Mulheres criam página na internet para denunciar mortes em hospital do RJ

Perdas no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Acari, são relatadas no Facebook; Secretaria de Saúde não se posicionou

 

Mulheres que perderam seus filhos ou parentes no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, zona norte do Rio de Janeiro, criaram páginas em redes sociais para denunciar o que chamam de descaso dos profissionais da unidade.

Criadora de uma delas, a dona de casa Evelin Abreu dos Santos diz que buscou atendimento no hospital em 9 de abril e aguardou mais de três horas na recepção, apesar das dores do parto até ser recebida por uma médica.

Mesmo com recomendação de voltar para casa e a afirmação da médica de que ainda não estava em trabalho de parto, Evelin resolveu continuar na unidade. Ela explicou aos profissionais que as duas filhas haviam nascido de cesariana, em 2010 e 2011, por problemas na hora do parto. Entretanto, conta, insistiram que seria parto normal. Cerca de 12 horas depois, começou o sangramento.

“Tive uma hemorragia muito grave, continuei sangrando por horas e ninguém me deu apoio, nem as enfermeiras. E, por último, meu filho veio a falecer porque engoliu muito sangue dessa hemorragia que eu tive”, contou ela, que acusa ainda a unidade de tê-la submetido a uma laqueadura sem consultá-la.

Evelin ainda ficou sozinha várias horas sem saber o que havia acontecido, e o motivo do óbito foi informado apenas quando um primo que é enfermeiro foi ao local.

“O que espero com essa página é que isso não venha a acontecer com outras mães, pois nunca esquecerei o que ocorreu. Já tenho duas filhas, mas nenhum filho substitui o outro. A dor da perda é horrível”, disse.

Em outra página de rede social, Samanta dos Santos relata a noite em que a sobrinha Juliana, de 16 anos, com sete meses de gestação, procurou a maternidade em 17 de setembro. A tia conta que a menina ficou horas na sala de pré-parto.

“Mesmo com toda a documentação em mãos e minha irmã bradando que a filha estava perdendo água de parto escura, ela foi deixada em uma cama na sala de espera”, diz a tia, ao afirmar que enfermeiras chegaram a trocar insultos com a mãe da menina.

O bebê, Kayke, nasceu com vida, e Juliana teve alta dois dias depois. No dia 21 de setembro, no entanto, a mãe teve convulsão e voltou à maternidade, onde a deixaram no soro durante 24 horas antes de perceberem que havia algo de errado.

“Ao abrirem Juliana, retiraram litros de pus, identificaram que um ovário e uma trompa estavam em estado de necrose. Retiraram os órgãos e fecharam minha sobrinha. Começou ali uma longa batalha entre viver e morrer aos 16 anos”, narra a tia. Juliana morreu no dia 29 pela manhã.

A direção do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla informou por meio de nota que Evelin teve descolamento prematuro de placenta, “o que levou o recém-nascido a aspirar grande quantidade de sangue, tendo sido necessário manobras de reanimação ainda na sala de parto, porém, sem evolução positiva”. O hospital diz ainda que toda assistência médica necessária foi disponibilizada para a mãe e o bebê.

Ainda de acordo com a nota, os óbitos materno-infantis são investigados por comissões na unidade e na Secretaria Municipal de Saúde. A Secretaria de Saúde não soube informar o número de mortes de bebês na unidade ao longo deste ano nem se posicionou a respeito das denúncias até a publicação desta reportagem.

 

Fonte: iG

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