Nigeriano realiza sonho de abrir restaurante que reúne culinária e cultura de 54 países africanos no DF

‘Hakuna matata’, expressão em idioma suaíli que significa ‘não se preocupe’ é o lema do restaurante. Para o nigeriano que se tornou chefe de cozinha 2017 foi o ano da mudança.

 

Chidera Ifeanyi na fachada do restaurante africano aberto no DF (Foto: Marília Marques)

Viagem gastronômica

As origens dos pratos percorrem o continente de uma ponta a outra. O carro-chefe é o “yassa”, tradicionalmente servido no Senegal. Frango, muito molho, cebola, mostarda e um ingrediente especial – “segredo do chefe”, explica Chidera.

Tão famoso quanto, é o “fufu”. A massa macia, cozida e pouco temperada é preparada à base de milho, mandioca ou arroz, conforme a região. O bolo é comido com as mãos e também servido com molhos.

Okro soup e fufu, pratos servidos no restaurante africano no DF, Simbaz (Foto: Divulgação)

Na seção de entradas, o destaque do cardápio é a banana-da-terra, servida em forma de chips. Um outro prato conhecido dos brasileiros é o acará, o famoso bolinho de feijão fradinho, que no restaurante é frito em óleo de soja e não em azeite.

“Na Nigéria comemos ele puro, no café da manhã ou na janta.”

Molhos e temperos utilizados nos pratos de restaurante africano no DF (Foto: Divulgação)

Diversidade

Além da viagem gastronômica, a ideia do estabelecimento é mostrar aos frequentadores um pouco dos 54 países que compõem o continente e suas respectivas capitais.

“É uma forma de dar uma contribuição do Simbaz para a comunidade de Brasília”, diz Chidera.

Nas paredes, quadros pessoais representam países como o Benim e a Nigéria, terra de origem do jovem empresário. O objetivo, segundo ele, é “mostrar a África para brasileiros e para o mundo”, indo de encontro à invisibilidade imposta às culturas africanas por mais de dois séculos.

“Alguns vêm e não têm noção de como é a culinária africana. Veem a comida saborosa e a apresentação legal. A maioria não sabia que era assim.”

Com essa proposta, o empresário sonha em ampliar a utilização do espaço para oferecer também noites de conversação em inglês e em francês. Os idiomas são considerados oficiais em grande parte dos países da África, em razão das influências coloniais.

Os novos planos também incluem aulas de dança – kizomba e zouk –, um cineclube de filmes africanos e um bazar de roupas e tecidos tradicionais do continente.

Empresário pousa ao lado de quadro com mapa do continente africano (Foto: Marília Marques/G1)

Nigéria-Brasília

A história do Simbaz é carregada de significados pessoais, e revela um pouco da relação entre o Brasil e o continente africado. A chegada de Chidera Ifeanyi ao Brasil foi em 2008, acompanhado dos pais que vieram trabalhar no país.

Desde então, a capital federal se fez morada para a família. A veia empreendedora, segundo Chidera, é compartilhada com os irmãos, com quem divide a sociedade no restaurante.

O aprendizado do português para o falante nativo da língua inglesa aconteceu aos poucos. Ele conta que se tornou fluente em oito meses – o suficiente para conquistar também uma vaga no disputado curso de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB).

Com o tempo, o amor pela gastronomia foi superando o interesse pelos circuitos elétricos e o jovem de espírito inquieto passou a conciliar o curso da UnB com a formação técnica em gastronomia. O talento com a mistura de temperos levou o nigeriano a cozinhar, inclusive, para as delegações da Nigéria na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas Rio-2016.

Mapa do continente africano (Foto: Google/Reprodução)

A ideia de abrir o restaurante no DF se tornou mais forte em 2009, após uma viagem ao Canadá. No país norte-americano, Chidera lembra ter “andado muito” para encontrar uma churrascaria que servia o tradicional churrasco africano, com temperos muito específicos.

Na volta ao Brasil, o desejo começou a se desenhar melhor, mas era desestimulado por quem dizia que “em Brasília não seria aceito”, relembra ele. Desde então, planos e metas foram amadurecidas até julho deste ano, quando o Simbaz ganhou sede fixa, identidade e clientela, “somente no boca a boca” completa o empreendedor.

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