“Se o seu gênero no Facebook está configurado no feminino, você provavelmente já deve ter visto um destes anúncios” – é o que diz a página no Facebook Media Vs. Women, que publicou essa semana uma montagem com recortagens preocupantes de propagandas exibidas na rede social.
Na imagem, é possível ver fotos de mulheres em estágios extremos de magreza, com legendas conflituosas oferecendo o alcance de tal magreza às usuárias do Facebook. Esse tipo de propaganda levanta uma suposta polêmica ao incitar métodos radicais de emagrecimento e reforçar a eficiência dos mesmos. “Ao clicar no anúncio, somos levados a uma série de páginas falsas de grandes veículos da mídia, como o R7 ou a Revista Boa Forma e até mesmo a CNN, com apoio e depoimentos falsos de celebridades, incluindo o uso indevido da imagem de celebridades como Ivete Sangalo e Britney Spears. O nome dos supostos medicamentos varia (Cenalet, Max Burn) e não há qualquer indicação do que são as substâncias ou se estão aprovadas para a venda. Chegam a sugerir o uso durante a gravidez.” – diz o texto que acompanha a montagem.
A partir disso, resta o questionamento inevitável: o que leva o Facebook a aprovar tais propagandas?
É óbvio que uma empresa com o porte do Facebook tem setores próprios responsáveis pela área publicitária de sua página, assim como pela análise das propagandas anunciadas por terceiros. O Facebook recebe dinheiro por cada propaganda e seus algoritmos internos tratam de selecionar quais propagandas aparecem para quais usuários. Essa seleção é influenciada por vários fatores culturais, incluindo a reprodução constante dos papéis de gênero – isso significa que o mero assinalar do sexo feminino no seu perfil é suficiente para que propagandas dirigidas para as mulheres, tais como as de emagrecimento, apareçam.
A gigante rede social já conta com um longo histórico de problemas relacionados à misoginia, contando com uma política de uso que permite imagens de apologia a violência contra mulheres, mas excluindo campanhas de câncer de mama por mostrarem o seio feminino. Assim, não é surpreendente que propagandas absurdas como as da foto, envolvendo uma perda de peso tremenda e perigosa, continuem a ser exibidas. O que é difícil de engolir é que o Facebook não tenha sequer uma equipe para passar o olho sobre os anúncios antes de publicá-los. Não há qualquer preocupação em informar a composição, os efeitos colaterais ou mesmo a legalidade das substâncias vendidas. A responsabilidade por isso, nesse caso, não é somente de quem paga para ter seu anúncio veiculado nas laterais da página, mas também da empresa que vende esse espaço sem qualquer interesse quanto a segurança de quem clica.
Transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia são reforçados constantemente pelas imagens de mulheres magras exibidas em toda a mídia. Há até mesmo uma cultura de “thinspiration” , que trata de motivar as mulheres a emagrecerem induzindo hábitos perigosos para que possam alcançar o objetivo. Não há critério que coloque a saúde acima do emagrecimento; o que importa é perder gordura, não importa como isso aconteça.
É por conta disso que não basta questionar a cultura da magreza; é preciso também criticar aqueles que reforçam padrões tão absurdos, induzindo hábitos perigosos e o consumo de substâncias nocivas. Se redes sociais como o Facebook não tomam providências para que esses anúncios deixem de ser exibidos livremente em suas páginas, é preciso que lutemos para que haja um levantamento dos fatos e possibilidade de responsabilização.
Fonte: Revista Fórum