No dia de Cosme e Damião nossa fartura está no caruru, patrimônio imaterial da Bahia 

Enviado por / FonteFernanda Meneses

Artigo produzido por Redação de Geledés

“São Cosme mandou fazer duas camisinhas azul, no dia da festa dele, São Cosme quer caruru”

São Cosme E São Damião – Mariene De Castro

Com um gostinho de doce misturado ao sabor do caruru, setembro é o mês de celebração dos santos gêmeos Cosme e Damião que nas religiões de matriz africana, são os orixás gêmeos, filhos de Xangô e Iansã: os Ibejis. Este ano, o caruru, prato tradicional que acompanha essas festividades, foi oficialmente reconhecido como patrimônio imaterial da Bahia pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC), reforçando a importância dessa prática cultural e religiosa na preservação da identidade baiana.

Embora, na tradição católica, Cosme e Damião sejam santos médicos conhecidos pela caridade e dedicação aos pobres, nas religiões afro-brasileiras, os Ibejis são as representações da alegria, inocência e vitalidade. E ainda que seja comum associar a distribuição de doces à festa dos santos gêmeos, essa prática não é originalmente católica. Na verdade, ela tem suas raízes no período colonial do Brasil, quando pessoas  escravizadas fizeram de sua fé um símbolo de resistência preservando  tradições e devoções.

Foto: Fernanda Meneses

Esse sincretismo religioso traz para conversa também a oferta de um dos principais pratos da culinária baiana: o caruru. Se no resto do país é comum oferecer doces para as crianças no dia 27 de setembro, na Bahia, o caruru de sete meninos é o verdadeiro protagonista. O prato composto por caruru, xinxim de frango, farofa de dendê, vatapá, feijão fradinho, feijão preto, arroz, banana da terra frita, acarajé, rapadura, cana-de-açúcar, pipoca e outros ingredientes, é servido em terreiros, nas casas das pessoas e até mesmo em restaurantes primeiro a sete meninos, nos que comem ao som de músicas cantadas para celebrar as entidades.

O caruru dos sete meninos, que reúne as comidas de todos os orixás, se diferencia da tradicional comida baiana por sua simbologia. Segundo um mito, Exu costumava roubar o “amalá”, um prato de Xangô semelhante ao caruru, mas que incluía carne e pimenta. Para resolver a questão, os Ibejis, filhos gêmeos de Xangô, propuseram um desafio a Exu: se ele parasse de dançar antes deles, nunca mais poderia comer o amalá. Se revezando, os gêmeos conseguiram cansar Exu e como recompensa, pediram que o amalá fosse preparado sem carne e sem pimenta, o que deu origem ao caruru. 

Foto: Fernanda Meneses

Quem oferece o caruru ou no bom baiano “dá caruru”, geralmente está pagando uma promessa própria ou seguindo uma tradição familiar ou até mesmo encontrou um quiabo inteiro em alguma das vezes em que comeu o prato e agora precisa, também, oferecê-lo. Essa prática é tão importante na cultura baiana que quem faz aniversário durante o mês, geralmente escolhe o prato como a comida principal da festa e a procura pelos ingredientes influencia diretamente no preço deles, principalmente do quiabo, camarão, cebola e azeite de dendê, base da preparação. 


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E aí, bora comer um caruru hoje?

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