Com a vitória de Abena Appiah, 27, no Miss Grand International 2020 realizado no sábado passado (27), é a primeira vez na história em que três mulheres negras reinam, ao mesmo tempo, os principais concursos mundiais. As outras duas são Zozibini Tunzi, 27, vencedora do Miss Universo 2019, e Toni-Ann Singh, 25, dona da coroa de Miss Mundo 2019.
Tunzi, da África do Sul, foi a primeira eleita das três, em dezembro do ano passado em Atlanta, nos EUA. Sua vitória gerou forte repercussão na mídia e nas redes sociais, não só pelo seu visual moderno, mas pelo seu posicionamento politizado.
De cabelos curtíssimos e com um guarda-roupa bastante elegante, a atual Miss Universo fez um discurso de coração no qual exalta a importância da beleza da mulher negra. “A sociedade foi programada durante muito tempo para não ver a beleza negra. Mas agora estamos entrando em um tempo em que, finalmente, as mulheres, como eu, podem saber que somos bonitas.”
Tunzi está em um grupo de seis mulheres vencedoras do Miss Universo, em quase 70 anos de história. A lista inclui ainda a angolana Leila Lopes (2011), a bechuana Mpule Kwelagobe (1999), a trinitária Wendy Fitzwilliam (1998), a norte-americana Chelsi Smith (1995) e a trinitária Janelle Comissiong (1977).
Ainda em dezembro de 2019, uma semana depois de Tunzi, Toni-Ann Singh foi eleita a Miss Mundo, em evento realizado em Londres, na Inglaterra. A jamaicana quebrou um jejum de 18 anos sem mulheres negras no trono da disputa –a última havia sido a nigeriana Agbani Darego, em 2001.
“Acredito que necessitamos ser nós mesmos e não precisamos nos preocupar com o que a sociedade diz para gente ser”, disse Singh. No discurso, a modelo reforçou a importância de ter como referência mulheres fortes e representativas, principalmente na família.
“Notar os benefícios da família e ter todas essas fortes mulheres a sua volta e que ajudam você a crescer e quebrar ciclos. É importante, para mim, oferecer a jovens mulheres a oportunidade de ver o que foi feito na minha vida, e eu quero ser a diferença para os outros.”
Antes de Singh e Drego, outras três negras venceram o concurso inglês: a jamaicana Lisa Hanna (1993), a trinitária Giselle Jeanne-Marie Laronde (1986), e a granadina (de Granada) Jennifer Hosten (1970), cuja história foi contada no recente filme “Misbehaviour”.
A coroação de Singh e de Tunzi ampliou a representatividade das candidatas nos certames e a mulher negra passou a ser destaque em publicações. Na época, cinco estavam nas mais altas posições das competições de beleza feminina. Além delas, as vencedoras de concursos norte-americanos Cheslie Kryst (Miss EUA Universo), Nia Franklin (Miss América), e a adolescente Kaliegh Garris (Miss Teen EUA).
Nascida em Gana, Appiah tem dupla nacionalidade e representou os Estados Unidos no Miss Grand International. O certame é considerado um dos principais da atualidade, ao lado do Miss Universo, Miss Mundo, Miss Supranational, Miss International e Miss Terra. Com sua vitória, hoje é possível, sim, dizer que o mundo miss rendeu-se à beleza da mulher negra.
Já no Brasil, o histórico dos concursos de beleza são bem semelhantes aos de lá de fora, com poucas mulheres negras no pódio nas últimas sete décadas. Nos dois maiores concursos, que elegem as representantes para o Miss Universo e Miss Mundo, são cinco mulheres negras eleitas até o momento.
No Miss Brasil Universo, a primeira vencedora foi a gaúcha Deise Nunes, em 1986. Depois dela, houve um jejum de 30 anos, até que a paranaense Raíssa Santana fosse eleita em 2016, seguida pela piauiense Monalysa Alcântara, em 2017.
Já no Miss Brasil Mundo, em 2015, Ana Luísa Castro foi a segunda negra a conquistar o posto em mais de 50 anos de concurso –a primeira foi Joyce Aguiar, em 2001. Castro renunciou ao título menos de 24 horas após conquistá-lo, por ser casada. Depois dela, nenhuma outra negra venceu a coroa.