Movimentos sociais lançam campanha para levar cesta básica a 223 mil famílias

Movimentos sociais e ONGs lançam nesta terça-feira (16) a campanha “Tem Gente com Fome”, com o objetivo de levar cestas básicas a quase 223 mil famílias brasileiras.

A iniciativa ​é liderada pelas organizações Coalizão Negra por Direitos, que inclui mais de 200 organizações ligadas ao movimento negro, Oxfam, Anistia Internacional, ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades), Nossas Rede de Ativismo, Redes da Maré e 342 Artes.

Para atingir a meta de cestas básicas, o projeto quer arrecadar R$ 133 milhões. O grupo criou um site para receber as doações em dinheiro, o Tem Gente Com Fome.

Além disso, haverá pontos de coleta de doações de alimentos, produtos de limpeza e produtos de proteção contra a Covid-19, como máscaras e álcool, que serão organizados pelas iniciativas que compõem a coalizão.

O projeto atuará prioritariamente em 18 estados e no Distrito Federal, além de contar com a participação de organizações que têm abrangência nacional, como a Uneafro.

“Ao longo da pandemia, o movimento negro tem promovido ajuda humanitária a várias comunidades e a gente viu que voltou com muita urgência o apelo por comida”, diz Lúcia Xavier, coordenadora da ONG Criola, parte da coalizão.

Ela explica que os pedidos de ajuda se multiplicaram após o fim do auxílio emergencial, pago até dezembro de 2020. “Em janeiro as famílias ainda tinham algum dinheiro, mas em fevereiro cresceu [a quantidade de pedidos] profundamente”, diz.

Em 2020 o preço dos alimentos teve alta equivalente a três vezes a inflação e o desemprego atingiu mais de 13 milhões de pessoas. Reportagem da Folha também mostrou estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de que, com o fim do auxílio emergencial, um terço da população brasileira chegaria à pobreza.

Em cenário otimista, a expectativa é que 16 milhões de pessoas teriam que viver com menos de R$ 522 por mês. O Congresso Nacional aprovou em março o reinício do auxílio emergencial pago aos mais vulneráveis. O valor, no entanto, só deve começar a ser distribuído em abril.

Por isso, a ideia é iniciar a distribuição dos alimentos assim que o dinheiro começar a pingar na conta, diz Lúcia. As organizações pretendem ajudar famílias que esperam pelo início do novo auxílio emergencial.

“Vamos priorizar as mães negras, que são as mais vulneráveis, geralmente com empregos precários ou desempregadas, e que cuidam dos filhos e geralmente da família de uma maneira mais global”, diz a coordenadora.

Outro critério para a fila da distribuição de recursos será o regional. Segundo Lúcia, os relatos que chegam das regiões Norte e Nordeste do país têm preocupado. “Ao mesmo tempo, é provável que nós vamos conseguir mais doações de alimentos e produtos na região Sudeste, que é mais rica, mas também tem muita desigualdade”, diz ela.

​A campanha tem o apoio de artistas como o músico Zeca Pagodinho, que gravou vídeo dizendo “se tem gente com fome, dá de comer”. A frase é referência ao poema “Tem Gente com Fome”, de Solano Trindade (1908-1974). ​

A Coalizão Negra por Direitos também está em busca de parceiros comerciais que possam participar da iniciativa, como redes de supermercados ou empresas, para fazer doações em dinheiro ou em produtos que possam ser distribuídos.

No site criado pelo movimento, é possível doar a partir de R$ 10. Isso, segundo os organizadores, equivale a dois quilos de comida a ser distribuída. A estimativa é que cada família possa contar com cestas formadas por cerca de R$ 200.

As famílias que receberão a ajuda foram mapeadas pelas organizações locais. Alguns grupos, como o Terreiro do Cobre, na Bahia, têm 150 famílias listadas para distribuição. Outras, como a Redes da Maré, pretendem ajudar cerca de 20 mil casas.

“A ideia é dar algo que garanta o mínimo da sobrevivência, que dê para comprar arroz, feijão, alguma mistura. Para que elas diminuam ao máximo as dificuldades por mais um tempo”, diz Lúcia.

+ sobre o tema

Trump suspende participação dos EUA no Conselho de Direitos Humanos da ONU

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta...

Fim do trabalho escravo exige novas políticas, dizem especialistas

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) admite que...

Políticas antidiversidade nos EUA reacendem o alerta no Brasil

Não é mais ameaça ou especulação do campo progressista,...

Protesto contra a extrema direita leva 160 mil às ruas de Berlim

"Nein, Friedrich", dizia de forma direta o cartaz. Em...

para lembrar

Em carta a Bolsonaro, Anistia Internacional diz que decreto das armas pode aumentar homicídios

Representantes da organização estão em Brasília; documento deverá ser...

Futebol de letra

Gosto de futebol bem jogado. Futebol simples que resulta...

Justiça Federal barra deportação de migrantes vulneráveis na pandemia

A Justiça Federal do Acre decidiu liminarmente nesta quarta-feira...

Centenas de indígenas participam do primeiro dia dos ‘jogos tradicionais’

Os jogos tradicionais representam o momento de maior fascínio...

Milhares protestam a favor da diversidade na Argentina

Milhares de pessoas se manifestaram neste sábado em Buenos Aires, na Argentina, em defesa da diversidade e contra o presidente Javier Milei, economista e líder da ultradireita...

Trabalho escravo: mais de 2 mil foram resgatados no Brasil em 2024

O Ministério do Trabalho e Emprego realizou, ao longo de todo o ano de 2024, 1.035 ações fiscais de combate ao trabalho análogo à...

Brasil flagra 2.000 escravizados em 2024; resgate na BYD foi o maior do ano

O Brasil resgatou 2.004 trabalhadores de condições análogas às de escravo em 2024, segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O...
-+=