Em 1878 o soprano Marie Selika Williams, conhecida como a”rainha do staccato”, tornou-se a primeira negra a se apresentar na Casa Branca. Marie Selika nasceu c.1849 em Natchez, Mississipi, Estados Unidos. Logo após seu nascimento, a família mudou-se para Cincinatti, Ohio, onde ela, ainda criança, começou a estudar música, graças à proteção de um rico benfeitor local. Quanto tinha vinte e poucos anos, mudou-se para San Francisco, Califórnia, a fim de estudar com a Signora G. Bianchi, sob cuja orientação fez sua estréia como soprano de concertos, em 1876. Pouco antes de 1878 foi apresentada e se casou com um colega, o barítono Sampson Williams, também conhecido como Signor Velosko, o tenor havaiano.

Em 18 de novembro de 1878, apenas dois anos após sua estréia, Marie Selika Williams cantou no Salão Verde da Casa Branca para uma platéia que incluía o presidente Rutherford Hayes e a sra. Hayes. No repertório, “Ernani, involami”, de Verdi, “The Last Rose of Summer”, de Thomas Moore, “Ave Maria”, de Harrison Millard, e “Staccato Polka”, de Richard Mulder. Seu marido, Sampson Williams, também cantou, a pedidos, a conhecida balada “Far Away”, de autoria de Bliss.

Nos anos que se seguiram à sua apresentação na Casa Branca, Marie Selika Williams continuou a excursionar nacionalmente, cantando para platéias compostas inteiramente de negros. Intercalou essas apresentações com duas temporadas na Europa, uma delas de 1882-1885, onde cantou em outubro de 1883, em St. James Hall, para a rainha Vitória, e outra temporada, de 1887-1892. Excursionou também pelas Antilhas. Apesar de sua bem sucedida carreira e de seu status como a mais importante prima donna negra de sua época, tinha de lutar frequentemente para conseguir bons agentes artísticos e, em certas ocasiões, precisou ela mesma cuidar desse pormenor. O racismo que prevalecia naquele tempo impedia que os artistas negros fossem facilmente aceitos em apresentações que não se referissem à música popular negra e os negros só foram bem acolhidos nas casas de ópera americanas na década de 1930.

Ao se aproximar da meia idade, na década de 1890, Marie Selika Williams continuou a excursionar, porém passava cada vez mais tempo em sua casa em Cleveland, Ohio, onde abriu um estúdio de música. Após a morte do marido, em 1911, abandonou o palco e em 1916, aos 67 anos, aceitou lecionar na Martin-Smith School of Music, em Nova York. Faleceu naquela cidade em 1937, aos 87 anos.


Fontes:

 

Eileen Southern, Biographical Dictionary of African American and African Musicians (Westport, Conn.: Greenwood Press, 1982); Elise K. Kirk. Music at the White House: a History of the American Spirit (Urbana, University of Illinois Press, 1986); Elise K. Kirk. Musical Highlights From the White House (Malabar, Florida: Krieger Publishing Co., 1992).

 


 

Tradução (excertos) e seleção de imagens: Carlos Eugênio Marcondes de Moura

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