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Enfrentar o racismo no Brasil há algumas décadas era tarefa das mais árduas por conta da complexidade que o tema exigia. Além de denunciar a existência de algo imperceptível para pessoas de pele branca, o problema também parecia inexistente para boa parcela de negros, tornando a luta quase inglória.

Por Marister Santos via Guest Post para o Portal Geledés

Tínhamos de usar a tática da denúncia e do convencimento de que alguma coisa estava errada no país do samba, do futebol e da alegria exacerbada de um status quo que só meia dúzia de negros “recalcados”, como éramos apontados, pareciam perceber, pela nossa inexistência nas universidades, nos meios de comunicação e nos espaços de poder – públicos ou privados.

Somente quando o quesito cor passou a ser utilizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, veio à tona o retrato fiel da  face do racismo brasileiro, denunciado por décadas pelo movimento negro, apontando, por exemplo, que apenas 2% das vagas das universidades eram ocupadas por negros; que um trabalhador negro no Brasil ganhava em média a metade que seu colega branco; e que as mulheres negras estavam numa situação ainda pior. A realidade apresentada em números obrigou governos estaduais, municipais e federal a construírem políticas públicas de combate ao racismo.

Se havia uma coisa que ativistas e estudiosos do tema não tinham dúvidas é que, num curto espaço de tempo, a junção dessas políticas, impulsionando um número cada vez maior de negros para as universidades, aliado àqueles que também por esforços individuais começariam a romper barreiras e adentrar espaços que sempre foram reservados apenas aos brancos, inevitavelmente, iria proporcionar em maior ou menor dimensão um conflito, como em toda e qualquer mudança de paradigma. Porque não há mudanças sem conflitos.

O caso Maria Júlia pode ser apenas o início de uma difícil jornada que a sociedade brasileira enfrentará nos próximos anos, tendo que encarar as rápidas transformações em curso, onde a competência não será mais atributo exclusivo de parcela de uma etnia que se acha detentora dessa qualidade desde a época da escravidão, em que espaços profissionais, acadêmicos e de poder serão cada vez mais divididos democraticamente.

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