O livro Canções de Amor e Dengo da escritora Cidinha da Silva, é estro suave, soou em mim como um canto matutino de um passarinho que dengosamente nos desperta em placidez com a sua lírica amorosa. É escrita de dândi feminina que sabe que as palavras (apesar de como a autora diz: não se encastelar no brilho delas) é encantamento que pode se imiscuir com o ritmo da batida do coração e enredar paixões – afeto dengoso das musas.
Por Davi Nunes Enviado para o Portal Geledés
Escrevo isso porque a cartografia da obra é galante, se delinea inicialmente com os aforismos e nessa parte do livro me fez lembrar, desconfio que seja pela natureza proverbial do aforismo mesmo, da poesia conceptista barroca, aparece aí o jogo de ideias sensíveis e uma retórica sutil na composição dos versos. Como se pode observar no poema Definitiva: “Não me encantam as que se acham; me derrubam as que são” como também no poema É coisa, viu? “Era a mulher certa, sim! O relógio da vida é que andava desgovernado”.
A escritora vai em seguida, no corpo da obra, tecendo alguns pequenos poemas, onde a lírica amorosa vai delineando os versos, o eu lírico feminino e galanteador da poetisa aparece não como à tradição romântica do século XIX, ou seja, musa inatingível e se alcançada, derreado o amor em tragédia.
Em Canções de Amor e Dengo a musa é outra, tem o azeviche de uma madrugada enluarada a cobrir a pele, além de Cidinha utilizar como forma estética algo que está bem relacionado à forma de afetos de nós, negras e negros, que é o dengo. Deste modo, o livro se sucede, vai ganhando em seu corpo outros membros, aparecem a dor, o desamor, a multidimensionalidade de afetos e sensações humanas que caracterizam as nossas vidas, as nossas relações afetivas nessa diáspora de dor.
Assim, Canções de Amor e Dengo é árvore que faz sombra às nossas raízes, voz poética que ressoa beleza em nossos corações.
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