algo diferente. Sempre fiz personagens que tinham o apoio e a torcida do público de cara. Desta vez, não foi assim. Quando iniciei a composição dela, imaginei o que havia por trás, no passado dela. Imagino que ela tenha passado enfrentado várias questões para chegar onde está – um cargo jurídico da empresa da novela.

Teve alguma preparação específica?
É o texto mais difícil que já trabalhei. Digo isso porque falo palavras que nunca usei, não faziam parte do meu vocabulário. Além de ter a minha visão, estudei esse universo dos advogados e contei com a ajuda da Bia Szvat, diretora de teatro, e da fonoaudióloga Renata Ferrari na fase de composição. Também conheci uma advogada negra, Analu Nogueira, que hoje tem 45 anos e também enfrentou questões como a da Vanda. Ela é a Vanda. Quando tinha dúvidas, eu escrevia para ela. Fui até a casa dela, fizemos uma reunião, também fizemos ligação por imagem…

Em que sentido existe a semelhança? Foi preciso enfrentar o preconceito?
A Analu conta que quando iniciou na empresa, a chefe não olhava na cara dela. Ela só conseguiu o respeito pelo profissionalismo. A Vanda é assim. Ela é de poucas palavras, fala o necessário. As advogadas não têm tempo para conversinha. Uma mulher negra no cargo de chefia jurídica de uma empresa, que tradicionalmente era ocupado por homens, mostra que independentemente da cor, do sexo, o trabalho é realizado. Interpretar a Vanda mostrou que, sim, podemos fazer personagens sem estereótipos.

Que balanço faz do trabalho em O Tempo Não Para?
O texto dessa novela é muito diferenciado. As pessoas já assistem a uma novela pensando em se divertir e encontrar uma leveza. O texto tem leveza e faz refletir, mas é entretenimento. Os temas sociais são abordados de forma clara e certeira. Muitas vezes, a reflexão que se dá é que em 1886 era melhor que agora. A mistura da ficção com a realidade permite colocar o dedo na ferida da sociedade. Ou progrediu, ou regrediu. É muito bacana essa novela. Excelente direção, elenco, trilha…. O texto é muito rico e inteligente.

Gostou de mudar o visual para o papel?
Estava em um momento da minha vida que precisava de uma mudança. Estava com o cabelo bem comprido e cabelão cacheado leva anos para você se adaptar a ele. Depois, de ter me entendido com ele, fiquei apegada ao cabelão. Para fazer O Tempo Não Para, avaliamos que minha personagem não teria tempo para ter um visual como o que eu usava. A Vanda precisa de praticidade no dia a dia e encarei a mudança.

Lucy Ramos caracterizada como Vânia em O Tempo Não Para (Foto: João Miguel Junior/TV Globo)

Numa boa?
No dia do corte, por mais que eu estivesse convicta de que iria ficar bacana para o papel, rolou um estranhamento. Nunca tive um cabelo curto deste jeito. Tive um estranhamento ao me olhar no espelho. Cheguei do salão e lavei em casa. O cabelo estava todo para cima. Só fui mexer 24 horas depois, mas não tive tempo para drama. Confesso que ele exigIu um processo de adaptação.

Por conta da novela, você se dividiu entre São Paulo e Rio de Janeiro. Lida bem com isso?
Minha casa é em São Paulo. Com a novela, ficou na loucura. Rola uma adaptação da rotina. O Tiago [Luciano, ator e diretor com quem Lucy é casada] fica lá e cá também.

Mesmo com o ritmo de gravações acelerado e a vida na ponte-aérea, você consegue manter uma regularidade nos cuidados com o físico?
Quando estou no Rio, gosto de aproveitar para me exercitar ao ar livre também. Esporadicamente, ainda dou uma caminhada na areia da praia, ando de bike… É importante manter uma constância.

Paralelamente à novela, você pode ser vista no filme Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer, um trabalho em parceria com seu marido.
Não é um filme comercial. É um filme bem artístico e bem doído. Abordamos a depressão, que é a doença do século. Não temos que escondê-la. Quem passa por isso, quer esconder. Foi um filme de baixo orçamento. O Thiago escreveu e dirigiu e fiquei muito feliz com o retorno. As pessoas saíram impactadas. Nosso trabalho é tocar as pessoas de alguma maneira. Não só na alegria, como na reflexão.

 

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