Mãos negras sofrem ataques racistas no Instagram da Risqué

Alguns dias depois da repercussão dos ataques racistas contra uma modelo negra no Instagram da marca de maquiagem MAC, mulheres brasileiras também mostraram sua face preconceituosa na mesma rede social.

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Por Silvia Nascimento, do Mundo Negro 

Em um misto de racismo explicito e disfarçado de opinião, seguidoras da marca de esmalte Risqué, destilam comentários como “A mão parece que tá (sic) suja de carvão”, “Tá horrível” “Que horror”, em fotos de mulheres negras que participam da campanha com a hashtag #RisquédaSemana, onde a marca publica no seu perfil,  fotos das suas consumidoras usando produtos da empresa.

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Além de serem menores, as críticas em relação à pintura e acabamento das mãos brancas, são construtivas e brandas.

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No meio dos comentários ofensivos a Risqué emitiu sua opinião dizendo que defende que todas as mulheres podem e devem usar a cor que quiserem nas unhas.  “Somos uma marca democrática desde sempre, valorizamos o poder das cores na vida e não compactuamos com qualquer tipo de manifestação preconceituosa” disse a marca no Instagram.

Para algumas seguidoras negras da marca, esse comentário não foi suficiente e algumas sugerem até o boicote à empresa que afirma, via sua assessoria de imprensa, que os comentários racistas foram denunciados. “Nós denunciamos o comentário no Instagram e ele sumiu horas depois de ser postado”, detalha a assessoria de imprensa da Risqué, sobre uma das fotos atacadas.

Cadê as mãos negras?

Não precisa navegar muito no Instagram da Risqué para constatar que a diversidade étnica brasileira não aparece no seu perfil. “Atualmente não recebemos muitas imagens de mãos negras. Já no conteúdo desenvolvido por Risqué, a marca sempre preza pela diversidade”, justifica a assessora de imprensa.

Colorama e Impala são outras marcas populares de esmaltes que não mostram mãos negras em seu Instagram.

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O escurecimento dos dedos próximos a região da cutícula ( aquele vemos até nos recém-nascidos negros) foi alvo de muitas críticas das “experts” em unhas da Internet. Essas mesmas “especialistas” de redes sociais, são as que acham que cabelo crespo tem um aspecto desarrumado e batom vermelho não combina com lábios grossos.

A agressão à estética negra pode ser caracterizada juridicamente como injuria racial. Ninguém é obrigado a achar as mãos negras as mais lindas, mas quem se julga um entendedor de beleza, porém ignora as especificidades étnicas de das mulheres não-brancas, acaba expondo sua ignorância, preconceito e cafonice.

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Silvia Nascimento
Silvia Nascimento é jornalista e diretora de conteúdo do site Mundo Negro. Ela foi considerada umas das negras mais influentes da Internet em 2013 pelo coletivo Blogueiras Negras. Em 2015 ganhou o prêmio EmpregueAfro de Valorização da Diversidade Étnico-Racial. O que a move é a consciência de que ela tem o poder de fazer os que seus antepassados foram impedidos: usar a informação para combater a desigualdade racial.

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