Luiz Gama: o nosso Solomon Northup

Na História do Brasil, quando estudamos a abolição, geralmente são citados os abolicionistas brancos: Joaquim, Ruy Barbosa, Castro Alves entre outros.

Raramente é citado os abolicionistas negros. Dentre eles um dos maiores: Luiz Gama.

Lendo um pouco sobre a superprodução norte-americana lançada em 2013 intitulado “12 anos de escravidão” percebi algumas semelhanças da História de Solomon Northup, o protagonista do filme com Luiz Gama.

Os dois nasceram livres, Solomon, no entanto é vendido como escravo aos 33 anos e fica 12 anos vivendo como escravo. Luiz Gama é vendido aos 10 anos como escravo pelo próprio pai para sanar uma divida de jogo. Fica trabalhando como escravo até os 18 anos desempenhando todos os tipos de trabalhos como ele mesmo diz em sua famosa carta: “Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar.” (Carta de 25 de julho de 1880).

Solomon depois de 12 anos trabalhando como escravo consegue sua liberdade por meio de uma batalha judicial. Luiz Gama também consegue sua liberdade por meios jurídicos, porem como se deu a questão é um mistério, a hipótese mais provável é que tenha usado o depoimento do pai que ele sempre buscou esconder a identidade: “Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas neste país constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo; e pertencia a uma das principais famílias da Bahia, de origem portuguesa.

Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.” (Carta de 25 de julho de 1880). Sobre como conseguiu a sua liberdade ele relata que: “Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei-me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que, aliás, votava-me a maior estima, e fui assentar praça.”.

Já no caso de Solomon Northup o lugar e a forma em que ele morreu também é um mistério e não se sabe nenhuma informação. De qualquer forma os dois têm partes da vida obscuras. Solomon após ser libertado em 1853 deixa um livro sobre a sua vida que leva o mesmo o nome do filme. Luiz Gama nos deixou a sua famosa carta aqui citada e muitas outras obras.

Solomon ganhou como reconhecimento muitos anos depois de sua morte uma superprodução hollywoodiana. Luiz Gama ganhou o seu maior reconhecimento que com certeza buscou em toda a sua vida: ser agraciado com o titulo de advogado, em 3 de novembro neste ano pela OAB, uma vez que foi impedido de estudar Direito por ser negro e assim atuou como provisionado ou rábula.

O livro de Solomon que narra a sua História é um ode a liberdade, e é necessária a difusão dessa História, para que jamais se retirem os bens mais supremos do ser humano: a liberdade e a Justiça. Da mesma forma deve ser difundida a militância de Luiz Gama em favor da abolição e suas ações em prol dos escravos como a libertação de mais de 500 escravos relatado em sua carta: […] em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime.”, além de ajudar os pobres de qualquer raça, inclusive imigrantes europeus lesados por brasileiros.

Isso tudo é motivo mais do que suficiente para a sua História estar nos currículos do ensino de História. Minha intenção ao mostrar as semelhanças entre as duas histórias, não foi querer passar a ideia que uma História é superior a outra, apenas quis mostrar algumas semelhanças que são interessantes para analisar. As duas Histórias devem contadas e divulgadas na sala de aula, vamos mostrar aos nossos alunos que temos o nosso Solomon e que ele se chama Luiz Gama.

Fonte:http://www.tve.com.br/2015/07/nacao-saiba-mais-luiz-gama/


+ sobre o tema

Biografia do Dr. Clímaco o 1º médico negro de Londrina será lançada

Fruto de uma pesquisa acadêmica realizada por Mariana Panta,...

Personalidade Negras – Solano Trindade

Filho de pai sapateiro e mãe operária e quituteira,...

Negros Heróis: histórias que não estão no gibi

O projeto Quantos vezes você viu um negro ser representado...

Pesquisa contesta mito de Chica da Silva

O alegado apetite sexual, a promiscuidade e as crueldades...

para lembrar

Nota do Enegrescência sobre o #Elenão e outros Gol(pe)s – Memorias II

Negro correndo livre Colhendo, plantando por lá Se Palmares ainda vivesse Em...

Desafios da liberdade de expressão

No ano de 2018, a Declaração Universal dos Direitos...

A agulha do tempo novo: Um Exu em Nova York

“Um Exu em Nova York” é um pequeno tesouro...

Sérgio Camargo e a síndrome de Stephen

As razões que levaram o governo Bolsonaro a nomear...
spot_imgspot_img

Heróis negros “invisíveis”

Quando pensamos em antirracismo no Brasil é mais fácil lembrar de nomes do século 19 (como o do abolicionista Luiz Gama) ou de ícones...

“Eu sou o sonho das minhas ancestrais”: Quilombo (la) em Harvard

Sou Ana Paula, mulher negra, quilombola, Doutora em História e admitida para uma bolsa pós-doutorado no W.E.B Du Bois Research Institute em Harvard University....

Livro Um Defeito de Cor inspira enredo da Portela de 2024

A Escola de Samba Portela gosta de levar para a Passarela do Samba na Marquês de Sapucaí, na região central do Rio de Janeiro, enredos...
-+=