Ocupação Abdias Nascimento na Kaza 123 (RJ) celebra legado de Carolina Maria de Jesus, Abdias e Marielle Franco

Enviado por / FonteEnviado ao Portal Geledés

O 14 de março carrega importante simbolismo à luta Negra no Brasil não é de hoje. Nessa data, em 1914, nasceram a escritora Carolina Maria de Jesus e o ativista Abdias Nascimento; em 2018, morreram a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, brutalmente assassinados em crime ainda não desvendado. Quem mandou matar Marielle? Por lei estadual no Rio de Janeiro, o dia 14 de março é Dia do Ativista pelo aniversário de Abdias, e Dia Marielle Franco de Luta contra o Genocídio das Mulheres Negras. 

Como parte da agenda coletiva 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo, a Kaza 123 e o IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros realizam a Ocupação Abdias Nascimento na KAZA 123. O evento tem o propósito de preservar a memória de Carolina, Abdias e Marielle, além de celebrar a vida, a ancestralidade e a continuação do legado deles, que reverbera e traz esperança atualmente na luta pela valorização da cultura negro-africana e contra o genocídio do povo negro. A atividade terá o formato híbrido, com atividades presenciais e transmissão ao vivo pelo canal do IPEAFRO no Youtube, retransmitida pelo canal coletivo 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo

A Ocupação será realizada em formato de sarau cultural e trará diversos convidados para a celebração. A atriz e jornalista Lica Oliveira apoia  a produção e será  a mestre de cerimônia. Na ocasião, será lançado o livro Abdias Nascimento, a luta na política, de Elisa Larkin Nascimento, publicação da Editora Perspectiva. A autora, que é fundadora do IPEAFRO e viúva de Abdias Nascimento, participará, virtualmente, de um bate papo com o público mediado por Lica Oliveira, com início às 17h.

Em seguida, leituras dramatizadas de poemas e textos de Abdias Nascimento e Carolina Maria de Jesus serão interpretadas pelos atores Deo Garcez, Thiago Justino e Cida Moreno. Serão exibidos vídeos produzidos com base no acervo IPEAFRO, ressaltando trabalhos de Abdias ligados ao Museu de Arte Negra (1950) e Teatro Experimental do Negro (1944). Além disso, haverá, também, homenagem à memória de Marielle Franco.  O artista plástico Vander Gomes executará pinturas em tempo real e apresentações musicais dos artistas Anselmo Pianista e Mombaça embalam o evento. O roteiro e a direção artística da Ocupação Abdias Nascimento na KAZA 123 tem a assinatura de Ângelo Flávio, diretor, ator e dramaturgo baiano.

DECLARAÇÕES

“A Kaza123, orgulhosamente, aceitou o convite do IPEAFRO para ser morada de grandes personalidades da história do nosso país. Celebrar Abdias, Carolina e Marielle em uma data tão significativa, e dentro de uma ação tão importante como a “21 Dias de Ativismo Contra o Racismo”, nos enche de orgulho e gratidão. Jogar luz sobre narrativas negras e enfatizar o protagonismo negro em grandes feitos é a nossa missão. Neste 14 de março de 2022, sejam muito bem-vindos, bem-vindas e bem-vindes à Ocupação Abdias na Kaza123”, afirma Lica Oliveira, atriz e jornalista, fundadora da Kaza 123.

“A Campanha foi elaborada em 2016, teve muita adesão e virou uma campanha coletiva. A primeira edição foi em 2017. Em 2018, a Marielle Franco fez uma atividade na Casa das Pretas e, ao deixar o lugar, foi executada a caminho de casa, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Desde 2019, colocamos na agenda o dia 14 de março em homenagem à Marielle Franco. Depois, com a informação do IPEAFRO sobre Abdias Nascimento e Carolina de Jesus, acrescentamos essa justa homenagem a esses ícones da Cultura Negra”, afirma Luciene Lacerda, psicóloga, criadora e articuladora da agenda coletiva 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo”, afirma Luciene Lacerda, psicóloga, criadora e articuladora da agenda coletiva 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo.

