Ode à bala perdida

Quando solta no mundo
Atravessando paredes
E muros
Do cano de metal
Observas a rotina

Nunca conhecestes
Condomínios e
Bairros de luxo
Nem sabe o cheiro
Do hidratante
Da pele da madame

Celebram a tua indiferença
Quando em aros perfeitos
Já há muito
Pinta alvos

As negras peles
Já a pressentem
E nem famílias
Nos dominicais passeios
Escapam das investidas
Pelotões verde-olivas
De valor cínico e massacre

Também ronda escolas
E gosta de ensinar
Lições de dor e sofrimento
Alvejar
Uniformes e estudantes
Das manchas de sangue
Nódoa irreparável
De truculência

Tem o poder
De calar
Vozes que insistem
Em dizer:
“A milícia está nua”
E não há roupa
Cristã ou conservadora
Que tape suas impudicícias
A vida estará presente!
Na franca luta
De nossos dias

Ainda te dizem perdida
No trottoir cego
Rondas misteriosas
Matagais e desaparecidos
Alguém os viu?!
Só a morte
Em seu vagar absoluto
Vendo de longe
A bala
Encontrando corpos
E fingindo não os ver

A paz armada selou o país…

(Tales Pereira)


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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