“Não tenho interesse em participar”, diz MV Bill sobre ‘A Fazenda’

Os rumores a respeito de uma suposta participação de MV Bill no reality show A Fazenda, da TV Record, foram prontamente negados pelo rapper tão logo foi iniciada a entrevista que concedeu ao programa Tas ao Vivo, exibido nesta quarta-feira (17), ao vivo, direto dos estúdios do Terra.

“Recebi um convite no ano passado e, assim que aconteceu isso, disse educadamente ‘não’. Não tenho interesse algum em participar”, afirmou o rapper de 39 anos, conhecido principalmente por seu ativismo social e pelas críticas ao racismo e às políticas injustas praticadas no País. “Na semana passada, tive que me explicar aos meus seguidores que não faria o reality. Eu nunca estive no programa e o pior de tudo foram as pessoas na internet falando que eu tava escondendo o jogo, que era segredo. Não tenho nenhum preconceito contra reality show, mas digo para as pessoas que desconfiem (de rumores) com moderação.”

A justificativa de MV Bill para a recusa de estar no programa, famoso por muitas vezes tentar resgatar carreiras de artista em baixa, não é o fato de ele ser contra uma abordagem mais popular de sua carreira. Pelo contrário. Nos últimos anos, o rapper aceitou convites para fazer parte do elenco da novela teen Malhação e da competição Dança dos Famosos, exibida pelo Domingão do Faustão. “O lance é que Malhação foi um trabalho de atuação, uma experiência que me interessa. E o Dança, apesar de ser considerado também um reality show, não tem confinamento, além de bater com minha vontade de aprender dança de salão – apesar de eu não ter aprendido nada.”

Mas o assunto que realmente interessa a MV Bill é o debate em torno das possibilidades de se construir um Brasil melhor e mais justo para sua população. Co-fundador da Cufa (Central Única das Favelas), que tem como objetivo promover atividades de educação e lazer voltadas para pessoas de baixo poder aquisitivo, o rapper vê com maus olhos, por exemplo, a forma como políticos cariocas exaltam supostas benfeitorias na cidade, além de não aceitarem críticas sobre elas.

“Há um exagero na propaganda positiva. Eu fui chamado de negativo e até de não carioca, no início da carreira, por criticar o Rio”, contou o músico, citando a forma precária como projetos são realizados no País, algo patente em relação aos investimentos dispendidos em obras para a Copa do Mundo 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016 nos últimos anos. “O Panamericano, por exemplo, não deixou legado algum para o Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo que tem o lado positivo de a cidade receber o evento, tem esse lado preocupante: nenhum dos equipamentos usados no Pan foram utilizados depois. Eles foram sucateados. Então fico preocupado com o tamanho dos investimentos para esses próximos eventos.”

Desgostos
Outro fator da realidade nacional que causa desgosto em MV Bill é notar a dificuldade que os brasileiros têm em enxergar a real situação do País. Mesmo com o crescimento da classe média, da saída de pessoas antes miseráveis da linha da pobreza e da mobilização de internautas em exaltar pontos polêmicos da realidade nacional para serem discutidos por meio da internet, ele ainda acredita que existe uma “perda na capacidade de indignação” por parte da população em geral, que acaba aceitando as injustiças e a má gestão de políticos como algo natural.

 

“Isso me deixa puto. Eu penso, ‘poxa, ninguém tá vendo o que tá acontecendo?’. Sou um cara de antes da internet, sempre trabalhei na prática. E a verdade é que nao dá pra mudar uma realidade pela internet. Grandes eventos recentes espalhados pelo mundo começaram na internet, mas terminaram na rua. A indignação na rua continua tendo um efeito muito maior na realidade”, opinou.

Defensor das cotas nas universidades como algo pontual, a ser feito concomitantemente com uma melhora na educação pública básica para os cidadãos, MV Bill vê com positividade as melhoras que a ação política tem trazido à vida daqueles que não teriam chance de cursar o Ensino Superior caso elas não existissem.

“Quem é cotista se deu bem e mandou bem, porque sabe que não vai ter outra chance, que é para estudar agora. O problema é que, hoje, a educação é artigo de luxo. Eu queria ver se todos os gestores da política fossem obrigados a colocar os filhos em escolas públicas. O ensino ia melhorar.”

Com tantos temas mais relevantes socialmente para se debater, o novo trabalho de estúdio de MV Bill acabou sendo colocado para um segundo plano no Tas ao Vivo. Mas, naturalmente, ele foi tratado na entrevista, bem no final, quando o rapper exaltou a felicidade de ser finalmente dono de todo o seu trabalho – e confessou: ao contrário de muitos artistas, ele é a favor de ceder música gratuita aos fãs, a quem prefere chamar simplesmente de colaboradores.

“Antes de gravar o novo disco, a gravadora decidia tudo o que eu ia fazer. Mas hoje eu sou dono da minha obra, comprei o direito de todas as minhas músicas. Já tive três músicas minhas usadas pelo UFC e tenho uma parceria com um escritório do Rio que faz com que eu receba todos os meus direitos. É ótimo”, disse, prometendo o novo trabalho para o final de maio e enfatizando as possibilidades e facilidades que a tecnologia tem trazido à sua carreira.

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“Estou tendo a chance de agora fazer o disco e, em paralelo a ele, clipes de música. Faço lançamento na internet mesmo, e as pessoas me ajudam a compartilhá-las. Já tenho dois videoclipes prontos e estou criando um sistema pra colocar para venda online o disco e outro até de fazer 30 mil cópias para distribuir nos shows”, finalizou, sorridente.

 

 

Fonte: Terra

 

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