O que a imprensa internacional está a escrever sobre Meghan Markle

O casamento do ano está a dar que falar por todo o mundo. Como vê a imprensa internacional a futura mulher do príncipe Harry? Divorciada, afro-americana e feminista, Meghan vem quebrar tradições.

Do Observador

Chris Jackson/Getty Images

Há sete anos, milhares de pessoas contavam os minutos para verem o príncipe William dar o nó com Kate Middleton. Nas ruas de Inglaterra ou na televisão, todos tinham os olhos postos naquele que era o casamento do ano. Estamos em 2018 e o cenário volta a repetir-se: no sábado, 19 de maio, as atenções vão estar centradas no príncipe Harry — o filho mais novo de Carlos e Diana — e em Meghan Markle.

A quatro dias do casamento real, as capas de vários jornais britânicos — The Sun, Daily Mail e The Guardian incluídos — foram invadidas pela ausência de Thomas Markle, que não vai marcar presença no casamento da filha, na sequência do escândalo que protagoniza. Polémicas familiares à parte, Meghan Markle tem sido a verdadeira preferência da imprensa britânica, que assegura que a ex-atriz vem quebrar tradições e mudar a família real depois do casamento.

“Um sinal de mudança”

Muito diferente de Kate Middleton, a noiva de Harry é filha de uma afro-americana, Doria Radlan, e de Thomas Markle, de ascendência holandesa e irlandesa. Cresceu em Los Angeles, na Califórnia, e é a primeira cidadã norte-americana a entrar para a família real britânica desde o casamento de Wallis Simpson com Eduardo VIII.

Mais recentemente, o The Guardian escreve que Meghan está a trazer esperança às mulheres negras no Reino Unido: “a expetativa é de que o efeito Markle tenha impactos inesperados, incluindo o aumento de oportunidades para as mulheres afro-americanas em termos de trabalho”. A aceitação de Meghan Markle na família real é motivo de entusiasmo, ela que é encarada como uma “uma inspiração” e um “símbolo de aceitação de mulheres negras na sociedade”. Do outro lado do mundo, nos Estados Unidos, o The Washington Post também se foca em Brixton e escreve que, ali, as pessoas dizem que o casamento “terá um grande impacto numa altura em que a imigração é um assunto tóxico”.

[Veja no vídeo os detalhes do casamento do príncipe Harry e Meghan Markle]

“Um romance real moderno” é como o The Guardian também se refere ao par romântico. Noutro artigo dedicado ao tema lê-se que este é um romance “mais relaxado, inclusivo” e que “está a ser vivido com entusiasmo” em Londres, em particular nas ruas de Brixton. As pessoas entrevistadas por esta publicação garantiram que o casamento de Harry com Meghan é “um sinal de mudança”, que mostra que a família real “está a abraçar a cultura”. Há, no entanto, quem considere o contrário: um sociólogo disse ao mesmo jornal que a ideia de que o casamento real seja bom para as relações raciais “é francamente ofensiva”. Já numa coluna de opinião no The New York Times, a feminista Maya Rupert conta como se tornou fã de princesas. Como mulher negra explica que as princesas normalmente eram sempre mulheres caucasianas e que isso bloqueia a forma de pensar das mulheres negras. Pelo facto de Meghan também representar esse avanço, no sábado Maya Rupert vai levantar-se às sete da manhã para assistir ao casamento real.

O The New York Times dedica ainda um extenso artigo ao potencial de influenciadora de Meghan Markle, que poderá mudar a perceção de marcas, mas também a imagem da família real britânica.

A ex-atriz divorciada

A dias de subir ao altar, o The Sun faz um apanhado das relações que a ex-atriz já teve. O jornal britânico escreve que esta não é a primeira vez que Meghan vai dizer: “Aceito”. A verdade é que casou com o produtor norte-americano Trevor Engelson em 2010, seis anos depois de se terem conhecido. O casamento, contudo, acabou em divórcio três anos depois. Mas há mais, a futura esposa de Harry esteve também com o chef canadiano Cory Vitiello, entre 2014 e 2016. Meghan conheceu Harry no verão de 2016.

O jornal El Español, por exemplo, publicou uma longa entrevista com Andrew Morton — o autor da biografia não autorizada de Meghan Markle e da polémica biografia de Diana, que contou com entrevistas da própria princesa –, em que diz que o facto de ser divorciada faz com que pareça que a família real está mais próxima de uma sociedade moderna e multicultural.

