Não somos o braço direito da sociedade

É a semana do Dia Internacional da Mulher. A televisão exibe comerciais de presentes ideais para mulheres e ruas exibem promoções em suas vitrines. As escolas são decoradas com rosas e lembrancinhas são levadas pelos alunos. Cidadãos encomendam rosas nas floriculturas e saem carregados de caixas de bombons pelas lojas da cidade. Mas será que tantas homenagens compradas são suficientes para reconhecer o nosso papel enquanto mulher na sociedade? Só um dia para nos “agradecer”? “Ah, vocês também são representadas no Dia das Mães! ” . Muito bem, vamos conversar!

por Kamila Dinucci enviado para o Portal Geledés

São inúmeras homenagens à nós. Somos elogiadas por sermos capazes de gerar vida, por chefiarmos uma família e por sermos o braço direito da sociedade. A gente cuida do marido, das crianças, de mãe, de pai, avós… A gente tenta cuidar do mundo e às vezes não sobra tempo para cuidarmos de nós mesmas. Mas queremos que saibam que mulheres fazem bem mais do que isso.
Será que administramos somente o lar? E se contarmos a vocês que também administramos empresas, restaurantes e grandes obras? E também somos heroínas! Lecionamos diariamente para centenas de crianças e jovens, dando o melhor de nós em nome de uma educação de qualidade. Somos muito inteligentes!

E não pilotamos só o fogão! A gente também pilota moto, barco e você pode ser o nosso próximo passageiro por um avião pilotado por nós. “Ah, mas vocês são péssimas na baliza! “. Ora, todos nós, homens e mulheres, somos seres em construção. Afinal, ninguém nasce sabendo de nada: a gente se aperfeiçoa com o tempo.

Também somos mulheres solteiras. Boa parte de nós temos apenas animais, plantas e uma horta no quintal para dar atenção. Cozinhamos e cuidamos da casa porque amamos a nossa independência. Trabalhamos, estudamos e construímos o nosso futuro porque acreditamos que somos capazes de alcançar o inalcançável. E com essa rotina tão cansativa, a gente senta num bar ou assiste apenas um filme porque também amamos a nossa companhia.

Somos a resistência! Somos negras, indígenas, quilombolas, latinas, imigrantes e uma diversidade étnica que ainda não é totalmente ouvida pela sociedade. Mas isso não nos enfraquece. A desigualdade, o racismo e a falta de representatividade nos ferem todos os dias. Vamos botar a boca no trambone quantas vezes forem necessárias!

Agradecemos as rosas e os textos nas redes sociais. Mas queremos mais do que isso! Repararam que a sociedade nos cobra tanto para sermos belas, contanto que tenhamos um corpo magro, sem celulite e sem estrias? E as nossas roupas? Por que a sociedade ainda compara nível de inteligência com o tamanho da nossa saia? E se somos perseguidas, assediadas e violentadas a culpa não é de quem nos atacou, e sim, do tamanho da roupa, horário local… Chega!

Tiveram muitas mulheres que lutaram e morreram pela liberdade que temos. E hoje, somos mulheres que damos continuidade nessa luta. Mas ainda não somos totalmente ouvidas. Ainda não ocupamos todos os cargos no mercado de trabalho e não somos bem pagas pelo nosso esforço. E por mais que gritemos e queremos que o mundo ouças a nossa voz, muitos ainda abafam os ouvidos. Enquanto muitas de nós são discriminadas e violentadas, muitos vendam os olhos.

E por mais que demore longos anos para que sejamos reconhecidas, continuaremos em frente. Terá mulher na casa, na cozinha, na escola, na política, na arte e pilotando uma espaçonave. Somos atletas, faxineiras, enfermeiras, engenheiras, costureiras… A gente é uma lista enorme de certezas.
Porque não somos o braço direito da sociedade. Somos parte do mundo. Somos sujeitos ativos e só vocês não querem ver. Porque todo dia é o nosso dia. Todo dia nos orgulhamos de sermos mulheres.


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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