São muitos anos de luta e resistência em prol de conquistas de direitos básicos que ainda são tratados como privilégios quando se trata da parcela negra da população brasileira. Lutas essas protagonizadas por lideranças do movimento negro que por muitas vezes abriram mão de objetivos individuais em prol da conquista coletiva. Em Belo Horizonte quando se fala de movimento negro é incontornável citar Marcos Antônio Cardoso, conhecido como Markim Cardoso. Até porque quem não conhece esse nome não conhece o movimento negro da capital mineira.
Markim é filósofo por formação, mestre em História e professor de História da África. É autor e coautor de diversos livros, dentre eles o livro “Movimento Negro”. Atuou em grandes projetos, como por exemplo a fundação do Ministério de Política de Promoção à Igualdade Racial e a articulação das primeiras edições do Festival de Arte Negra. É responsável pelo letramento racial e formação de muitas pessoas mais jovens que ele, tanto em Belo Horizonte que é sua cidade de origem e residência, quanto em cidades de outros estados.
Nesse mês da Consciência Negra fui entrevistar essa liderança que foi inúmeras vezes homenageado e premiado por sua atuação e entender um pouco da sua trajetória dentro desse movimento muitas vezes estigmatizado, mas fundamental na criminalização do racismo, no acesso à educação de nível superior e tantas outras.
A quanto tempo você integra o Movimento Negro e o que te motivou dedicar sua vida a essa pauta?
Integro o Movimento Negro desde o dia primeiro de maio de 1979, portanto, há 45 anos, quando conheci Hamilton Bernardes Cardoso, editor da Seção Afro latinoamérica do Jornal Versus, que havia noticiado em suas páginas, a criação do Movimento Negro Unificado. Quando ingressei no Movimento Negro, queria compreender as razões da minha revolta e indignação diante da pobreza e da permanente humilhação que sofria no cotidiano da vida, em especial, por parte da Polícia, sobretudo, como trabalhadores jovens moradores de bairros periféricos. Ao compreender a centralidade do racismo como mantenedor deste processo social de exclusão, Marginalização, reprodução das desigualdades e humilhação cotidiana, nunca mais saí do Movimento Negro, pois, o Movimento Negro me informou e formou, ou seja, me deu as ferramentas filosóficas, políticas e culturais para me orgulhar de mim mesmo e lutar contra o racismo.
Em sua opinião qual foi a maior conquista do movimento negro até hoje?
As principais conquistas do Movimento Negro referem a criminalização do racismo na Constituição de 1988 a sua regulamentação pela promulgação da Lei Caó de 1989!; a defesa das comunidades quilombolas pelo artigo 68 da CPF e regulamentação pela Lei 4887 de 2003; a valorização das matrizes culturais africanas e afro-brasileira via artigo 214 e 215 da CF, a Lei 10639 de 2003, que torna obrigatório o ensino da História da África e das Culturas Negras em todos os níveis o sistema de ensino ; a Lei Cotas Raciais para acesso as universidades e a transformação do dia 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negras e Feriado Nacional. Entre diversas outras conquistas, destaca- se também institucionalização de órgãos públicos voltados para a promoção da igualdade racial, entre eles , o Ministério da Igualdade Racial.
Qual é o maior desafio das políticas de promoção à promoção da igualdade racial na atualidade?
Neste sentido, o maior desafio para combater o racismo e promover a igualdade racial na atualidade no Brasil se configura no baixíssimo financiamento público para a implementação e execução dessas políticas públicas, dado que o próprio racismo é a base cultural da formação social das elites que detém o monopólio do poder político, cultural e infocomunicacional na sociedade brasileira e é estruturante e estrutural nas instituições e nas relações sociais.
Muito se fala do letramento racial na atualidade, será que você poderia indicar um ou dois livros para as pessoas que estão lendo essa entrevista e tem interesse em se aprofundar na temática sobre a população negra no Brasil e sobre o racismo?
Indicaria meu próprio livro O Movimento Negro em Belo Horizonte publicado pela Mazza Edições, o livro Genocídio do Negro Brasileiro do Abdias do Nascimento, o livro do Frantz Fanon Peles Negras, Máscara Branca, entre outros como Racismo Recreativo do Adilson Moreira, Racismo Linguístico do Gabriel Nascimento, Pacto da Branquitude da Cida Bento, e todos os artigos e livros de Lélia González.