Orlando Silva sobre mudanças no PCdoB: “Hoje um partido comunista poderia ter um chip como símbolo”

Em entrevista exclusiva à Fórum, o deputado, membro do comitê central do PCdoB, diz que uma possível mudança de símbolos não tem relação com as propostas ou alinhamento político. “Não está em discussão a natureza de classe do partido, mas como você aprofunda a sua identidade com o povo brasileiro”

Por Julinho Bittencourt, da Revista Fórum 

Em entrevista exclusiva à Fórum, o ex-ministro e deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), membro do comitê central do PCdoB, explicou que a ideia de mudar a identidade visual do partido é exclusivamente para se aproximar da realidade brasileira. Orlando afirmou que, caso ocorra, a mudança buscará apenas atualizar a simbologia do partido e se aproximar da realidade brasileira.

“O que simbolizava a união dos trabalhadores do campo e da cidade, a foice e o martelo, são símbolos datados. Hoje um partido comunista poderia ter um chip como símbolo. Porque a expressão da mais-valia se dá com muita intensidade nos trabalhadores ligados à tecnologia”, disse.

Segunda ele, uma possível mudança de símbolo não tem relação com as propostas ou alinhamento político: “Não está em discussão a natureza de classe do partido, mas como você aprofunda a sua identidade com o povo brasileiro”.

O deputado garantiu que a discussão não pretende afastar o partido do ideal comunista, pois considera que é preciso enfrentar a pressão que traça a ideologia como autoritária. “A meu ver, você tem nas ideias comunistas essenciais as ideias mais generosas de promover igualdade de oportunidades, combater exploração”, comentou.

Quanto à possibilidade de a mudança se assemelhar a episódios anteriores em países europeus, Orlando disse que o partido não se inspira em semelhantes estrangeiros. De acordo com ele, o PCdoB quer ser “menos do que é o mundo e mais brasileiro. Esse é o nosso desafio principal”.

Apesar de considerar que a batalha também deve ser travada eleitoralmente, Orlando garantiu que a possível mudança da identidade do partido não será feita para 2020 e não há detalhes sobre quais seriam essas modificações. “Na próxima eleição as regras já estão estabelecidas”, afirmou. “Tem uma reflexão apenas sobre como a gente faz pra se aproximar mais da realidade brasileira.”

O deputado Orlando Silva (Foto: Luís Macedo/ Câmara dos Deputados)

Leia a entrevista na íntegra

Fórum: Existe essa discussão dentro do partido de mudar a cor, o nome, o símbolo?…
Orlando Silva: As formas mudam ao longo do tempo. O que simbolizava a união dos trabalhadores do campo e da cidade, a foice e o martelo, são símbolos datados. Hoje um partido comunista poderia ter um chip como símbolo. Porque a expressão da mais-valia se dá com muita intensidade nos trabalhadores ligados à tecnologia. É errado você se apegar cegamente a uma forma. O principal é: qual é o projeto político do partido? Que classe ele procura representar? Em que país? Então o que tá em debate é, não a natureza de classe do partido, mas como você aprofunda a sua identidade com o povo brasileiro. Repito, não está em discussão a natureza de classe do partido, mas como você aprofunda a sua identidade com o povo brasileiro.

Fórum: Vocês sentiram necessidade de se desligar desse fardo do anticomunismo, que hoje cresceu muito?
Orlando Silva: Eu não vejo como um fardo, porque a ideia comunista é a ideia de promover igualdade, igualdade de oportunidades.
Você tem uma campanha sistemática, que é feita há décadas, contra a ideia de comunismo, associando o comunismo a ideias autoritárias e temas afins. Mas, a meu ver, você tem nas ideias comunistas essenciais as ideias mais generosas de promover igualdade de oportunidades, combater exploração. Então, apesar de saber que tem essa pressão ideológica, eu creio que nós temos que enfrentar. Não me assusta esse tipo de pressão.

Fórum: Enfrentar eleitoralmente também, você acha?
Orlando Silva: É, porque é da vida, eleição é parte do serviço de quem faz política. No Brasil tem eleição ano sim, ano não. Então nós temos a obrigação de permanentemente… E outra, veja, os líderes principais do PCdoB, por exemplo, são associados à ideia do comunismo. Ninguém vai entender se eu chegar amanhã num bairro qualquer aqui em São Paulo e falar “veja bem, eu já não sou mais comunista”, porque as pessoas me veem como comunista, pela minha trajetória, pela minha experiência, pela minha militância. Então eu acho que isso é mais uma onda que tenta distorcer o sentido de buscar uma atualização do pensamento, das formas, que é diferente de romper com a trajetória secular.

Fórum: Mas já tem detalhes sobre isso?
Orlando Silva: Não, tem uma reflexão apenas sobre como a gente faz pra se aproximar mais da realidade brasileira.

Fórum: É exclusivamente isso?
Orlando Silva: Única e exclusivamente isso. Se alguém imagina que vai viver ou ver uma reedição do que foi, por exemplo, a mudança que o PCB viveu, esqueça, isso está fora de cogitação.

Fórum: Outras coisas similares aconteceram com partidos na Europa, por exemplo, o PC de Portugal foi um caso.
Orlando Silva: O PCI da Itália. Eu não vejo muito horizonte da experiência internacional não. O que nós queremos é ser mais brasileiro. Menos do que é o mundo e mais brasileiro. Esse é o nosso desafio principal.

Fórum: Isso tudo não é pra essa próxima eleição?
Orlando Silva: É que nem pode, na próxima eleição as regras já estão estabelecidas. Inclusive, na regra eleitoral você se apresenta com seu número, seu nome de partido ou de coligação. Então isso é tão especulativo que não levou em conta isso, você não pode, nem que queira, mudar o nome do partido durante a eleição, você tem que se apresentar com determinado nome.

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