Um levantamento com 331 executivas negras do Brasil, mostrou que 57% delas são a única liderança negra feminina no local em que atuam. O número é fruto da 4ª edição da pesquisa Mulheres Negras na Liderança, realizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil e a 99jobs, divulgada em julho deste ano. A pesquisa revela ainda que uma mulher negra chega ao primeiro cargo de liderança entre 36 e 44 anos, enquanto um homem branco alcança a mesma posição entre 25 e 28 anos.
No estudo de 2023, 81% das empresas figuraram com, no máximo, 10% de mulheres negras em cargos de liderança.
“Esses dados revelam como o mercado de trabalho brasileiro ainda enfrenta desafios significativos para garantir inclusão efetiva e representação equitativa”, pondera Márcia Costa, vice-presidente de gestão de pessoas da Aegea Saneamento.
Metas concretas
Para mudar a realidade diagnosticada pela pesquisa, é preciso olhar para as dificuldades constatadas pelas próprias entrevistadas para chegar a um cargo de liderança: racismo estrutural (52%), machismo institucional (48%), conciliar objetivos de carreira com atividades pessoais (43%), acesso a experiência (34%) e conciliar objetivos profissionais com atividades familiares (30%).
Para Keila Martins, coordenadora do programa “Respeito Dá o Tom”, da Aegea, é fundamental que as organizações não adiem mais o diálogo sobre as questões estruturais.
“Como mulher negra, eu e toda a minha raça somos constantemente impactadas por essas estruturas, mas a transformação é possível por meio de ações assertivas e estratégicas. As empresas precisam adotar medidas que busquem não somente superar os desafios, mas também fomentar a cultura de desenvolvimento com foco especial às mulheres negras”, defende.
No caso do “Respeito Dá o Tom”, que teve início em 2017, foram realizadas mais de 500 ações focadas em letramento, educação e comunicação. Em 2022, a Companhia assumiu o compromisso de ampliar a participação de pessoas negras e de mulheres em posições de liderança.
“As metas, a serem alcançadas até 2030, consistem em aumentar a representatividade de talentos negros e de mulheres em cargos de liderança, de 17% para 27%, e de 32% para 45%, respectivamente”, pontua Keila Martins.
Lucratividade acima da média
Como resultado, as empresas com maior diversidade atingem melhor desempenho financeiro, como indica o relatório “Diversity Wins: How Inclusion Matters“, da McKinsey & Company, de 2020. Segundo ele, empresas no quartil superior de diversidade de gênero entre os executivos seniores eram 25% mais propensas a ter lucratividade acima da média, e aquelas com maior diversidade étnica e cultural na liderança tinham 36% mais probabilidade.