“No 14 de março de 2018, o IPEAFRO estava na UFBA em uma mesa de debates em torno do lançamento da nova edição do livro O Genocídio do Negro Brasileiro, de Abdias Nascimento. Tivemos parceiros como o Coletivo Luíza Bairros da UFBA, o Sarau da Onça e o Quilombo Rio dos Macacos. Observamos ali a coincidência dos nascimentos de Abdias e Carolina Maria de Jesus, e no final do dia, recebemos a notícia do brutal assassinato da vereadora da Marielle Franco no Rio de Janeiro. O impacto pesado desse fato nos fez pensar sobre o fluxo trágico e vitorioso das gerações do povo preto. Massacradas pelo sistema, ainda assim seguem construindo e reconstruindo a vida em liberdade: o quilombismo, no conceito do professor Abdias Nascimento. Desde então, o IPEAFRO rememora esse ciclo no dia 14 de março para celebrar a luta e o legado que liga essas sementes”, afirma Elisa Larkin Nascimento, diretora do IPEAFRO.

SEMENTES

Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977)

Escritora mineira, nascida em Sacramento (MG) em 14 de março de 1914, mesma data e região geográfica em que nasceu Abdias Nascimento. Sofreu um episódio de racismo violento em sua cidade, quando foi acusada injustamente de roubo. Foi presa e espancada continuamente até que, por outros meios, o dinheiro aparecesse. Inocentada, mudou-se para São Paulo, onde chegou caminhando a pé. Morou na favela do Canindé, às margens da marginal do Tietê. Teve três filhos. Cuidou deles só. A fome fazia parte do cotidiano da família. Eis a inspiração dramática para seus escritos. Catando papéis, ela tirava o mínimo  sustento da família. Desses papéis também tirava pedaços de folha onde escrevia suas memórias, textos, poesias e sonhos. Um dia, o jornalista Audálio Dantas foi fazer uma matéria para a Folha de São Paulo sobre a vida na favela. Encontrou-se com Carolina Maria de Jesus, soube de sua história, leu seus textos, ficou admirado. Publicou a história de Carolina no jornal. Dois anos mais tarde, em 1960, o jornalista reuniu os textos de Carolina em Quarto do Despejo, livro que virou best-seller. Vendeu 3 milhões de livros no Brasil e 4 milhões em 15 países do exterior. É a escritora brasileira mais publicada no mundo. Carolina não deixava ninguém falar por ela. Morreu no ostracismo em 1977.

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

Político, escritor, jornalista, teatrólogo, professor. Nasceu em Franca (SP). Fundou o Teatro Experimental do Negro, em que pessoas negras pisaram nos palcos do Teatro Municipal e outros do Rio de Janeiro pela primeira vez. Dirigindo, atuando e produzindo uma peça em que o papel principal foi feito por um ator negro. Abdias Nascimento foi o principal organizador do primeiro Congresso do Negro Brasileiro. Fundou o jornal Quilombo. Atuou como curador do projeto do Museu de Arte Negra. Foi perseguido politicamente e preso diversas vezes por resistir ao racismo. Viveu 13 anos em exílio durante a ditadura militar no Brasil. Voltou ao país e foi o primeiro parlamentar negro da Câmara dos Deputados. Fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). Participou da construção e promulgação da Constituição Cidadã em 1988. Defensor da democracia e dos direitos humanos das populações negras, foi oficialmente indicado ao Nobel da Paz. Autor de “O Genocídio do Negro Brasileiro”e “O Quilombismo”, clássicos do pensamento social brasileiro, ele atuou ainda como secretário de Estado e Senador da República. 

Marielle Franco (1979 – 2018)

Marielle Franco foi uma política brasileira. Formada em Sociologia (pela PUC-Rio) e com Mestrado em Administração Pública (pela UFF). Eleita Vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) no ano de 2016, com 46.502 votos. Enfrentou as milícias sem medo. Denunciou policiais corruptos. Defensora dos direitos humanos, coordenou, junto com Marcelo Freixo, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ao longo do período em que atuou como vereadora apresentou 16 projetos de lei, especialmente pensados em políticas públicas para negros, mulheres e LGBTI. Mãe, mulher negra de favela, mãe, lésbica. Foi assassinada ao lado de seu motorista Anderson Gomes em um 14 de março, em crime ainda não desvendado. O caso talvez seja o mais relevante atualmente para se compreender o contexto da política nacional e de como funcionam os mecanismos de racismo no Brasil. 

