Meritocracia: Filhas de prefeito e de vice, além do chefe de gabinete, ficaram em primeiro lugar em suas categorias

O Ministério Público Estadual (MP) investiga uma suspeita de fraude em um concurso público da prefeitura de Cristal do Sul, na região norte do Rio Grande do Sul. Dentre os classificados nos primeiros lugares para as 36 vagas oferecidas (sendo 14 de cadastro reserva), a maioria seria parente, amigo ou ligado a agentes da prefeitura.

Por: Jaqueline Sordi no ZH

No total, foram quase 700 inscritos para o concurso da cidade, que tem 2,8 mil habitantes. As provas ocorreram no dia 13 de dezembro do ano passado, e o resultado foi divulgado duas semanas depois.

Na classificação, a filha do prefeito Cézar de Pelegrin (PMDB), Micheli Carolini De Pelegrin, ficou em primeiro lugar para o cargo de fisioterapeuta, com salário de R$ 3 mil. Ela concorria com outros 36 candidatos. O chefe de gabinete do prefeito, André Martins De Azevedo, foi também o primeiro classificado para o cargo de agente de compras e contratos, com salário de R$1.242. Já a filha da vice-prefeita Maristela Zadinello (PDT), Patricia Zadinello De Vargas, foi a primeira colocada para a vaga de enfermeiro, que recebe R$ 2.356.

Conforme o promotor substituto Marlos da Rosa Martins, da Promotoria de Rodeio Bonito (comarca responsável por Cristal do Sul), as informações sobre a suposta fraude vieram de diferentes fontes, antes e depois do resultado do concurso.

Entre elas, o MP recebeu, antes da realização das provas, uma lista com cerca de 20 de nomes que seriam possivelmente aprovados. Destes, segundo o Ministério Público, a maioria aparece entre os classificados nas primeiras colocações. O promotor não precisou, entretanto, os números exatos.

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— Existem fortes indícios de que ocorreu uma fraude, tanto que foi instaurado um procedimento para a investigação, principalmente pelo parentesco de muitos classificados. A princípio não há nenhuma proibição legal de que a filha do prefeito faça a prova e seja aprovada, mas há outros indícios de uma possível fraude — explicou Martins.

A empresa responsável pelas provas, Construir Concursos, informou por meio de sua assessoria jurídica que o concurso foi realizado de forma legítima. A empresa, que tem sede em Maravilha (SC), disse que só irá fornecer mais informações depois de ser notificada pelo MP.

— Para nós, este é um fato totalmente estranho. A empresa tem dois anos e nunca sofreu nenhum tipo de investigação — explicou o advogado da Construir, João Carlos Pereira.

Zero Hora entrou em contato com a prefeitura de Cristal do Sul e foi informada que nem o prefeito nem a vice estavam no local. O prefeito Pelegrin informou, por meio da secretaria, que não iria passar informações sobre o caso. Já o chefe de gabinete, André Martins De Azevedo, está de férias e não foi localizado.

De acordo com o promotor Martins, ainda não há nenhum pedido para a suspensão do concurso. Caso as irregularidades forem confirmadas, poderá haver a anulação e a instauração de processos criminais.

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