“A cor da pele e a roupa que você veste ainda são critérios para julgarem você.”
Por Diego Iraheta, do Brasil Post
A declaração poderia ser tomada como vitimimização, como muitas vezes ocorre nas redes.
Quem desdenha do racismo pode não querer ver. Mas ele existe, muitas vezes implícito e dissimulado, como denuncia a professora Magna Domingues, que se dedica à educação infantil no Rio de Janeiro.
Após um extenuante dia de trabalho na semana passada, ela foi trocar seu vale-compras de R$ 700 em uma loja de roupas femininas no shopping Rio Sul, em Botafogo, na zona sul da capital fluminense.
Ao apresentar o brinde para troca, a docente se surpreendeu com a resposta e a atitude da supervisora da Ágatha.
“A gerente fez alguma ligação e minutos depois volta dizendo que a promoção não existia mais. Eu estranhei, afinal, a pessoa que me deu o presente jamais permitiria que eu sofresse um constrangimento desses. Mas enfim, resolveria depois. Então, pedi o vale de volta, e a gerente simplesmente se negou a me devolver dizendo que estava cumprindo ordens e que o ‘cheque’ pertencia à loja e não a mim.”
Magna sentiu-se “assaltada” pelo estabelecimento:
“Me pareceu que a loja não acredita que um vale de R$700, 00 possa ter sido presenteado para alguém com a aparência tão linda, negra e livre como a minha. [Eles] se apropriaram de algo que me pertence, dizendo pertencer à empresa… Fui roubada.”
A educadora também estranhou a retenção do brinde: se ele não tinha valor, por que a loja deveria ficar com ele?
Para Magna, o “roubo” foi uma tentativa de mascarar o ato discriminatório:
“A gerente da loja foi tão ‘fake’, que ficou claro pra mim que ela estava sendo orientada a me tratar com doçura pra justamente tentar não demonstrar o que aquilo realmente era: um violento ato de preconceito. (…) Qual a diferença entre ter R$700,00 roubados por um menino na rua ou por uma mulher maquiada e perfumada gerente de uma loja na Zona Sul? Pra mim, nenhuma.”
Magna Domingues registrou queixa na delegacia local e no serviço de atenção ao cliente do Rio Sul. Também exigiu a devolução do vale, mas não o recuperou.
A loja publicou uma nota de esclarecimento no Facebook, pedindo desculpas pelo “desconforto e constrangimento causados” à professora.
A Ágatha informa que faltava informação à equipe da loja no shopping e admitiu o erro em reter o vale de R$ 700:
Procurada pelo Brasil Post, a assessoria da Ágatha informou que a loja já ofereceu um vale compras de R$ 1.000 à Magna Domingues.
Também afirmou que a gerente que reteve o brinde não sofreu qualquer punição.
Em nota, a loja também disse que não houve preconceito racial no caso de Magna.
“Nenhuma atitude tomada por qualquer membro da equipe levou em consideração a cor da pele ou aparência da cliente. Nenhum tipo de preconceito e discriminação reflete a posição da marca. Em 25 anos de existência, jamais foi aprovada ou incitada esse tipo de atitude, prezando pela diversidade e inclusão, com igualdade e respeito.”
O Brasil Post tentou contato com a assessoria do shopping Rio Sul, mas conseguiu posição sobre o caso.
Leia a íntegra do depoimento da professora, que ganhou bastante repercussão no Facebook: