O poder econômico da China em África – um novo colonialismo consentido e desejado?

 

 

Cada vez mais a China  afirma seu poder econômico na África, tendo o respectivo comércio (exportações mais importações) aumentado a uma cadência média anual de 16,4% entre 1995 e 2012, de acordo com as estatísticas da Global Trade de finais de 2013.

Esta taxa média anual de incremento das trocas comerciais foi superior à averbada pelas trocas comerciais entre a China e o mundo (12,2%) e também à registada por outros espaços comerciais, incluindo os Estados Unidos.

As exportações chinesas para África têm, do mesmo modo, crescido na base de ritmos anuais impressionantes, expressos por taxas médias de cerca de 17%, superiores às que a China regista para o mundo e para as principais economias desenvolvidas.

Ou seja, para a China, a África é um parceiro verdadeiramente estratégico, sem a contribuição do qual os ritmos de crescimento da sua economia poderiam ser bem menores aos conhecidos. A ajuda pública que a China concede a África, através do FOFAC, está amplamente garantida para si através dos extraordinários ganhos provenientes do comércio China-África. De resto, um modelo semelhante ao que as ex- -potências coloniais praticaram durante quase cinco séculos de presença europeia nos diferentes países africanos.

São estas exportações que constituem um risco evidente para as economias africanas em termos de emprego, desenvolvimento do empreendedorismo local e aprofundamento das relações agricultura-indústria, tão fundamentais para o adensamento da malha produtiva e a integração económica africana. Claro que estas podem, do mesmo modo, ser encaradas como uma oportunidade à implantação de outras actividades económicas nos países africanos.

No entanto, estarão sempre condicionadas pelas fraquezas institucionais, pela falta de capacidade empresarial, pelo subdesenvolvimento do capital humano, pela inexistência de capital de conhecimento e pela dependência de capital financeiro.

Mas o que verdadeiramente faz movimentar a China e os seus interesses estratégicos são as matérias-primas e os produtos de base africanos. Afinal, é o que também fez mover os países ocidentais e, em particular, as antigas potências coloniais, levando a pensar que se pode estar na iminência ou no limiar de um novo colonialismo em África (há sectores de opinião em Angola que pensam assim, bem como em relação à cooperação Angola-Brasil e Angola-Portugal, bem mais lucrativa e interessante para o Brasil e Portugal do que para Angola).

A visão chinesa da sua segurança energética levou as autoridades políticas e as empresas (públicas e privadas) a estabelecerem acordos de exploração de petróleo e de gás, com o objectivo de exportarem estes produtos para a China.

No fundo, um modelo de negócio em que os países africanos trocam a exportação de bens intensivos em recursos naturais (commodities agrícolas, energéticas e minerais) por investimentos em infra-estruturas, assegurados pelas empresas chinesas.

Mas este negócio não é transparente. Na verdade, os países africanos – pelo menos os que seguem o denominado Angola Mode – não chegam a ver o dinheiro, o que equivale a dizer que o mesmo não sai da China e não dá entrada nos sistemas bancários e financeiros africanos: o financiamento das obras é dado directamente pelas entidades chinesas às empresas chinesas que ganharam os concursos, que, por sua vez, entregam as obras às autoridades africanas, que serão pagas em contrapartida de exportações de bens energéticos ou minerais; ou seja, pensa-se que, não se vendo a cor do dinheiro, os apetites de corrupção diminuem.

A carência de recursos energéticos, de matérias- -primas minerais e a falta de terra determinaram a construção duma certa visão enquadradora do relacionamento político e económico com África. Para determinados investigadores, o modelo de relacionamento China-África não tem nada de substancialmente diferente do tradicional Norte-Sul, ou mais restritamente, Europa-África, baseado na exportação de manufacturados, na importação de matérias-primas e de produtos de base (petróleo e minérios diversos, essencialmente).

Os elementos novos são o financiamento em grande escala e a emigração em grande dimensão. A China tem uma política africana simples: quer matérias- -primas e produtos de base, paga bem e é-lhe indiferente a moralidade política dos regimes com quem estabelece relações.

O seu próprio regime tem padrões morais diferentes dos estipulados pelos valores do Ocidente e, segundo aqueles, violações dos direitos humanos são questões de lana-caprina (só assim se entendendo a cooperação com regimes ditatoriais africanos, como o do Zimbabué, e desrespeitadores de princípios humanitários elementares, como o do Sudão).

O crescimento do poder económico e financeiro da China é, aparentemente, imparável – pelo menos nas próximas décadas (a China passou a ser a economia que mais exporta no mundo, tendo destronado a Alemanha) – e a falta de democracia, além de facilitar os negócios em África e com os dirigentes africanos, não tem provocado grandes sobressaltos políticos internos, embora alguns analistas considerem que esta bolha possa explodir a qualquer momento e pôr em causa o próprio crescimento económico do país. No mundo multipolar, o pólo chinês vai ser cada vez mais forte, e o pólo europeu irá perdendo força.

 

 

Fonte: Ango Notícias

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