Numa coluna de opinião do The Washington Post escreve, por exemplo, que o casamento é um marco evolutivo na monarquia britânica, recordando o polémico caso de Eduardo VIII, que pediu a socialiteamericana Wallis Simpson — divorciada do primeiro marido e prestes a divorciar-se do segundo — em casamento, tendo abdicado do trono por amor. Na altura, era proibido o casamento de pessoas divorciadas enquanto os ex-companheiros ainda estivessem vivos, mas ao longo dos tempos a evolução tem sido grande e os divórcios têm vindo a aumentar. “Três dos quatro filhos da rainha divorciaram-se”, lê-se na mesma publicação. O Express, por sua vez, refere que o facto de Meghan ser divorciada não é um assunto tão complexo como seria há uns anos, porque Harry é “o sexto na linha de sucessão ao trono”, o que faz com que tenha “muito mais liberdade”.

A Diana 2.0 que é uma pessoa “fria”

Na entrevista ao El Español, Morton afirma que Meghan tem uma “obsessão pela princesa Diana”, tendo chegado mesmo a decorar partes do livro “Diana: Sua Verdadeira História”. O escritor diz que as duas vêm de famílias desestruturadas e que ambas desenvolveram o seu lado humanitário de forma muito independente — ainda que, no caso de Diana, fosse a uma escala muito maior. Andrew Morton reforça ainda que Meghan vai com certeza dedicar-se aos direitos das mulheres e a questões feministas.

Recorde-se que na primeira entrevista que Meghan e Harry deram depois de anunciarem o noivado, à BBC, a ex-atriz disse que não conhecia a família real britânica da mesma forma que muitos conhecem: “Só porque trabalhei em entretenimento, acham que tenho de saber como funciona este mundo. Estive sempre focada no meu trabalho. Nunca li muita imprensa, para o bem e para o mal”, disse sobre a forma como olha para a família real.

A Vanity Fair dedica também um longo artigo em que recupera as ações humanitárias que fizeram de Diana a princesa do povo e questiona a forma como será vista a esposa do príncipe Harry. No livro “Meghan Markle — Uma Princesa de Hollywood”, Morton refere que Meghan ambiciona ser “uma princesa Diana 2.0”. Apesar de ser uma pessoa “fria e calculista”, escreve Morton, sempre se dedicou “a causas filantrópicas”. O escritor britânico diz que Meghan sempre teve um fascínio pela princesa do povo — “não só pelo seu estilo, mas pela sua missão humanitária independente, vendo-a como um modelo a seguir” e que é uma mulher moderna, com uma carreira de êxito que sempre tentou marcar a diferença.

Meghan e o Brexit

No artigo Vanity Fair já citado é feita ainda referência ao momento importante em que Markle chega à família real, com o Brexit finalmente a acontecer no próximo ano: “A retórica nativista e xenófoba subjacente à campanha do Brexit expressa a mensagem de que uma pessoa de cor não pode ser britânica. Markle, que vai ser uma cidadã britânica, é exatamente a prova  do oposto”. O Indian Express, por seu lado, escreve que a festa de sábado é um motivo de união nacional no Reino Unido, que tem estado dividido com a questão do Brexit.  E quanto ao Brexit, Andrew Morton é perentório: “Depois do Brexit, quando a Grã-Bretanha precisa de todos os aliados que encontrar, este casamento vai ajudar a consolidar as estreitas relações entre os dois países [Grã-Bretanha e Estados Unidos]”.

A verdade é que as atenções vão continuar focadas no casamento real e em Meghan Markle, a feminista que vai integrar a família real britânica depois de já ter sido casada. A mulher que “vai mudar a família real britânica” ainda vai fazer correr muita tinta nos próximos dias e, claro, no derradeiro 19 de maio. Percorra a fotogaleria para ver as o que os jornais internacionais têm vindo a dizer.

+ sobre o tema

Passeio pela mostra “Um defeito de cor”, inspirada no livro de Ana Maria Gonçalves

"Eu era muito diferente do que imaginava, e durante...

Taís faz um debate sobre feminismo negro em Mister Brau

Fiquei muito feliz em poder trazer o feminismo negro...

Canal de Oprah Winfrey tem lucro abaixo do esperado

A Discovery divulgou nesta terça-feira lucro trimestral abaixo das...

PROMOÇÃO: #QueroSerDJ dará 2 bolsas de estudo para interessados em discotecagem

Quer fazer um curso de DJ na faixa? Então se liga...

para lembrar

Caneladas do Vitão: Uma vez Anielle, sempre Marielle 2

Brasil, meu nego, deixa eu te contar, a história...

Cida Bento – A mulher negra no mercado de trabalho

Sinceramente eu nunca dei para empregada domestica acho que eu...

Primeira vereadora negra eleita em Joinville é vítima de injúria racial e ameaças

A vereadora Ana Lúcia Martins (PT) é a primeira...

Representantes da AMNB fazem reunião com ministra Luiza Bairros

Por volta do meio dia desta quinta-feira (14), as...
spot_imgspot_img

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Quem é Linda Martell, citada em “Cowboy Carter”, novo álbum de Beyoncé?

O esperado novo álbum de Beyoncé contém uma música que leva o nome de uma mulher que parece ter sido a inspiração para o projeto. “Act...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...
-+=