A Polícia Civil do Distrito Federal investiga a conduta de uma passageira de transporte público que, irritada por causa de uma janela aberta, teria cometido injúria racial contra um cobrador negro: “o Brasil é esta merda por causa disso. Essa empresa está assim pois agora só contrata macaco para trabalhar”. O incidente aconteceu na manhã da última quinta-feira (10), no trajeto entre Samambaia e a Rodoviária do Plano Piloto – distantes 25 quilômetros. A mulher foi liberada da delegacia após pagar fiança de R$ 800.
Eu queria que ela chegasse em mim e me dissesse ‘desculpa, cobrador, fui errada mesmo’. Queria que ela tivesse sentimento por mim. Ela é morena, não é branca, nem nada, e, mesmo se fosse, somos seres humanos, tem de respeitar as pessoas
De acordo com o cobrador Aderbaldo dos Santos Ribeiro, de 27 anos, a ofensa aconteceu por volta das 7h40. Ele conta que a mulher fechou a janela do coletivo na altura do Parque da Cidade e que ele decidiu abri-la novamente para manter a circulação de ar.
“Ela começou a brigar comigo, me xingar, não quis deixar abrir. Aí foi me agrediu, falando que a empresa estava contratando macaco”, lembra. “É ruim, né, nunca esperei que fosse acontecer comigo. Fiquei muito chateado. Fiquei bem ruim, um policial até perguntou se estava tudo bem comigo.”
Os passageiros foram remanejados para outro ônibus da empresa, e o rodoviário e a mulher, encaminhados à delegacia. De acordo com Ribeiro, em nenhum momento ela demonstrou arrependimento. O G1 não conseguiu contato com a suspeita.
“Eu queria que ela chegasse em mim e me dissesse ‘desculpa, cobrador, fui errada mesmo’. Queria que ela tivesse sentimento por mim. Ela é morena, não é branca, nem nada, e, mesmo se fosse, somos seres humanos, tem de respeitar as pessoas”, afirma o homem.
Ribeiro diz que não pretende processar a mulher além da esfera criminal, mas que ainda espera que ela o procure para se desculpar. Advogada do Sindicato dos Rodoviários, Marília Fontenele afirma que está conversando com o homem e estudando a possibilidade de pedir indenização.
“É uma situação, infelizmente, normal. As pessoas não conseguem internalizar valores democráticos. Não sei dizer quantos são de cabeça, mas já são pelo menos quatro ou cinco situações do tipo neste ano”, diz.
Segundo a advogada, a ideia é que, por meio do processo, as pessoas entendam que a injúria racial é crime e evitem este tipo de prática. Marília afirma que incidentes do tipo afetam até mesmo o trabalho dos rodoviários.
“Eles ficam muito constrangidos, é realmente uma situação sem parâmetros, eles ficam muito constrangidos, e muitas vezes abala o rendimento no dia a dia”, explica.
De acordo com o Código Penal, a pena por injúria varia entre 1 e 3 anos de prisão. Se a investigação apontar que houve racismo, a suspeita pode responder pelos crimes previstos na Lei 7.716, de 1989. Há várias penas possíveis, entre elas prisão e multa. O crime de racismo não prescreve e também não dá direito a fiança.
Por meio do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, o Ministério Público moveu 43 denúncias de injúria racial no primeiro semestre de 2015. O primeiro caso aconteceu em fevereiro, entre dois servidores do Hospital Regional da Asa Norte