Enredo e Samba: Beija-Flor convoca a todos para refletir sobre as questões urgentes de apoio à negritude

Carnavalesco Alexandre Louzada propõe um resgate de personagens pretos e de seus feitos de grande importância para a sociedade e que foram apagados pelos colonizadores europeus.

Beija-Flor de Nilópolis vai convocar a todos para refletir sobre as questões urgentes de apoio à negritude, na Sapucaí. Com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir da voz da Beija-Flor”, a escola luta para que a história de personagens negros, como Selminha Sorriso, Claudinho, Neguinho da Beija-flor Pinah, Laíla, gente da própria escola, não seja esquecida.

O enredo, segundo o carnavalesco Alexandre Louzada, é a proposta de um retorno às origens da civilização para que as pessoas possam ter noção da origem brilhante que o povo preto teve. E que foi apagada pela colonização europeia. Uma oportunidade para discutir e levar à reflexão sobre questões urgentes de apoio à negritude.

“O Egito não era como Hollywood mostrou, com Elizabeth Taylor. O Egito era negro. Foram os negros que construíram as pirâmides, a grande Biblioteca do Mali. A filosofia também nasceu na África e teve grandes artistas. Quando a gente propõe essa volta ao passado para resgatar sua origem, a gente começa a construir uma nova consciência. Empretecer o pensamento de até mesmo alguns negros que não têm noção da sua verdadeira história pelo apagamento que a colonização e a civilização branca impôs”, disse Louzada.

A porta-bandeira Selminha Sorriso, por exemplo, diz que tem orgulho de sua história.

“O samba me deu todas as oportunidades que eu sonhei. E hoje tenho gratidão por ser uma mulher preta, ex-moradora de comunidade, bacharel em direito, 1º sargento do Corpo de Bombeiros, mãe de um jovem. E porta-bandeira dessa escola de samba, que é uma escola de vida, que é a Beija-Flor de Nilópolis”, disse Selminha.

O enredo se propõe a dar destaque à verdadeira história dos negros e abordar questões urgentes de apoio à negritude, com seus personagens, na luta contra o preconceito, mostrando que ainda há muita desigualdade a ser vencida. E a Beija-Flor, como escola que tem grande participação da comunidade, quer começar, por exemplo, a enaltecer seus próprios heróis negros, como explica o diretor de criação André Rodrigues.

“O Cabana é um músico, um intelectual da música e do samba dos anos 1940, mas que principalmente vai ser um dos fundadores da Beija-Flor de Nilópolis. Ele vai reunir aqui na Baixada Fluminense, uma quantidade de negros embaixo de uma bandeira azul e branca. A partir desse momento, nesse enredo que a Beija-Flor começa a falar sobre Cabana e a importância da intelectualidade dele, como um homem que não é reconhecido, como vários sambistas não são reconhecidos como intelectuais, ela traz para si a responsabilidade de apresentar esse homem para o mundo. Ele ergueu a escola e hoje está sendo homenageado no desfile”, disse Rodrigues.

A porta-bandeira Selminha Sorriso, que tem uma projeto social para crianças na Beija-Flor, diz que é importante que as crianças entendam quem foi Cabana, Pinah, Neguinho da Beija-Flor, pessoas pretas que contribuíram não só para o samba, mas para a formação de Nilópolis.

“Nosso enredo é uma luta para que essas histórias não sejam contadas de formas diferentes para que os personagens não sejam esquecidos ao longo dos anos e que haja respeito e a educação é o grande viés para que isso aconteça: o respeito, a cidadania, a reparação. Eu sou sambista, eu sou brasileira, eu sou carioca, eu sou preta”, disse a porta-bandeira Selminha Sorriso.

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