Os exóticos canapum e brinjela silvestre, que é mato no Maranhão

Descobri pés de canapum em uns terrenos baldios, são três lotes, ao lado de minha casa. Quando os canapuns amadureceram, disse para minha neta Clarinha que eram “bombons da roça”. Ela queria retirá-los da capinha natural que os envolve para lavá-los: “Por causa das bactérias, não é, vovó?”. Respondi que “canapum colhido no pé não tem bactérias! Pode descascar e comer”.

Por: Fátima Oliveira no O Tempo 

Pense numa pessoa feliz! Eu, embasbacada com a “boca boa” com a qual minha neta degustava canapum, e me via criança em Graça Aranha! Fui às lágrimas. Ela adorou, e um dia pediu para colher um “montão” para levar para a escola. Sucesso absoluto porque ela os levou na embalagem natural!

Abreviando, canapum (Physalis angulata, a variedade brasileira), hoje, no mundo, é uma frutinha pra lá de chique, tida como exótica, é caríssima e se chama fisalis! Há iguarias francesas com fisalis que são de enlouquecer qualquer paladar…

Há quase um mês, em meu vizinho matagal, descobri dois pés do que no sertão chamávamos de “brinjela” (sim, berinjelas silvestres venenosas!), de folhas aveludadas e cheias de espinhos, que dão flores lilases com o centro amarelo e uma frutinha amarela do tamanho e em forma de pera, que é venenosa, nem passarinho come, pois contém princípios alcaloides indólicos, altamente tóxicos.

Todavia quando criança, colhíamos as “brinjelas” maduras e fazíamos “boizinhos/vaquinhas”, colocando pés, chifres e rabos com pedacinhos de gravetos… Era uma brincadeira de meninas e meninos. A disputa era de quem tinha mais gado em sua fazenda. Não retirávamos do pé as verdes, tanto que só brincávamos de fazenda quando estavam amarelinhas.

É uma planta praga na região em que nasci – e aqui também, pois os terrenos foram roçados há uns quatro meses e dá para perceber, pelos tocos, que havia muitos pés. Fiquei emocionada diante dos dois pés de “brinjelas”, pois há muitos anos não via aquela planta no mato. Eu a vi como planta ornamental exótica, cujo nome científico é <FI10>Solanum mammosum</FI>, no apartamento de uma amiga em Belo Horizonte, que trouxe sementes de uma viagem ao Japão, onde é chamada de “fox face”.

A amiga acrescentou toda prosa que na China é denominada de “berinjela cinco dedos” e é popular nas árvores de Ano-Novo para desejar boa sorte, por ter a cor do ouro, mas também em estamparia de tecidos para roupas. Em Taiwan e Hong Kong é a vedete de ornamentos florais em festas religiosas. Dizem que a frutinha venenosa tem valor medicinal para tratamento de pé de atleta e pode ser usada como detergente para lavar roupas! “É uma solanácea ornamental rara, da mesma família (Solanaceae) da berinjela, do pepino, da batata, da pimenta, do tomate e do tabaco”.

Já brigamos quando ela serviu como sobremesa um “doce raro” de canapum. “Raro?”, indaguei, gargalhando. E acunhei: é planta nativa da América do Sul que se aclimatou bem nas Grandes Antilhas, na América Central e no Caribe – um arbusto que chega até a dois metros de altura, podendo adotar o formato de trepadeira. Precisavam ver a cara de espanto dela quando falei que no Maranhão, pelo menos no sertão, era uma praga de terrenos baldios e se chamava “brinjela”. E no restante do Brasil tem vários nomes: vaquinha, teta-de-vaca, maminha-de-vaca, peito-de-moça, jurubeba-do-pará, juá-bravo, berinjela-de-cinco-dedos, cara-de-raposa…

“Fááááátima! Você já jurou que fisalis é mato de beira de estrada no Maranhão, e agora a minha solanácea rara virou ‘brinjela’ e é mato no Maranhão também”?!

Só falta ela saber que agora tenho dois pés em meu jardim…

+ sobre o tema

Salve Zumbi e João Cândido, o mestre sala dos mares

Por Olívia Santana   Há 15 anos, após uma grande marcha...

Olimpíadas de Tóquio devem ser novo marca na luta por igualdade

Os Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968,...

Matias, o menino negro fotografado com um boneco de “Star Wars”, foi a Hollywood. Por Cidinha da Silva

Em tempos de comunicação-relâmpago pela Web, a imagem viralizada...

para lembrar

Distribuição de recursos do fundo partidário no PSOL levanta debate sobre racismo na esquerda

Douglas Belchior, liderança do movimento negro de São Paulo...

Caneladas do Vitão: Uma vez Anielle, sempre Marielle 2

Brasil, meu nego, deixa eu te contar, a história...

As lutas por Direitos foi eleita ‘personalidade do ano’ pela revista Time

NOVA YORK (AFP) – A figura do "manifestante" foi...

Dizem que `num´pega, mas um dia ainda vão aprender que pega

Domingo passado, folheando revistas velhas, bati o olho numa...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...
-+=