Na esteira do #Metoo, a nova plataforma “Mais de 30” amplia as vozes das mulheres vítimas de agressão sexual em Israel, em meio ao choque provocado pelo estupro de uma adolescente por 30 homens.
Há vários dias, testemunhos de agressões e assédio sexual se multiplicam nas redes sociais em hebreu, depois que se tornou conhecido o estupro em grupo de uma menina de 16 anos em um hotel da cidade turística de Eilat (sul).
“Qualquer mulher sabe que existem mais de 30 estupradores no país”, afirma a iniciativa feminista Mitsad Hanashim (Marcha das Mulheres).
Em sua página do Facebook, pede às mulheres vítimas de violência sexual que inscrevam em sua plataforma online “Mais de 30” os nomes de seus agressores e a idade que tinham quando ocorreram os fatos.
“Existem dados sobre a violência contra as mulheres, mas já é hora de associar esses dados aos nomes (dos agressores) e de mostrar às autoridades que o problema de nossa sociedade não se resume somente a 30 estupradores”, afirma o grupo feminista em hebreu e árabe.
“Entregaremos esta longa lista ao governo e pediremos que aceitem as denúncias das associações de mulheres para mudar a política contra a violência”, explica à AFP.
O caso do estupro coletivo de Eilat estampou as manchetes dos jornais em 20 de agosto, quando a imprensa mencionou que os homens faziam fila em frente ao quarto da adolescente, que não estava sóbria, aguardando a vez para estuprá-la.
Nessa mesma noite aconteceram manifestações em várias cidades do país em apoio à vítima. No domingo passado, milhares de israelenses fizeram greve para denunciar a violência sexual contra as mulheres.
“É ultrajante, não há palavras! Não é apenas um crime contra uma jovem, é um crime contra a própria humanidade que merece toda a nossa condenação”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que pediu que “os responsáveis sejam levados à Justiça”.
A polícia continua prendendo os suspeitos.
– A ponta do iceberg –
Criada sábado passado, a campanha “Mais de 30” (“yoter mi shloshim” em hebreu) já recolheu mais de 1.000 depoimentos, afirma Ruty Klein, uma das criadoras da iniciativa.
“A partir do momento em que não se sente mais sozinha, você começa a falar, depois outra fala e mais outra”, afirma. “A lista de depoimentos não para de crescer”.
Para Illana Weizman, de 36 anos, uma das criadoras do “HaStickeriot”, movimento inspirado em um grupo francês que cobre as ruas com cartazes para combater “a cultura do estupro”, não há dúvidas de que está acontecendo um “despertar das consciências” em Israel.
No entanto, embora o caso de Eilat possa ter um efeito “catalisador”, todos os dias há ocorrência de muitos estupros menos midiatizados, alerta a militante.
De acordo com o sindicato de centros de ajuda às vítimas de agressões sexuais em Israel, a polícia estima em 84.000 o número de mulheres agredidas no país todo ano. Isso significa 230 por dia.
E é apenas a ponta do iceberg…
“Uma em cada cinco mulheres será estuprada durante sua vida em Israel, uma em cada três será abusada sexualmente”, conclui Weizman. “A violência sexual afeta todas as mulheres”.