Marcha da Consciência Negra em São Paulo

Entidades do movimento negro, sindical e popular organizaram na tarde deste dia 20 de novembro, em São Paulo, a 10a. Marcha da Consciência Negra. A concentração foi no vão livre do Masp, na Avenida Paulista e a marcha seguiu até o Anhangabaú onde, desde o dia 19, há uma série de atividades culturais alusivas a data.

Por: Dennis de Oliveira

Durante a concentração na Paulista, lideranças fizeram um ato político. Apesar da atividade ter várias bandeiras, o destaque dado pelos militantes e pela maioria dos que discursaram foi a necessidade de lutar contra o genocídio da população negra, em especial a violência contra a juventude negra. Os dados oficiais mostram que de cada cinco jovens mortos, três são negros.

O vereador Orlando Silva afirmou que o genocídio atinge “70% dos jovens” e um dos exemplos foi a morte de um jovem da classe trabalhadora na zona norte de São Paulo. Silva destacou, na sua fala, as iniciativas importantes tomadas pelo governo federal, como o Programa Juventude Viva par conter esta onda de violência que, segundo ele, é uma das manifestações da opressão do capitalismo.

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Já Juninho Jr, do Círculo Palmarino, lembrou que este genocídio tem conotações raciais, pois os dados mostram que são jovens negros que estão sendo assassinados. Chamando os presentes ao ato de “guerreiros e guerreiras”, fez um chamamento para o combate sem tréguas ao racismo.

O dirigente do Círculo Palmarino considerou importante a presidenta da República reconhecer a existência do racismo, porém, segundo ele, é preciso avançar mais, inclusive destinando recursos para que os programas de combate à violência e ao racismo saiam do papel.

O ato político do movimento negro foi encerrado com a fala do secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Netinho de Paula.

O secretário lançou um desafio aos ativistas para que no ano que vem a marcha “triplique o número de presentes”. Isto porque, segundo ele, apesar dos vários avanços conquistados, muito ainda há de ser feito. Lembrou algumas bandeiras importantes, como as cotas nas universidades estaduais e no serviço público, “uma questão de poder”, segundo ele, e “que vai mexer com a direita paulistana”. Netinho ainda disse que a criação da Sepir municipal foi uma conquista do movimento negro, mas que “não adianta uma secretaria sem orçamento, por isto a batalha continua e é preciso manter a unidade”.

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Após o ato político, os presentes saíram em marcha pela Avenida Paulista até o Anhangabaú. Em certo momento, houve um clima de tensão pois os policiais que estavam presentes fizeram um “corredor polonês” com duas fileiras ocupando a calçada e o lado esquerdo da pista da avenida, confinando a marcha no meio dos dois cordões de policiais.

A situação foi percebida pelos organizadores e Douglas Belchior, da Uneafro, pediu no caminhão de som que os policiais desfizessem os cordões de isolamento. Várias outras falas de lideranças fizeram críticas à corporação policial, lembrando a postura repressiva que a PM tem nos movimentos sociais e na periferia.

Apesar do clima tenso, a marcha prosseguiu pela avenida, com militantes portando faixas contra o racismo, em defesa da Lei 10639/03, contra a repressão policial nas periferias, pelas cotas nas universidades, contra o machismo e a violência de gênero, tudo acompanhado com o batuque de integrantes da Vai-Vai e sob um sol forte.

Nenhum jornalista da mídia hegemônica estava presente cobrindo o ato. Provavelmente, o tom da cobertura a ser feita na mídia hegemônica será os transtornos causados no trânsito, utilizando os dados da CET e também usando as estimativas da Polícia Militar para dizer quantas pessoas estavam presentes no ato.

Fonte: Quilombo

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