Microviolência, micromachismo, tudo junto e misturado. Práticas de uma sociedade patriarcal

O micromachismo e microviolência como vem sendo chamado nesta década é uma série de comportamentos que se manifestam através de discriminações e são muito sutis. Acontecem todos os dias, até mesmo nos ambientes mais progressistas.
Comportamentos que subjugam e desrespeitam as mulheres. Interrompimentos, risadas e olhares desfaçadas de deboche quando uma mulher fala; comportamentos que subjugam, promovem objetificação da mulher na publicidade, comportamentos e afirmações elogiáveis nas tarefas de casa e ao desempenhar funções servis.
Depreciação e desqualificação da linha de pensamento da mulher sempre em tom meigo.
Utilização de adjetivos referentes a beleza para qualificar potencialmente uma mulher.
Termos pejorativos para limitar a postura, posição e o grau de conhecimento e conduta de uma mulher.
Tudo junto e misturado, condiciona as mulheres as mais variadas formas de violências. Praticas dissimuladas e muito sutis.
Estas discriminações que podem acorrer em ambientes públicos ou não, são perpetuadas de tal forma que fazem parte do quotidiano da sociedade.
É muito comum uma mulher achar que determinado comportamento ou fala de um homem não é nada demais, não teve a intenção de depreciação e, ou são, simples circunstâncias que acontecem inocuamente, ou seja, sem qualquer intenção lesiva.
Mas de fato são práticas do machismo cotidiano que as mulheres estão sempre submetidas.
Ao naturalizar tais práticas como um simples comportamento de um homem, as mulheres que sofrem, são remetidas ao círculo rítmico de violência, propiciando a aceitação de outros tipos de violência graves podendo chegar ao feminicídio.
Durante a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na CPI da Pandemia, a Senadora Simone Tebet (MDB-MS) ao questionar a atuação da CGU na fiscalização de negociações sobre compras de vacinas, foi chamada de descontrolada pelo ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner.
Formato de atitude naturalizado principalmente entre os homens que não suportam ser questionados por uma mulher, mesmo que esta mulher esteja ocupando um cargo igualmente de poder.
As divergências e questionamentos postulados por uma mulher quando não aceitos, sempre são sucedidas com denominações de: louca, histérica, exaltada. Isto entre tantos outros predicados naturalizados que desqualificam o conhecimento técnico, científico, político e social da mulher, tem como objetivo central a manutenção do domínio sobre a situação posta e sobre o corpo da mulher.
Tais violências sempre foram silenciadas por milhares de mulheres para não provocar desconforto entre as pessoas que circulam entre seu meio.
Um círculo de violência que se tornou naturalizado e que formata e sustenta a sociedade patriarcal e racista.
O silêncio sempre esteve presente na vida das mulheres. Para muitas, a única arma utilizada para evitar que tais violências não possam se transformem em algum tipo de violência física.
Não é fácil !

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Mônica Aguiar é uma blogueira negra feminista, residente em Belo Horizonte/MG, que desde 2010 mantém o Blog Mulher Negra, com “notícias do Brasil e do mundo diariamente. Educação, ciências e tecnologia, cultura, arte, cinema, literaturas, economia, política, dentre outros. Construindo a visibilidade das mulheres negras em fatos reais no mundo”.

** ESTE ARTIGO É DE AUTORIA DE COLABORADORES OU ARTICULISTAS DO PORTAL GELEDÉS E NÃO REPRESENTA IDEIAS OU OPINIÕES DO VEÍCULO. PORTAL GELEDÉS OFERECE ESPAÇO PARA VOZES DIVERSAS DA ESFERA PÚBLICA, GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE DO DEBATE NA SOCIEDADE.

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