No país das mulheres fortes

Islândia conquista o cume da igualdade com o impulso tenaz do feminismo. Viagem pelas vitórias e desafios da nação que abriu o caminho no poder político e na conciliação

Por ANA ALFAGEME, Do El País 

Oito mulheres brancas diante do Parlamento da Islândia, da esquerda para a direita, a rapper Duridur B. Johansdottir, a líder feminista Brynhildur H. Ómarsdóttir, a educadora Margrét Pñ Ólafsdóttir, a deputada Rósa B. Brynjólfsdóttir, a rapper Ragnhildur Jonasdottir, a professora Hanna B. Vilhjálmsdóttir, a ex-deputada e especialista Kristín Ástgeirsdóttir e a vereadora Heida B. Hilmisdóttir
Da esquerda para a direita, a rapper Duridur B. Johansdottir, a líder feminista Brynhildur H. Ómarsdóttir, a educadora Margrét Pñ Ólafsdóttir, a deputada Rósa B. Brynjólfsdóttir, a rapper Ragnhildur Jonasdottir, a professora Hanna B. Vilhjálmsdóttir, a ex-deputada e especialista Kristín Ástgeirsdóttir e a vereadora Heida B. Hilmisdóttir, diante do Parlamento da Islândia. (Foto: CAROLINA SALAS)

Na Islândia, o subsolo incandescente está mais próximo da superfície do que em qualquer outro lugar do mundo. “O feminismo aqui é como essa lava subterrânea que de vez em quando, como os vulcões, entra em erupção.” Os olhos determinados de Kristín Ástgeirsdóttir, ex-deputada do partido exclusivamente feminino Assembleia das Mulheres e diretora do órgão governamental de igualdade durante 10 anos, se cravam na interlocutora. A janela de sua sala em Reykjavík deixa entrar um sol de inverno que quase não se vê. É esse magma dinâmico que fez dessa ilha inóspita, com uma população de apenas 338.000 pessoas, a Meca da igualdade. Isto é ratificado pela classificação do hiato de gênero do Fórum Econômico Mundial de nove anos para cá. Praticamente todas as mulheres trabalham (86%), são campeãs mundiais em educação e poder político, e têm paridade nos conselhos das empresas públicas. Dispõem há 15 anos da licença de paternidade (de 90 dias) equiparada à de maternidade e seu país foi o primeiro a exigir que as empresas demonstrassem que pagam igual ambos os sexos, algo que a Espanha, por exemplo, só decretou agora.

O que não significa, como elas enfatizam, que vivem no paraíso. Sob a máscara da equidade existe outro amálgama hostil em que se misturam a violência sexual, a disparidade salarial (16%), as reuniões empresariais em que a gravata é necessária (nenhuma mulher tem assento nas diretorias das empresas cotadas em bolsa) e a misoginia. É como se as tensões geológicas que conformam a nação mais setentrional da Europa se refletissem na guerra entre o enorme impulso feminista e o mercurial resíduo do patriarcado.

Com a mesma aspereza dos fluxos de lava que cobrem seu remoto país, as islandesas se levantaram desde o início do século XX exortadas pelos movimentos sufragistas que percorreram o mundo, como recorda a diretora da Associação Islandesa dos Direitos da Mulher, Brynhildur Heidar-og Ómarsdóttir, fundada em 1907. “Nosso sucesso também se deve ao fato de estarmos no clube das cinco nações nórdicas, as mais igualitárias, e de vivermos em um país pouco povoado em que as mudanças, se houver vontade política, podem ser feitas rapidamente.” Nas eleições municipais de Reykjavik em 1908, em que a maioria das mulheres foi autorizada a votar, houve uma lista exclusivamente feminina. A lista elegeu quatro dos 12 vereadores. Em 1922, uma formação similar conquistou o Parlamento.

Leia a matéria completa em El País 

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