Na cor vermelho carmim escarlate: um breve foco em escrituras das afro-brasileiras Elisa Lucinda e Nega Gizza

Esse trabalho propõe reflexão sobre escrituras criadas, respectivamente, por Elisa Lucinda e Nega Gizza. Duas mulheres afro-brasileiras. Um texto cultural de cada uma. Do livro O Semelhante foram pinçados versos de Safena. Do disco Na Humildade, a letra de Prostituta. A intenção é fazer uma incursão no tema relações de gênero, tendo em vista o seu complexo cruzamento com questões étnico-raciais. Como ferramentas básicas: análises de aspectos relacionados a mulheres negras na diáspora (Barbara Christian e bell hooks), sugestões sobre a pós-modernidade (Zygmunt Bauman), a perspectiva foucaultiana de poder.

Por Diony Maria Soares1, Fazendo Genero

 

Começo com uma breve revisão introdutória sobre a terceira onda do movimento feminista, na qual a presença de escritoras afro-descendentes é fundamental. Nascida durante os anos 80 do século XX, a terceira onda analisa criticamente a tendência das feministas das décadas de 60 e 70 de usarem um conceito generalizado de mulher. As feministas da terceira onda centram-se nas implicações práticas e teóricas das diferenças entre as mulheres relativas à distribuição desigual de bens e serviços, advinda da hierarquia do sistema mundial, à raça, à etnia, à classe e à orientação sexual. Destacam-se neste segmento, escritoras e teóricas afro-americanas, entre elas, Alice Walker, bell hooks, Gayl Jones, Ntozake Shange, Paule Marshall, Toni Morrison. Já em meados da década de 90, bell hooks analisava os percalços enfrentados por afro-americanas que se aventuram escolher trilhar por caminhos do trabalho intelectual.

Paralelo a isso, no Brasil contemporâneo ainda é baixa a visibilidade de mulheres negras reconhecidas como escritoras legítimas. Segmentos especializados eventualmente pontuam a produção realizada por Conceição Evaristo, Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Miriam Alves, entre outros poucos nomes. Provavelmente, no entanto, a obra de Carolina Maria de Jesus continue sendo o referencial mais significativo, com destaque para o célebre livro Quarto de Despejo, publicado em 1960 e traduzido em pelo menos 13 idiomas.

Dito isso, é preciso demarcar que a abordagem aqui proposta não é a dos Estudos Literários. Incursões livres por tal campo teórico podem ser bem-vindas, mas me agradam mais aproximações com os territórios dos Estudos Culturais, em especial aspectos relacionados com as produções culturais na sociedade de controle midiatizada.

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