Organização de mulheres negras cobra poder público por ações de proteção social em meio à pandemia

Entidade lembra que crise cresce junto às populações mais vulneráveis e empurra para a miséria grupos que perdem renda e emprego

Do RBA

BORDADO: COLETIVO/ FOTO: ISANELLE NASCIMENTO

A Criola, organização de mulheres negras do Rio de Janeiro, publicou uma nota nesta quinta-feira (9) na qual cobra o Poder Público sobre a lentidão na execução das ações de proteção social, prevenção e cuidado frente à pandemia do novo coronavírus.

A entidade lembra que o contágio cresce junto às populações mais vulneráveis e empurra para a miséria outros grupos que agora perdem renda e trabalho. Dentro desse contexto de crise humanitária e econômica, as mulheres negras são um dos grupos mais vulneráveis.

A Criola diz que a renda emergencial, sancionada pelo governo federal e que prevê o pagamento de R$ 600, precisa ser implantada de modo simples e que possa chegar a todos. A entidade lembra que catadoras de lixo, produtoras rurais, quilombolas, ambulantes, domésticas, entre outras profissões, tem como maioria mulheres negras e precisam ser prioridade do programa.

“Hierarquizar o acesso à assistência emergencial é o mesmo que escolher quem morrerá primeiro, quer seja pelo impacto causado pela pandemia ou pela falta de água potável, comida e remédios”, diz a nota.

Carta das mulheres negras

No último dia 25, a Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), publicou uma carta sobre a Covid-19. O texto fala sobre a necessidade do auxílio emergencial para essa população, uma das mais afetadas pela crise provocada pelo novo coronavírus.

A organização também destacou a necessidade de uma atenção especial para a saúde das mulheres negras, já que o Brasil já mostrou a vulnerabilidade desse segmento da população durante epidemias locais. “O desastre da dengue e da chikungunya, atingindo majoritariamente as populações pobres e negras. O Zika Vírus no Brasil, ainda em curso, que impactou desproporcionalmente as mulheres e as meninas negras, principalmente, na região Nordeste e expôs antigos e graves problemas de direitos humanos”, explica.

A AMNB também critica a falta de orientações para a população periférica que não consegue aderir ao quarentena. “Ignoram completamente que é na convivência diária, solidariedade e no apoio comunitário que as vítimas da omissão do poder público se sustentam”, acrescenta a carta.

Novas ações

O Instituto da Mulher Negra Geledés começou a articular sua rede de Promotoras Legais Populares (PLPs) para ajudar no enfrentamento ao coronavírus. Segundo a entidade, a exigência do confinamento reduz as possibilidades das mulheres negras proverem as necessidades básicas de suas famílias, e aumenta o risco da violência doméstica.

A rede vai orientar e auxiliar as mulheres no acesso à Justiça e aos serviços de defesa de seus direitos. O Geledés ainda explica que as PLPs atuarão no levantamento de dúvidas e necessidades das mulheres das comunidades periféricas no acesso aos benefícios públicos; sobre as ações de solidariedade em suas comunidades e regiões; informações sobre violência doméstica, e orientações para a proteção de mulheres e crianças.

De acordo com Lúcio Antônio Machado Almeida Professor Universitário, doutor e mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), há uma lentidão do governo brasileiro para fazer frente a tais ameaças, que colocam em risco a população negra de um modo geral.

“A conduta de nossas autoridades para com a população negra, se confirmarem a iminente omissão, os nossos movimentos negros, em suas diversas facetas, terão que denunciar tais omissões institucionais aos organismos internacionais. Há, sem sombra de dúvidas, uma situação na qual a população negra mais pobre, que ainda é a maioria em nosso país, possa sofrer danos irreversíveis em sua vida cotidiana”, disse, em artigo publicado no Geledés.

+ sobre o tema

“Mulher de malandro” e a normalização da violência doméstica

"Mulher de malandro, aquela que apanha mas não deixa...

Juíza negra assume secretaria do CNJ e luta para não ser exceção

A cadeira da magistrada Adriana Cruz, 53, na 5ª...

Por que o ativismo das mulheres negras incomoda tanto?

Seja no mercado de trabalho ou cultura, a luta...

Discriminação impede que pessoas LGBT tenham acesso à saúde, alerta OPAS

Para Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), saúde universal significa...

para lembrar

Êxodo gay: preconceito afasta gays de locais intolerantes e não seguros

Um estudo realizado pelo site Consumer Affairs, dos Estados...

Mulheres em posições de chefia nas empresas podem gerar resultados até 20% melhores

Os resultados de empresas são melhores, às vezes em...

Central do Brasil recebe campanha de combate ao assédio sexual no transporte público nesta sexta

Público receberá orientações sobre como agir e vítimas serão...

Estereótipos sexistas também prejudicam os homens

Gostei muito deste artigo que Flávio Moreira (autor de...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: Sueli Carneiro vence na categoria Diversidade

Uma das maiores intelectuais da História do país, a escritora, filósofa e doutora em educação Sueli Carneiro é a vencedora na categoria Diversidade do...

Feira em Porto Alegre (RS) valoriza trabalho de mulheres negras na Economia Popular Solidária

A Praça XV de Novembro, no centro de Porto Alegre (RS), será palco de uma importante mobilização entre os dias 7 e 9 de...

Exposição de Laudelina de Campos recupera o trabalho doméstico na arte brasileira

Nomeada heroína da pátria em 2023, Laudelina de Campos Mello foi uma das mais importantes militantes pelos direitos das trabalhadoras domésticas no Brasil. Nascida em Poços de...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.