O caso dos médicos cubanos e as elites bárbaras do Brasil – Por: Dennis de Oliveira

Uma “jornalista” potiguar escandalizou as redes sociais ao dizer que médicos cubanos pareciam “empregadas domésticas”. Disse ela ainda que médico precisa ter “postura de médico” o que não acontecia com os profissionais cubanos. Por que esta jornalista escandalizou?

Porque ela expressou claramente o que pensa parte significativa dos segmentos sociais dominantes e médios do Brasil: para eles, negros e negras são tolerados desde que em serviços subalternos. Esta é a “tolerância” racial brasileira.

Foi nesta linha que vários fizeram comentários agressivos ao post anterior em que um aluno caboverdiano denuncia ter sido vítima de agressão com motivos racistas por estudantes da Politécnica. Não foram todos, mas em vários dos comentarios nota-se o ódio transparecendo como se um aluno negro não pudesse esboçar nenhuma reclamação, sequer do fato da segurança da universidade simplesmente não ter feito nada.

Foi nesta linha de raciocínio que vários bradaram contra a proposta do Conselho Nacional de Educação de advertir que uma obra infantil de Monteiro Lobato tinha conotações racistas.

E é neste diapasão que se manifestam as vozes contrárias à implementação das cotas nas universidades.

Este tipo de racismo que tolera o negro e a negra desde que “no seu devido lugar” articula-se com este pensamento elitista de boa parte da classe médica brasileira que simplesmente não quer que se tenham mais profissionais da medicina nos lugares em que mais precisam.

Os médicos brasileiros não querem ir para lá e não querem que ninguém vá. Pior: uma das lideranças destas entidades médicas disse que irá orientar os seus associados a não atenderem pacientes eventualmente vítimas de erros médicos de profissionais de fora. Sentimento ético profundo. No fundo, no fundo, o que esta gente quer é que os pobres morram todos.

Os médicos cubanos que chegaram ao Brasil foram vaiados por um grupinho destes inconformados. Uma colunista da mídia hegemônica chamou o avião que trouxe os profissionais de Cuba de “navio negreiro”. Para esta gente, se tivessem trazidos negros escravizados para atender as elites seriam aplaudidos. Mas negros e negras para vestirem o “manto sagrado” branco da medicina, nunca. Principalmente se for para atender a população mais carente.

Da revolta com este pensamento, espera-se que pelo menos sirva de aprendizado: nada mais incivilizado e bárbaro que o pensamento da elite brasileira.

Fonte: Quilombo

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