O bloco unidos-do-zero-zero terá responsabilidade na escolha do vencedor
Por Flavia Oliveira, do O Globo
O futuro, como ensina o ditado aqui adaptado ao candomblé, a Olorum pertence. Amanhã, os cariocas saberão qual dos Marcelos comandará a capital fluminense de 2017 a 2020. Freixo (PSOL) e Crivella (PRB) encarnam projetos políticos antagônicos. De um lado, a resiliência das forças de esquerda, após uma crise que tirou o PT do poder e ameaça a existência do próprio partido que governou o país por 13 anos, até maio passado. De outro, o modelo conservador nascido da Igreja Universal do Reino de Deus catapultado ao cenário nacional, se vitorioso na segunda maior cidade do país, ainda outro dia centro das atenções mundiais como sede dos Jogos Olímpicos 2016.
É troféu valioso o Rio de Janeiro. Os cariocas vão às urnas neste domingo para escolher o substituto de Eduardo Paes, o peemedebista que interveio na cidade como (quase) nunca antes, mas a quem foi negada a chance de emplacar o sucessor. Objetivamente, é essa a missão. Simbolicamente, ela é maior. O segundo turno carioca acenderá o farol para o Brasil. O que acontecer na cidade será determinante para os rumos, os arranjos, as alianças da política nacional nos próximos anos.
Não é pequena a responsabilidade dos quase 4,9 milhões de eleitores habilitados a votar. Maior será se os 2,1 milhões, que faltaram ou votaram nulo e branco no primeiro turno, repetirem o ato. O bloco unidos-do-zero-zero, por omissão, terá responsabilidade na escolha do vencedor, uma vez que estaria em número suficiente para mudar o resultado do pleito.
Há pouco a ser dito. Ao longo deste outubro, as informações circularam, o diálogo com outras forças políticas se intensificou, os programas de governo foram aprofundados e/ou adaptados, as justificativas se apresentaram. Freixo, num aceno ao centro, se comprometeu em carta com princípios da gestão pública responsável e respeito aos contratos, nos moldes do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na “Carta ao povo brasileiro”, decisiva para a eleição do petista em 2002.
Crivella dedicou o segundo turno a negar o passado de discursos e atos explícitos de preconceito e intolerância em relação principalmente aos LGBTs e aos devotos das religiões de matriz africana. Ocupou-se ainda de repetir a promessa de cuidar da população, estratégia bem sucedida no primeiro turno por demarcar de um jeito simples e claro a oposição à gestão “desumanizada” de Paes.
Ao vencedor, o Rio de Janeiro. Que ele seja capaz de gerir a cidade na direção da igualdade, da justiça, do respeito à diversidade, de mais oportunidades de trabalho e renda, de serviços públicos de qualidade, do desenvolvimento sustentável.
Bom voto.