O Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação nesta quarta-feira (3) para apurar a responsabilidade da empresa Uber em uma situação de racismo religioso denunciada nesta semana. Um motorista de aplicativo se recusou a levar uma família para um terreiro de candomblé em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A família usava trajes religiosos, e a situação foi flagrada por uma câmera de segurança.
O MPF investiga também se houve violação do dever de prevenção pela empresa e pede que a Uber envie, no prazo de 10 dias, “informações sobre a situação e as medidas preventivas que adota” para impedir que usuários e motoristas pratiquem racismo religioso.
Os procuradores regionais dos Direitos do Cidadão no RJ, Jaime Mitropoulos, Julio Araujo e Aline Caixeta, destacam que há a necessidade de acompanhar e de fiscalizar os serviços de transporte em relação a “possíveis tratamentos discriminatórios dispensados aos usuários dos aplicativos de transporte.”
Relembre o caso
A comerciante Taís Fraga, duas filhas e a sogra chamaram uma corrida de aplicativo que tinha como destino o centro religioso que frequentam em Duque de Caxias, no dia 23 de abril.
Uma câmera de segurança flagrou o momento em que o carro se aproxima, o motorista fala com elas e se distancia — o que causa a revolta das passageiras.
De acordo com Taís, elas foram impedidas de entrar por causa dos trajes religiosos que usavam.
“Naquele dia, estávamos indo pra uma festividade a Ogum, São Jorge na Igreja Católica. Se ele me pedisse desculpas, eu aceitaria. Ele pode ter errado, como errou. Mas, eu aceitaria as desculpas. Ele falou que não levaria a gente e não levou. Ele viu a minha sogra, mas quando nos viu se negou.”
O caso foi registrado na 59ª DP (Duque de Caxias) e transferido para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). A investigação está em andamento e a família pede justiça.
“Expus a minha família na televisão e espero que isso não seja em vão. A gente precisa sim, lutar pelos nossos direitos. Zero preconceito e intolerância. Peço que as pessoas tenham respeito. As minhas filhas estão bem abaladas e triste, assim como eu. Estou tentando, mas vamos conseguir”, diz Taís.
A Decradi pediu que a Uber envie os dados do motorista.
Em nota, a Uber informou que ” não tolera qualquer forma de discriminação. Em casos dessa natureza, a empresa encoraja a denúncia tanto pelo próprio aplicativo quanto às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei”.
Ainda de acordo com a empresa, “a conta do motorista parceiro já foi temporariamente desativada”, enquanto o caso é investigado.