SOBRE IPEAFRO

Há 40 anos o IPEAFRO vem se dedicando a preservar e difundir o acervo museológico e documental de Abdias Nascimento e das organizações que ele fundou ao longo de 97 anos de vida: Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944, jornal Quilombo, em 1948, Museu de Arte Negra (MAN), em 1950, além do próprio IPEAFRO, em 1981. Nossa missão é desenvolver, a partir do conteúdo desse acervo, ações de caráter educativo centradas no conhecimento e na valorização da história e cultura africanas e afro-brasileiras; combater o racismo no mundo.


SOBRE KAZA 123

A Kaza123 é um espaço acolhedor, como toda casa deve ser. Aqui respiramos o melhor cheirinho e saboreamos o melhor tempero do Angurmê Culinária, trocamos saberes inspirados nos melhores títulos da Livraria Kitabu, e mergulhamos na arte, na cultura, na moda e na beleza, com a Complexo B, Andrea Brasis e Espaço L.O. Situada no coração do bairro de Vila Isabel, na Zona Norte da capital fluminense, no Rio de Janeiro. 

SOBRE 21 DIAS DE ATIVISMO CONTRA O RACISMO

A campanha 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo! parte de referência histórica: em 21 de março de 1960, o apartheid, regime racista na África do Sul, assassinou 69 jovens e feriu outros 186 em uma brutal repressão do Estado frente a uma manifestação pacífica, organizada pelos negro-africanos. O episódio ficou conhecido como o “Massacre de Shaperville”. Apesar desse episódio, o regime de segregação racial adotado na África do Sul durou até 1994, em um total de 46 anos de leis racistas vigentes naquel país. A eleição de Nelson Mandela, que passou 27 anos como preso político, naquele 1994 entraria para história. A ONU – Organização das Nações Unidas – considera a data do Massacre de Shapperville o Dia Internacional Pela Eliminação da Discriminação Racial. No Brasil a realidade não é diferente. Estatisticamente, um jovem negro é morto a cada 23 minutos. A campanha 21 DIAS DE ATIVISMO CONTRA O RACISMO! caminha em direção a promoção de atividades construídas de forma autônoma, com ações e discussões que mantêm vivas as conquistas recentes, além de  ampliar as discussões do que ainda é necessário avançar para a verdadeira libertação das populações negras no mundo. Durante 21 dias, em março, atividades organizadas por ativistas no Brasil e no exterior apresentam propostas e soluções para o combate ao racismo.

SERVIÇO

Ocupação Abdias Nascimento na KASA 123

Realização: IPEAFRO, Kasa 123 e 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo

Data: 14 de março de 2022
Horário: 17h

Local (presencial): Rua Visconde de Abaeté, 123, Vila Isabel, Rio de Janeiro
Local (remoto): Youtube IPEAFRO e 21 Dias de Ativismo Contra o Racismo https://www.youtube.com/c/IPEAFRO/featured / https://www.youtube.com/c/21DiasAtivismoContraoRacismo 

Entrada: gratuita

+ sobre o tema

Ronaldinho Gaúcho diz que viveu seus melhores anos no Barcelona

Em carta à torcida, Craque se mostrou emocionado ao...

Ilú Obá De Min convida para 6ª edição do Heranças Africanas

    Olá amigos e amigas do Ilú Obá De Min,...

Willow Smith tenta emplacar mais um hit com o single 21st Century Girl

Willow Smith tenta emplacar mais um hit. Depois do...

para lembrar

Abdias Nascimento: 13 de maio uma mentira cívica

Discurso proferido pelo Senador Abdias Nascimento por ocasião dos...

Dez grandes intelectuais brasileiras

No Dia Internacional da Mulher de 2021, vivemos tempos...

Nota da Plataforma Dhesca sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco

A Plataforma Dhesca Brasil manifesta indignação e pesar pelos...
spot_imgspot_img

“Perda de aulas por tiroteios na Maré agrava desigualdade”

Desde 2014 à frente da editora Caixote, a jornalista e escritora carioca Isabel Malzoni mergulhou no universo das violências sofridas por crianças e adolescentes que moram no complexo...

Com a conivência do Estado

Enfim, foi da nefasta aliança entre crime, polícia e política no Rio de Janeiro, tão antiga quanto conhecida, que brotaram mandantes e, ao menos,...

Com a conivência do Estado

Enfim, foi da nefasta aliança entre crime, polícia e política no Rio de Janeiro, tão antiga quanto conhecida, que brotaram mandantes e, ao menos,...
-+=