INTRODUÇÃO
Estamos voltando ao tema da juventude. Esse retorno não é novo. Já o fizemos em muitas ocasiões, a partir de diversas perspectivas e de múltiplos recortes. Foi assim com a série de quatro estudos agrupados genericamente sob o título Juventude, Violência e Cidadania, realizada em fins da década de 1990 pela UNESCO, focando a situação específica dos jovens a partir de pesquisas de campo em quatro grandes capitais: Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro e Fortaleza. Também foi quando decidimos construir um Índice de Desenvolvimento Juvenil, seguindo os caminhos do Índice de Desenvolvimento Humano, para expressar as condições e as dificuldades de nossa juventude de aceder a benefícios sociais considerados básicos, como educação, saúde, trabalho e renda. Nesse campo, foram divulgados dois relatórios, um em 2004 e outro em 2006. Nesta longa série, também devemos contar dois trabalhos elaborados com foco no Estatuto e Campanha do Desarmamento – 2003/2004: o primeiro Mortes Matadas por Armas de Fogo e um posterior Vidas Poupadas.
Por último, a já longa série de Mapas da Violência. Desde 1998, ano que veio à luz o primeiro, com dados que cobriam 1979/1996 até o atual, foram ao todo 21 mapas, incluindo aqui quatro cadernos complementares. Todos eles tiveram, seja como ator principal, seja como coadjuvante privilegiado, a nossa juventude.
No primeiro dessa série de Mapas destacavamos: “A realidade dos dados expostos coloca em evidência mais um de nossos esquecimentos. Jovens só aparecem na consciência e na cena pública quando a crônica jornalística os tira do esquecimento para nos mostrar um delinquente, ou infrator, ou criminoso; seu envolvimento com o trafico de drogas e armas, as brigas das torcidas organizadas ou nos bailes da periferia. Do esquecimento e da omissão passa-se, de forma fácil, à condenação, e dai medeia só um pequeno passo para a repressão e punição” 1
Hoje, há 15 anos do primeiro e muitos mapas depois surge, quase por necessidade, uma pergunta aparentemente simples: será que avançamos? Melhorou o panorama da violência letal que nos levou a elaborar esse primeiro mapa, e que já olhávamos naquela época com uma mistura de alarme, indignação e preocupação? Vejamos:
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A taxa de homicídios da população total, que em 1996 – últimos dados desse primeiro mapa – era de 24,8 por 100mil habitantes, cresceu para 27,1 em 2011.
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A taxa de homicídios juvenis, que era de 42,4 por 100mil jovens foi para 53,4.
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A taxa total de mortes em acidentes de transporte que em 1996 era de 22,6 por 100mil habitantes cresceu para 23,2. A dos jovens, de 24,7 para 27,7.
Também os suicídios passaram de 4,3 para 5,1 na população total e entre os jovens, de 4,9 para 5,1.
Não parece haver muitos motivos para festejar; pelo contrário. A situação que já era inaceitável quando elaboramos o primeiro mapa, agravou-se ainda mais. Foi precisamente a grande preocupação com os índices alarmantes de mortalidade de nossa juventude que nos levou a traçar o primeiro desses mapas e continuar depois com os outros estudos e projetos. Hoje, com grande pesar, vemos que os motivos ainda existem e subsistem, apesar de reconhecer os avanços realizados em diversas áreas. Contudo, são avanços ainda insuficientes diante da magnitude do problema.
Mais que acabados e frios estudos acadêmicos, os mapas constituem chamados de alerta. Nosso propósito é contribuir, de forma corresponsável e construtiva, para o enfrentamento da violência por parte da sociedade brasileira. Colocado de maneira simples, pretendemos fornecer informação sobre como morrem nossos jovens por causas que a Organização Mundial da Saúde qualifica como violentas. Todavia, é nítido que estamos lidando com a violência letal, isto é, a violência em seu grau extremo que representa só a ponta visível do iceberg de muitas outras formas de violência que campeiam cotidianamente nossa sociedade.
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