Objetificação da mulher em comerciais é tão ruim que afeta até os homens, diz estudo

Os estudos acadêmicos podem ser fascinantes – e confusos. Resolvemos deixar o jargão científico de lado e explicar os estudos para você em linguagem simples.

por Rebecca Adams no Brasil Post

O pano de fundo

Estima-se que as pessoas vejam até 5.000 anúncios e comerciais por dia, muitos dos quais apresentam as mulheres de maneira que as converte em objetos sexuais.

Há exemplos altamente ofensivos, como os infames comerciais da Carl’s Jr., e outros mais sutis, como os anúncios da American Apparel que sexualizavam uma modelo de camisa unissex, enquanto um modelo homem usava a mesma camisa abotoada até em cima.

Alguns anúncios tratam o estupro e a violência doméstica como se fossem brincadeira; outros reduzem a mulher a um par de seios, e há anúncios que arbitrariamente incluem uma mulher quase nua simplesmente seguindo o raciocínio “por que não?”.

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Estudos sugerem que, quando mulheres são expostas a esse tipo de anúncio em grande quantidade, podem interiorizar o valor que é atribuído à sua aparência, e isso pode levá-las a sentir-se insatisfeitas com seus próprios corpos, conduzindo à baixa autoestima, transtornos alimentares e depressão. Mas, e os homens? Será que também eles são afetados por esses retratos redutores das mulheres?

Em um novo estudo, pesquisadores do The College of Saint Rose e da University of South Florida estudaram a relação complexa entre comerciais que objetificam sexualmente o corpo da mulher e o efeito que eles exercem tanto sobre as mulheres quanto sobre os homens diariamente bombardeados com eles.

A pesquisa

Os pesquisadores reuniram 437 homens e mulheres de 18 a 25 anos para observar suas reações a comerciais em um laboratório (mas o que foi dito aos participantes era que iam apenas examinar “a eficácia de diversos tipos de anúncios”).

Primeiro os participantes tiveram que relatar quantas horas por semana passavam assistindo à televisão, navegando na Internet, nas redes sociais, lendo jornais ou revistas, vendo pornografia ou jogando videogames.

Depois tiveram que anotar em que grau concordavam com afirmações como “eu queria que meu corpo se parecesse com o de modelos que aparecem em revistas”, para avaliar até que ponto interiorizavam os ideais culturais de aparência, e fazer uma tarefa de associação de palavras para medir seu grau de insatisfação com seu próprio corpo.

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Depois disso os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Um deles veria seis anúncios que objetificavam sexualmente a mulher e outro veria seis anúncios que não o faziam (segundo testes feitos previamente pelos pesquisadores).

Em seguida os pesquisadores pediram a todos os participantes que respondessem a algumas perguntas sobre as mulheres nos anúncios e então voltassem a anotar seu grau de satisfação com seu próprio corpo.

As descobertas

Os pesquisadores descobriram que os homens e as mulheres que interiorizavam os ideais culturais de aparência apresentaram grau mais alto de insatisfação corporal depois de assistir a comerciais que convertiam mulheres em objetos sexuais. O efeito era maior para as mulheres, mas também se aplicava aos homens. Essa tendência não foi constatada entre o grupo que assistiu aos comerciais neutros.

De acordo com os pesquisadores, “pode ser difícil generalizar essas descobertas para além da população adulta jovem”, porque a pesquisa foi feita apenas com participantes na faixa dos 18 aos 25 anos. E a pesquisa refletiu apenas uma queda de curto prazo no grau de satisfação com o próprio corpo; logo, são necessários mais estudos para ver por quanto tempo duram os efeitos nocivos.

Conclusão

As descobertas sugerem que, quando as pessoas falam da objetificação sexual nas mídias, é importante levar em conta que comerciais sexualizados podem prejudicar não apenas às mulheres, mas também aos homens.

O reconhecimento de que a autoestima dos homens pode ser afetada por imagens degradantes de mulheres pode ajudar a fazer a discussão avançar e pode levar a avanços (por exemplo, menos anúncios que minimizam a gravidade do estupro ou da violência doméstica ou que reduzem a mulher a um par de seios ou a retratam sem roupa de modo gratuito).

Sem falar que os homens cuja imagem corporal é negativamente afetada por esses anúncios poderiam buscar ajuda se precisassem disso.

Em última análise, todos são prejudicados quando as mulheres são reduzidas a objetos sexuais.

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