Recebemos esse texto e a autora nos pediu para não se identificada porque teme reações. Segundo ela, essa é apenas a sua visão sobre o que acontece com as jovens grávidas no país.
Texto de M. O., do Blogueiras Feministas
O que acontece depois que uma mulher jovem e grávida decide não abortar?
Eu posso responder essa pergunta.
Em um domingo comum, durante o café-da-manhã, com gentilezas habituais e poucos assuntos, parti o coração dos meus pais. Eu tinha 19 anos e estava grávida. Minha voz soou tranquila, mas eu estava desesperada.
Eu era uma menina como tantas outras, nada de especial. Recebia todos os mimos que uma menina de classe média pode receber, tinha uma ótima educação e era um orgulho. Inteligente e muito responsável.
E como tantas outras meninas, eu transava. Até que alguma coisa falhou, não deu certo, eu errei.
Ao descobrir que estava grávida vi todos os meus sonhos indo embora, correndo para longe sem despedidas. Entrei na faculdade com 16 anos, estava quase me formando, faltava tão pouco. Tinha planejado por meses um intercâmbio, tudo certo, tudo pago.
Não mais.
Eu não queria ter um filho, mas não tinha a menor ideia de como parar uma gravidez. Eu sabia que se não fizesse alguma coisa me arrependeria para o resto da vida, mas eu não fiz. Eu tive meu filho. E me arrependi.
Acho que não consegui sair ilesa de toda a formação católica que recebi. Queria abortar, mas a culpa me consumia.
E quanto à pergunta no começo do texto?
Bom, as jovens que decidem não abortar recebem o mesmo tratamento dado as jovens que abortaram.
Durante toda a minha gravidez eu fui recriminada, questionada, julgada, sem a menor consideração. Por vizinhos, amigos, familiares, professores, médicos, vendedores, por todos.
A minha barriga era o sinal verde que dava a todas as pessoas a minha volta o direito de me insultar. Eu era uma menina comum, um orgulho para os meus pais e virei uma puta. Uma puta grávida.
Vivi os piores dias da minha vida, me tranquei em um buraco emocional difícil de sair. Eu não sentia nada por aquele bebê, eu não queria aquele bebê.
Quando meu filho nasceu eu chorei, mas não foi por ter sido consumida pelo maior amor do mundo, pelo amor que cura todas as feridas e te recompensa pelos percalços que virão. Eu não senti nada disso, eu estava desesperada por ter um bebê para cuidar.
Com tempo e muita persistência/insistência esse amor chegou. Foi difícil, mas ele veio e é sim algo muito especial. O doce de cada dia.
Mas não é gratuito é conquistado. Ser mãe não é maravilhoso é um trabalho ardoroso, muitas vezes ingrato. Um trabalho que só deveria ser executado por quem realmente tem vontade e fim.
Meus sonhos fugiram mesmo, não consegui recuperar. Hoje tenho uma vida boa, moro com meu filho e sou independente.
Todos os dias são difíceis. Tenho 23 anos e ter decidido não abortar não me fez melhor, não gerou compreensão e ainda sou muito recriminada por isso.
Não abortar não fez de mim uma pessoa digna de respeito para a maioria dos conservadores de plantão. O motivo principal de toda a revolta que se estabelece em torno do aborto é a mulher ter o direito de querer transar e não o bebê em si. Isso é só uma máscara.