Na Convenção Democrata, Michelle Obama afirma que ‘a esperança está voltando’ com Kamala Harris

Ex-primeira dama citou a proximidade da vice-presidente dos problemas da classe média, criticou Trump e convocou a militância para as ruas

Uma das protagonistas da segunda noite da Convenção Nacional Democrata, que formalizou a candidatura da vice-presidente Kamala Harris à Presidência dos Estados Unidos, a ex-primeira-dama Michelle Obama afirmou em discurso que “há algo de mágico no ar”, citando o “poder contagiante da esperança”, e que essa esperança “está voltando” ao país.

— EUA, a esperança está voltando — afirmou Michelle Obama — [Os EUA] têm a chance de vencer os demônios do medo, da divisão e do ódio que nos consumiram e continuar buscando a promessa inacabada desta grande nação, o sonho pelo qual nossos pais e avós lutaram, morreram e se sacrificaram.

Falando minutos antes do marido, o ex-presidente Barack Obama, ela passou uma mensagem de unidade nacional e elevou ainda mais os ânimos da campanha de Kamala aos milhares de democratas que sonham com uma vitória nas eleições de 5 de novembro. Mas ela iniciou a fala se lembrando de sua mãe, Marian Robinson, que morreu em maio — essa foi a última vez que a ex-primeira-dama esteve em Chicago.

— A mulher que me mostrou o significado do trabalho duro, da humildade e da decência. A mulher que elevou minha bússola moral e me mostrou o poder da minha própria voz — afirmou. — Eu nem tinha certeza se seria firme o suficiente para ficar diante de vocês esta noite. Mas meu coração me obriga a estar aqui, por causa do senso de dever que sinto em honrar sua memória e nos lembrar de não desperdiçar os sacrifícios que nossos antepassados ​​fizeram para nos dar um futuro melhor.

Prestando uma homenagem à sua mãe e lembrando das dificuldades enfrentadas ao longo de sua vida, fez uma comparação com a também difícil trajetória de Kamala até chegar à Vice-Presidência dos EUA.

— De uma família de classe média, Kamala traçou seu caminho até se tornar vice-presidente dos Estados Unidos. Minha garota Kamala Harris está mais do que pronta para este momento. Ela é uma das pessoas mais qualificadas a concorrer ao cargo de presidente — declarou. — Ela entende que a maioria de nós nunca terá a graça de fracassar e se manter à frente. Nunca nos beneficiaremos da ação afirmativa da riqueza geracional.

Michelle Obama desferiu ataques contra Donald Trump, afirmando que “não podemos mudar as regras para que sempre possamos vencer”, que “ninguém tem o monopólio do que significa ser americano” , e citou uma declaração que tem custado caro à campanha do republicano, sobre o que considera ser “empregos negros”, expressão usada em um comentário negativo sobre os imigrantes.

— Por anos, Donald Trump fez tudo o que podia para tentar fazer as pessoas nos temerem. Veja, sua visão limitada e estreita do mundo o fez se sentir ameaçado pela existência de duas pessoas bem-sucedidas, trabalhadoras e altamente educadas que por acaso eram negras — questionou Michelle Obama. — Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está procurando atualmente pode ser um desses empregos para negros?

Usando a energia que permeia a campanha de Kamala Harris desde sua confirmação de fato, no mês passado, conclamou a militância para ir às ruas garantir a vitória em uma disputa que, segundo ela, será definida voto a voto. Para Michelle, “ao abraçarmos este renovado sentido de esperança, não nos esqueçamos do desespero que sentimos”, uma referência aos anos de Trump no poder.

— Deixe-me dizer uma coisa. Agir de forma pequena nunca é a resposta. É o oposto do que ensinamos aos nossos filhos. É mesquinho, doentio e, francamente, não é presidencial.— disse Michelle, sob aplausos do público. — Cabe a nós lembrar o que a mãe de Kamala disse a ela: “Não fique sentada reclamando. Faça alguma coisa”.

Mantendo uma amizade de longa data, os Obamas foram um dos primeiros a anunciar apoio à candidatura de Kamala, após a tumultuada saída de Biden da corrida. Em uma ligação, posteriormente divulgada em vídeo pela campanha da democrata, Michelle parabenizou Kamala, a quem chamou de “minha garota” e disse estar orgulhosa e animada com a candidatura da primeira vice-presidente mulher dos EUA.

Em uma mensagem nas redes sociais, em que compartilhou o vídeo, Michelle acrescentou: “Barack e eu estamos muito animados em endossá-la como a indicada democrata por causa de sua positividade, senso de humor e capacidade de trazer luz e esperança para as pessoas em todo o país. Nós te apoiamos, Kamala”.

Popularidade inquestionável

Obter o apoio dos Obamas, mas especialmente de Michelle, não é algo banal. Pelo contrário. Apesar de reiteradamente rejeitar a ideia de um dia ocupar um cargo político, a ex-primeira-dama de 60 anos ainda é uma das vozes mais populares e influentes do Partido Democrata. Prova de sua popularidade é que, depois da desastrosa performance do presidente Joe Biden no debate presidencial contra o republicano Donald Trump, em junho, havia burburinhos — ao menos extraoficiais — sobre seu nome ser uma possível alternativa para derrotar o ex-presidente em novembro.

— Michelle está em uma categoria completamente diferente — disse ao Washington Post David Axelrod, que serviu como estrategista-chefe de Obama. — Ela nunca pensou em si mesma como “na política”. Ela era uma recruta. Ela é ainda mais como uma figura cultural.

Antes de Biden ceder à pressão e desistir — um processo do qual o ex-presidente Obama teria participado nos bastidores —, tornando Kamala sua herdeira na chapa, a ex-primeira-dama foi a única democrata considerada capaz de derrotar Trump em uma pesquisa de julho da Reuters/Ipsos, com 50% contra 39%. Na época, até mesmo Kamala — que hoje está na frente de Trump em pesquisas nacionais — estava atrás do magnata, com 42% a 43%, em um confronto até então hipotético. Também foi o único nome a obter aprovação da maioria na sondagem.

Além disso, segundo uma pesquisa do YouGov, Michelle também é a quinta figura pública mais popular nos EUA, uma posição acima até mesmo de seu marido.

Desde 2008, quando Obama fazia sua primeira campanha à Presidência, Michelle participou e discursou em todas as Convenções Nacionais Democratas. Em 2020, quando o evento foi realizado parcialmente de forma virtual devido à pandemia de Covid-19, Michelle obteve o maior engajamento on-line entre todos os oradores, superando inclusive seu marido, de acordo com o NewsWhip, um site que monitora as mídias sociais e o tráfego digital.

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